sexta-feira, 14 de outubro de 2016

AS"BALEIAS" NO TEJO E OS FILMES NO COLISEU NOS ANOS 50/60

            

Luciano Santos e a sua tia Adelaide, sempre que iam à Cova do Vapor, apanhavam o cacilheiro no Cais do Sodré. A bordo, instalavam-se na zona da proa, ao ar livre, e viajavam vendo o barco a sulcar as ondas, até chegarem ao destino e desembarcarem na Costa do Vapor, como lhe chamavam na época, num cais de madeira.

Um belo dia, navegando perto de Porto Brandão, Adelaide solta um enorme grito:

-Olha uma baleia! Uma baleia! E apontava, excitadíssima, um grande golfinho que dava saltos junto à proa do navio.

Os passageiros, deliciados, assistiam às brincadeiras da “baleia” que acompanhou o cacilheiro durante parte da viagem e a sua atenção só foi interrompida, de tempos a tempos, por um  engraçadinho que gritava:

-Olha a baleia!

À noite, já sem a tia, Luciano ia, por vezes, assistir a um filme no Coliseu. Na sala ficava com um olho fixo na tela e o outro no chão, local onde havia outro espectáculo: corridas de ratazanas. Quando ele e os outros espectadores acabavam de fumar os cigarros, afinavam a pontaria e arremessavam as beatas à rataria.

Se acaso pagassem uns dinheirinhos por cada rato, vivo ou morto, Luciano e os outros eram bem capazes de encher um saco e arrecadar uns tostões, que bem falta lhes faziam.

Lisboa nos anos 50/60, ainda era assim.


Jorge C. Chora

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