Luciano Santos e a sua tia Adelaide, sempre que iam à Cova
do Vapor, apanhavam o cacilheiro no Cais do Sodré. A bordo, instalavam-se na
zona da proa, ao ar livre, e viajavam vendo o barco a sulcar as ondas, até
chegarem ao destino e desembarcarem na Costa do Vapor, como lhe chamavam na
época, num cais de madeira.
Um belo dia, navegando perto de Porto Brandão, Adelaide
solta um enorme grito:
-Olha uma baleia! Uma baleia! E apontava, excitadíssima, um
grande golfinho que dava saltos junto à proa do navio.
Os passageiros, deliciados, assistiam às brincadeiras da “baleia”
que acompanhou o cacilheiro durante parte da viagem e a sua atenção só foi
interrompida, de tempos a tempos, por um engraçadinho que gritava:
-Olha a baleia!
À noite, já sem a tia, Luciano ia, por vezes, assistir a um
filme no Coliseu. Na sala ficava com um olho fixo na tela e o outro no chão,
local onde havia outro espectáculo: corridas de ratazanas. Quando ele e os outros
espectadores acabavam de fumar os cigarros, afinavam a pontaria e arremessavam
as beatas à rataria.
Se acaso pagassem uns dinheirinhos por cada rato, vivo ou
morto, Luciano e os outros eram bem capazes de encher um saco e arrecadar uns
tostões, que bem falta lhes faziam.
Lisboa nos anos 50/60, ainda era assim.
Jorge C. Chora
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