quarta-feira, 1 de maio de 2024

O LUXO DA POEDEIRA


Olhavam-na com desdém,

mal disfarçando a inveja

a consumi-las de modo indisfarçável.

A galinha poedeira era uma estrela,

apaparicada pelo enorme

tamanho e qualidade dos ovos,

alimentada de modo especial,

habitando um local higienizado.

As outras galinhas,

alcunhavam-na de Madame,

um misto de desprezo e raiva,

tal o tratamento diferenciado,

tão acima do usufruído por elas.

Iam aos arames quando ouviam

“As quatro estações de Vivaldi” ou

“A flauta mágica” quando ela punha os ovos.

Um dia, a Madame explicou-lhes,

com o bico trémulo,

que a música servia para apaziguar o seu

cacarejar de dor, sempre que punha um

dos gigantescos ovos e ato contínuo,

mostrou-lhes o enorme rabo inchado.

Desde esse dia, as galinhas agradecem

a um deus galináceo, numa ladainha

repetida à saciedade,” Gratias Dominus”

não terem sido selecionadas como

poedeiras de ovos descomunais!

            Jorge C. Chora

              1/5/2024

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