Olhavam-na com desdém,
mal disfarçando a inveja
a consumi-las de modo indisfarçável.
A galinha poedeira era uma estrela,
apaparicada pelo enorme
tamanho e qualidade dos ovos,
alimentada de modo especial,
habitando um local higienizado.
As outras galinhas,
alcunhavam-na de Madame,
um misto de desprezo e raiva,
tal o tratamento diferenciado,
tão acima do usufruído por elas.
Iam aos arames quando ouviam
“As quatro estações de Vivaldi” ou
“A flauta mágica” quando ela punha os ovos.
Um dia, a Madame explicou-lhes,
com o bico trémulo,
que a música servia para apaziguar o seu
cacarejar de dor, sempre que punha um
dos gigantescos ovos e ato contínuo,
mostrou-lhes o enorme rabo inchado.
Desde esse dia, as galinhas agradecem
a um deus galináceo, numa ladainha
repetida à saciedade,” Gratias Dominus”
não terem sido selecionadas como
poedeiras de ovos descomunais!
Jorge C. Chora
1/5/2024
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