Era uma vez um sapo que surpreendeu toda a comunidade ao
nascer com asas. À medida que crescia, a
comunidade revelava a sua estranheza
,sempre que com ele se cruzava:
-Porque precisas tu de asas, um mero sapo como nós? Como nós
quer dizer…
E o sapo alado, engolia em seco, contendo a sua vontade em
dar-lhes uma sapatada daquelas valentes, que lhes tirassem, de uma vez por
todas, a vontade de pronunciarem disparates.
Nascera assim, não pedira a ninguém as asas. O que mais
desejava é que elas não lhe tivessem surgido e que ele fosse igual aos outros.
Igual aos outros, ponto e vírgula: só sob o ponto de vista físico, porque ter
uma cabeça semelhante à deles, não obrigado!
Num ano muito quente e quase sem chuva, a desgraça abateu-se
sob a colónia local de sapos: metade deles adoeceu e os filhos não vingaram devido à
falta de charcos e pelo facto dos existentes terem secado.
O sapo alado assistiu à desgraça e sem que ninguém lho
pedisse, bateu as asas e subiu aos céus. Procurou nuvens até que as encontrou.
Assim que as viu, deu-lhes pontapés, com toda a força que tinha, empurrando-as
para a sua região. Em seguida, dirigiu-se ao vento frio que soprava noutro
local e falou assim:
-Amigo vento, nestas paragens ninguém te olha com bons
olhos. Se vieres para as minhas bandas, vais ver que serás bem-vindo…
Em terra, os que o viram aos pontapés desabafaram:
-O que faz aquele palerma ao pontapé às nuvens?
Pouco depois, um vento frio fez-se sentir e daí a pouco,
chovia de modo abundante.
E foi só a partir daí que os sapos passaram a incluir, nas
suas orações, um pedido:
-Dai-nos, Senhor, a alegria e a bênção de manter a saúde ao
nosso sapo alado, para que ele possa cuidar de nós…
Jorge C. Chora