domingo, 18 de agosto de 2013

O sapo alado

Era uma vez um sapo que surpreendeu toda a comunidade ao nascer com asas. À medida que crescia,  a comunidade revelava  a sua estranheza ,sempre que com ele se cruzava:

-Porque precisas tu de asas, um mero sapo como nós? Como nós quer dizer…

E o sapo alado, engolia em seco, contendo a sua vontade em dar-lhes uma sapatada daquelas valentes, que lhes tirassem, de uma vez por todas, a vontade de pronunciarem disparates.

Nascera assim, não pedira a ninguém as asas. O que mais desejava é que elas não lhe tivessem surgido e que ele fosse igual aos outros. Igual aos outros, ponto e vírgula: só sob o ponto de vista físico, porque ter uma cabeça semelhante à deles, não obrigado!

Num ano muito quente e quase sem chuva, a desgraça abateu-se sob a colónia local de sapos: metade deles  adoeceu e os filhos não vingaram devido à falta de charcos e pelo facto dos existentes terem secado.

O sapo alado assistiu à desgraça e sem que ninguém lho pedisse, bateu as asas e subiu aos céus. Procurou nuvens até que as encontrou. Assim que as viu, deu-lhes pontapés, com toda a força que tinha, empurrando-as para a sua região. Em seguida, dirigiu-se ao vento frio que soprava noutro local e falou assim:

-Amigo vento, nestas paragens ninguém te olha com bons olhos. Se vieres para as minhas bandas, vais ver que serás bem-vindo…

Em terra, os que o viram aos pontapés desabafaram:

-O que faz aquele palerma ao pontapé às nuvens?

Pouco depois, um vento frio fez-se sentir e daí a pouco, chovia de modo abundante.

E foi só a partir daí que os sapos passaram a incluir, nas suas orações, um pedido:

-Dai-nos, Senhor, a alegria e a bênção de manter a saúde ao nosso sapo alado, para que ele possa cuidar de nós…

Jorge C. Chora