quarta-feira, 26 de julho de 2017

AVÓS


De bengala ou sem ela,
ei-los que se metamorfoseiam
em futebolistas, monstros e fadas;
 também povoam os parques
na companhia dos netos,
que os deixam de cabeça
perdida quando correm
a mil à hora:
-Cuidado, vão devagar…não se aleijem…
E os netos, na flor da vida, circulam
nos seus ritmos próprios,
 brincam, penduram-se, gritam
 e quando algo corre mal,
ai vão eles de braços estendidos
e lágrimas a ensopar vestidos,
em busca dos seus portos seguros:
-Avô…avó
E no meio da choradeira e dos
copiosos beijos que recebem,
lá se acalma a petizada,
partindo para outra aventura,
 sob os olhares atentos dos avós,
 que com o coração na boca,
 vão pedindo a Deus
 que nada lhes aconteça.
Suspiram de alívio
ao regressarem com eles sãos e salvos,
carregando-os ao colo,
invocando todas as forças,
e até os santinhos de pau oco,
 para que consigam subir
àquele último andar sem elevador.


 Jorge C. Chora 

terça-feira, 25 de julho de 2017

BLI


Morreu a minha Bli,
uma amiga
pequena e amarelada,
que sorria miando
e acariciava com
as patas tocando.
Não regateava um carinho,
roçava-se e retribuía
os afagos que recebia.
Morreu cumprindo
os rituais de mimo
que oferecia,
já sem miados
que não conseguia emitir.
Morreu hoje, pelas 11h45,
aquela a quem chamei Bli,
diminutivo de Blimunda,
a noiva do Sete-Sóis,
que tal como ela,
tinha poderes de
ver por dentro e encantar.
Adeus Bli.


Jorge C. Chora

sábado, 22 de julho de 2017

AO MEU NETO FRANCISCO



Sete são as cores do arco-íris,
tantas quantos anos fazes,
os mesmos sete que Deus
levou a criar o mundo,
e que agora, esperemos,
seja cada vez mais teu,
sob a magia desse arco
e o encanto das suas cores.

       Jorge C. Chora

         22/o7/2o17



quinta-feira, 20 de julho de 2017

DIA DOS AMIGOS


Não passamos sem eles
 nem eles sem nós,
embora possamos estar
sem vê-los,
nem tê-los
ao pé de nós,
sem qualquer hipótese
de esquecê-los
ou sermos esquecidos,
pois amigos
são como irmãos
desde sempre.


Jorge C. Chora

sexta-feira, 14 de julho de 2017

SEMPRE MENINA


Ver-te no arraial
envolta em
música de feira,
ora acima ora abaixo
a andar no carrossel,
faz-me ver
a criança que
há em ti,
alegre e descontraída,
entregue ao jogo e a
ti própria,
num bailado imaculado,
entre a inocência e o mundo.


Jorge C. Chora

quinta-feira, 6 de julho de 2017

CAETANA


Doce Caetana
de olhos verde-mar,
dizes olá e acenas
a toda a gente,
rainha como és
da ternura e da simpatia.
Ei-la que vai no seu carrinho,
cabelos louros em grandes
rolos esvoaçantes,
acenando e dizendo olá a toda a gente
e enviando beijinhos
aos meninos e aos idosos que vai vendo,
comemorando os seus dezoito meses
e apontando com a mão direita
a direcção do parque e o motivo
da sua saída de casa:
-“Balouxos…balouxos…”
E aí vai ela,
a doce Caetana
de olhos verde-mar,
convicta do que quer,
repetindo a espaços
o que deseja:
-“Balouxos…balouxos”
Não vão os vovós,
esquecerem-se do que
a menina quer e dizerem não
ao que a Caetana já disse sim.


Jorge C. Chora

sábado, 1 de julho de 2017

O DESANIMADO



Três vezes consecutivas olhou para o relógio. Um minuto depois, olhou-o de novo. Era quase meio-dia e todos os dias era assim. O reformado desabafou:

-Está quase na hora do sacrifício…

-Como assim? - questionaram alguns conhecidos que nunca tinham percebido o motivo da agitação àquela hora.

- São horas de almoço e espera-me uma panela de massa que ando a comer há três dias…

-Mas, por que não faz menos?

-Não sei controlar as doses…desde que a minha santa morreu … ando nisto… se ao menos tivesse companhia, ajudava-me a comer…

-E qual é o problema em arranjar companhia?

-Sabem lá vossemecês! Já desisti. As três primeiras com que contactei, perguntaram-me quanto tinha de reforma, se tinha carro, casa de praia, qual o montante de depósito bancário e que países costumava visitar nas férias!

- E desistiu?

-Não, o pior estava para vir. A única de que gostei e me atraía, foi um balde de água fria. Era mesmo interessante e tão atraente era que até me passou pela cabeça dar-lhe um leve toque no rabinho…

-E… -incentivaram os ouvintes, curiosos.

-Não me largou. Contou-me tantas, mas tantas desgraças …até que finalizou com um pedido:
precisava com urgência de cinquenta mil euros!

-E?

-Não vos conto mais nada. Só vos digo que, para mim, a busca de companheira é coisa do passado: não quero nenhuma.

Uma idosa que estava no bar, franziu o sobrolho e desabafou:

-E eu que não me importava de ser cozinheira…sobra-lhe alguma coisa no banco?


Jorge C. Chora