Saltaram-lhe
os olhos das órbitas, ao ver o cadeirão com que sempre tinha sonhado.
Cadeirão de boa madeira, revestido a couro,
com sinais de uso, com aquele toque de classe. Um verdadeiro achado.
Travou de
imediato conversa com o cavalheiro que tinha um braço em cima dele:
-Fez uma
bela compra!
-Engana- se
meu amigo. Não o comprei agora. Estou farto dele e vou vendê-lo!
- Não me
diga! Quanto quer por ele?
-Só
trezentos euros…
O negócio
concretizou-se num ápice.
Quando o
comprador se preparava para o levar, surgiu-lhe outro homem a exigir-lhe o
pagamento:
-O cadeirão
ainda não está pago! Um senhor de fato azul disse-me que ia ao carro e
desapareceu.
-E quanto
lhe ficou ele a dever?
-Cento e
oitenta euros…
E o
comprador pagou o que lhe pediram.
Respirou
fundo, levantou o cadeirão e mal iniciara a marcha, surgiu-lhe uma senhora, que
furibunda e aos gritos o interpelou:
-Para onde
vai levar o meu cadeirão? Estou a mudar-me para aqui, deixo-o no passeio porque
não consigo carregar tudo ao mesmo tempo e o senhor vai levar-mo?
Já sem
dinheiro para comprar o objeto pela terceira vez, só lhe restou uma saída:
- Perdão minha
senhora. Não sabia que era seu. Eu ajudo-a a carregar o cadeirão para o seu
andar.
Dito e
feito. Carregou o cadeirão até ao quinto andar, sem elevador, desejou
felicidades à senhora e desceu com muito sacrifício.
Já na rua,
uns cinquenta metros andados, um idoso apoiado na neta dizia:
-Vês minha
querida, eu não te disse que em dez minutos o cadeirão que eu deitei ao lixo
desapareceria!
Jorge C.
Chora
31/10/2021
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