quinta-feira, 24 de maio de 2018

OS PAUS - MANDADOS


Há datas e dias marcados,
não sabem bem para que eventos,
o que interessa é que já estão marcados,
para horas e dias aprazados,
e pronto!
Tendo dito o que lhes ordenaram,
nada mais têm a dizer,
para além dos dias e das horas
de eventos que não fazem,
nem querem saber,
a mínima ideia do que tratam.

Jorge C. Chora
24/5/2018

segunda-feira, 21 de maio de 2018

AMANTES



Com promessas e ais,
untam os beiços
com o mel d’amor,
num frenesim
de beijos repenicados,
repetidos a uma cadência
celestial e intercalada
de promessas,
de quereres e juras eternas,
culminando numa explosão
de prazer, tremura de pernas,
espasmos e exclamações irrepetíveis.
Ainda estendidos no leito nupcial
ela pergunta:

-Querido, jantas comigo?

-Claro! Para aperitivo começo com a tua bochecha…

Jorge C. Chora
21/5/2018

quinta-feira, 17 de maio de 2018

UMA QUESTÃO DE ZURROS



 Colocou o burrinho de plástico, de perna curta e com meio metro de comprimento, em cima da caixa eléctrica,  localizada na via pública, à porta da empresa onde trabalhava e foi tomar café.
Um dos funcionários, ao vê-lo, transportou-o por uma orelha e foi interpelado de imediato:

-Isso merecia uma queixa à protecção animal! - vaticinou uma senhora.

-Como assim?

-Já viu a dor que está a infligir ao animal?

-Mas ele não é verdadeiro! -ripostou o transportador.

-Pois é…e se fosse? - tornou a senhora.

E logo a seguir, surge a dona do boneco que estende os braços para o acolher, enquanto afirma:

-O burrinho não está perdido!

O funcionário segurou o boneco pelas duas orelhas, aproximou-se da senhora que era sua colega na empresa, colocou-o ao colo com todo o cuidado e disse-lhe, com voz de mimo:

-Se eu zurrar, também posso ter direito a colinho?

-Prometo que não o puxo pelas orelhas…

Jorge C. Chora
     17/5/2018

sexta-feira, 11 de maio de 2018

O BAILE DAS ONDAS


As ondas do mar
adoram dançar,
bailar sem parar,
vestirem-se a rigor,
umas de azul
ou de verde,
e outras de espuma do mar.
Bailam por prazer,
sem parar,
sempre vestidas a rigor,
em tons de azul e verde
e outras de branca espuma,
todas em tons de mar.

Jorge C. Chora
11/5/2018

domingo, 6 de maio de 2018

O LARÁPIO E O ESFOMEADO



Sentou-se à porta do supermercado e tirou do bolso uma sandes esborrachada. Com todo o vagar do mundo, retirou o celofane que a embrulhava. Preparava-se para lhe dar a primeira dentada, quando um cão escanzelado e peludo se aproximou. Partiu um bom bocado à sandes e deu-o ao cão.
Ao seu lado, um homem elegante, olhou-o com ar de certo desprezo e de algum nojo.  O jovem sentado sorriu-lhe, embora de testa enrugada, devido à repreensão visível que lhe estava a ser dirigida.

-Eu vi-o a tirar a sandes da prateleira do supermercado. Sei que não a pagou…ao menos não a tivesse desperdiçado e deitado metade fora … mas percebo, foi à borla…

-O senhor acredita, que de barriga cheia, sou tão ou mais moralista do que o senhor? -respondeu-lhe o jovem.

-Se não a tem cheia, rouba e ainda tem a lata de lançar metade fora? Afinal tem ou não tem fome?
-Sim tenho…mas ele também tem… - e apontou o cão.

E o homem, voltou ao ataque:

-Será que não percebe que roubar é indigno e que mesmo com fome isso não se faz?

-Volto a dizer-lhe que de barriga cheia é fácil ser moralista, mas não deixa de ter razão.

O senhor enervou-se. Um ladrão com aquela lábia era demais. Entrou no supermercado e regressou com um segurança. Apontou para o jovem e denunciou-o:

-Roubou uma sandes e não pagou. Ainda por cima deu metade àquele cão sarnento…

E o segurança disse ao denunciante:

-É o dono do supermercado, ou melhor, é o filho do dono do estabelecimento. Está na sua hora de lanche e depois regressa ao escritório.

E o herdeiro do negócio, sem perder a boa disposição pede ao segurança:

- Senhor João, veja se o denunciante tem a factura do perfume que colocou no bolso, pois não o vi pagá-lo, quando passei pela caixa e me vim aqui sentar.

Não tinha!

Jorge C. Chora
   6/5/2018





sábado, 5 de maio de 2018

A RECOMPENSA DA CAETANA



 A TV filmou de relance alguém com barba e a Caetana, agora com 28 meses, confundiu-o com o pai que a deixou crescer recentemente e gritou:

-Olha o pai!

A avó corrigiu-a:

-Não é o pai. O pai é bonito!

-E elegante…- acrescentou a petiza de rompante.

Entretanto chegou a hora do lanche e preferindo o colo à comida, até porque estava um pouco febril, quando a avó lhe disse que também ia petiscar alguma coisa, aconselhou-a:

-Ó avó, não comas que ficas barriguda!

Hoje, excepcionalmente, a Caetana deveria receber um pequeno chocolate, como recompensa pelo seu bom gosto e para que se esquecesse de conselhos alimentares tão severos.

Jorge C. Chora
   4/5/2018

sexta-feira, 4 de maio de 2018

MARIZA



A cabeça surge acima das nuvens,
de cabelo curto e amarelo
espalhando pelo mundo canções de amor,
com uma voz d’ouro,
expressando sentimentos,
carregada de dor, alegria e saudade,
no seu corpo esguio
e de uma elegância rara,
culminando num pescoço comprido
de fazer inveja às vaidosas mulheres- girafa
das civilizações africanas.
Dança cantando e canta dançando,
em movimentos felinos
e envoltos numa voz forte
e sem disfarces tecnológicos,
com uma qualidade ímpar,
num país recheado de excelentes cantores.

Jorge C. Chora
  4/5/2018

quarta-feira, 2 de maio de 2018

A FOTO



 Adorava flores e pios de pássaros. Fotografava as primeiras mas não tinha uma câmara de telemóvel, à altura de fixar os donos dos pios de que mais gostava.

Viu em Benfica umas flores, cujo nome desconheço, na sebe de um quintal de um jardim. Ficou encantada. Preparou a fotografia ao pormenor, escolhendo o ângulo que melhor se coadunava com a luz naquele momento. A meia dúzia de passos, um idoso observava a trabalheira que ali se desenrolava.

A fotógrafa coloca o telemóvel a jeito e por entre as plantas, dispara sucessivas vezes a câmara, captando o que a deliciava. O marido aguarda que a esposa concretize a sua paixão.
Alguém que passava no passeio, resolveu repreender o que achava que se estava a passar:

-Agora devia aparecer o dono…queria ver onde metia as flores que está a levar…

E o velhote que observara a preparação das fotografias por parte da fotógrafa, resmunga, mas de forma audível:

-Onde tu merecias que elas fossem postas… era na tua fonte de metano…

Jorge C. Chora
2/5/2018