Do amor recebido,
sinto-me
vestido!
Num tecido
forrado,
em cetim e
veludo,
com ternura
bordado
e em mimos
tecido.
JORGE C.
CHORA
30/12/22
Do amor recebido,
sinto-me
vestido!
Num tecido
forrado,
em cetim e
veludo,
com ternura
bordado
e em mimos
tecido.
JORGE C.
CHORA
30/12/22
Qualquer um se
julga apto a pescar a garfo, no prato, uma boa posta de pescada, ou mesmo a
caçar um naco de javali.
Não é disso que
se trata, nem de fanfarronices abstrusas que versa a crónica.
O sr. João
Brás, quando era jovem, morava na Carvoeira, próximo do rio Lizandro, mais propriamente,
da foz do rio Lizandro.
Quando a
maré estava baixa e a água do mar não invadia o rio, andava-se a pé no leito do
rio, levantavam-se as pedras no seu leito e podiam encontrar-se enguias. Estas
eram então pescadas com um simples garfo.
Em dias de
maré cheia, o rio também se enchia de robalos, tainhas e outros peixes e esses,
não podiam ser pescados à garfada,
mas com
tarrafas, redes feitas pelo seu pai que entre os múltiplos ofícios a que se
dedicava, se contavam o de fazer redes e de pescador.
E era assim
que ainda se podia pescar, à garfada, na década de sessenta
e deliciarem-se
com enguias bem frescas e saborosas.
Hoje não sei
se isso ainda é possível, mas hei de averiguar, pois uma caldeirada de enguias
nunca é de enjeitar, ainda por cima pescadas à garfada!
Jorge C.
Chora
27/12/2022
Há quem acredite
e sacrifícios aceite,
como sendo graus
para ascender degraus
na escadaria celeste,
para alcançar o céu.
As malfeitorias seriam
um mal necessário,
e quiçá, contribuiriam
para a santificação:
bênçãos seriam
de celeste ascensão,
e o olimpo garantiriam!
Ah! Um simples pormenor,
se assim é, serão os russos,
sob a batuta e a soldo de Putin,
a garantia de subida ao céu
dos ucranianos assassinados?
Cirilo benzerá como mártires
os que já morreram e também
os que morrerão neste Natal?
Jorge C. Chora
25/12/2022
Lugar para parquear era algo inexistente no local. O idoso circulou quase meia hora no sítio, mas sem qualquer sucesso.
De repente,
surgiu uma vaga. O idoso estava impedido de a apanhar de imediato, porque havia
um sinal de proibido e foi obrigado a tornear todo o parque.
Quando
estava a cerca de 20 metros, apareceu uma viatura em sentido contrário e num
ápice ficou com o lugar. O usurpador saiu ufano da viatura, olhando de modo
sobranceiro para o atónito condutor que ficara sem o sítio.
Ainda mal se
afastara da viatura, quando um polícia lhe solicitou os documentos.
A
contragosto mostrou-os, não sem que perguntasse:
- Documentos
para quê se estou apeado e não fiz nada?
O jovem agente,
percebeu que estava perante um sabichão, pois tinha-o visto entrar em sentido
proibido e a abotoar-se com o lugar.
-O senhor
sabe a manobra que fez ou já se esqueceu?
- Manobra?
que manobra?
-O Jovem
sorriu e perguntou-lhe:
-Quer que eu
pergunte àquele condutor, a quem tirou o lugar, o sinal de trânsito que não
respeitou?
- Olhe
senhor agente, não vi sinal nenhum… -desculpou-se o espertalhão.
-Então os
seus documentos não estão atualizados e isso dá direito a…
O esperto
não o deixou acabar a frase:
-Estão sim
senhor. Eu moro mesmo aqui em frente…
-Bom, então
sabia que existia o sinal. Vou ter de lhe passar uma multa e olhe que é bem
pesada…
A conversa
mudou imediatamente de rumo.
-Bem… não há
outra maneira de resolver o assunto…- arriscou o prevaricador.
-Mau, agora
está a tentar fazer o quê… isto vai de mal a pior…
-Peço-lhe
desculpa… e se eu tirar o carro?
-A falta já
foi cometida, mas pelo menos mostra arrependimento e vontade de emendar o erro…
E o esperto
tirou o carro e com tanta sorte que bem perto viu um livre. Quando ia parquear,
apareceu outro carro, em sentido proibido, que o ocupou. Desta vez não havia
polícia à vista.
Não sei se
ainda hoje anda à procura de estacionamento no local!
Claro que
tudo isto só aconteceu na cabeça do idoso, que ficou pura e simplesmente sem o
lugar e que sonhava que o caso se deveria ter passado assim!
Jorge C.
Chora
23/12/2022
Eram poucos os que não o consideravam um ser execrável. A sua forma de andar era, no mínimo, de um exibicionismo bacoco. Cada passo seu, assemelhava-se a um estranho passo de dança, a uma espécie de salto de onda mal surfada, a um espetáculo a solicitar palmas.
A sua fala
arrastada, pedante e muito afetada, desagradava até às mais irritantes
desocupadas da classe alta.
Um belo dia,
quatro das suas fiéis inimigas, viram uma mulher, mal trajada e bastante suja,
a querer beijar-lhe a mão e ele a retirá-la, de um modo delicado e afável.
O mal-estar
do cavalheiro era notório.
-Olhem só o
estupor… coitada da mulher… afastada como uma leprosa…- comentaram as mulheres.
Não quiseram
perder a oportunidade de se aproximarem da andrajosa para colherem mais umas
achas para a fogueira.
-Então a
senhora foi escorraçada pelo homem? É um mal-educado…tem a mania que é mais do
que os outros…
-Não digam
isso minhas senhoras! A minha neta deve-lhe a vida, se ele não tivesse pagado a
operação…
-Ele é um vaidoso,
já viu como ele anda e fala…
-Ó minhas
senhoras, eu conheço-o desde bebé… ele nasceu com uma perna mais curta e
disfarça…
-E a fala…
já viu…
-Por amor de
Deus… em criança ele viu o pai morrer atropelado e ficou gago… é uma forma de
ninguém notar… Ele só não ajuda quem precisa, se não puder… faz das tripas
coração…
E as
desocupadas, mal isto ouviram, gritaram, furiosas em uníssono:
- A mulher é
louca! Só nos faltava agora apresentar-nos o Execrável como um ser amoroso!
Jorge C.
Chora
19/12/22
Se a tua chama esmorecer,
não aquecer
como aquecia,
nem alumiar
como alumiava,
algo contigo
está a acontecer:
consumes-te
com ninharias!
Respira e
reativa a tua chama,
exige a tua
quota de oxigénio,
aquece-te a
ti e aos outros,
retoma o teu
viver e a alegria,
dá-te o
prazer de voltares a ser!
Jorge C. Chora
16/12/2022
Com pompa e circunstância, foi inaugurada na terra uma piscina e os seus modernos apoios.
Nesse dia as
entradas eram gratuitas para todos os habitantes, independentemente da idade,
após os longos e enfadonhos discursos do presidente, vice-presidente, e de uma
séria infindável de autarcas, agravado pelo facto de nenhum ter o discurso
escrito.
Terminadas
as ladainhas laudatórias, foi uma correria para os balneários.
D.
Ermelinda, uma nonagenária cheia de vitalidade, foi atrás dos ansiosos
banhistas, embora mais lentamente, porque as pernas já não eram tão jovens como
ela desejava.
Quando por
fim entrou no balneário, ouviu um coro de protestos:
- Isto é o
balneário dos homens, minha senhora!
D. Ermelinda,
abriu bem os olhos, deu uma gargalhada e exclamou:
- Abençoado
engano. Assim recordo-me como vocês são… - e deu meia-volta e foi à procura do
balneário das senhoras.
No diário
que mantinha, escreveu: Não me importava que todos os dias fossem como o de
hoje.
Jorge C.
Chora
14/12/2022
Os sapatos bicudos e extremamente longos, impediam a normal circulação no corredor, por quase ocuparem a totalidade do espaço. Caso alguém quisesse passar, era preciso que o homem que os calçava, encolhesse as pernas ou as descruzasse para que as pontas dos sapatos desimpedissem o caminho.
O seu
proprietário, o dos sapatos é claro, nada tinha que o distinguisse de outro
homem qualquer, exceto a sua fealdade, o calçado invulgar, ainda realçado pelo
seu trajo apertado e o nariz adunco. Apesar disso, outra marca o distinguia: a
sua vaidade.
Dizia à boca
cheia, que as amigas o achavam parecido com um conhecido artista, por sinal
muito bem-apessoado e de talento mundialmente reconhecido: um tal Tony Cútis!
Os amigos
olharam-no de soslaio, pois já tinham ouvido falar em alguém de nome
semelhante, mas franziram o nariz porque algo lhes soava um pouco a falso.
O homem dos
sapatos bicudos, acabara de criar uma personagem, e passava incólume pela
fotografia que fazia de si próprio ou melhor, que dizia que as amigas faziam de
si próprio: Ele era o Tony Cútis, talvez o irmão gémeo, não identificado, do
artista Tony Curtis.
Coisas da
vida!
Por outro
lado, o caso da cútis presta-se a outras interpretações, como a de um velho
marinheiro, de pele curtida pelo sol e linguagem vernácula, um macho sem medo
de ondas e tempestades, perante quem o Adamastor pensaria duas ou três vezes
antes de o querer assustar.
Tendo-lhe
surgido um incómodo e doloroso furúnculo numa nádega, resolveu, muito a custo
ir ao médico, ainda que tivesse sempre pensado, que” homem que é homem dispensa
idas ao doutor”.
Vestiu-se de
modo cerimonioso para a rara visita ao dito cujo. Quando o médico lhe perguntou
ao que vinha, o velho marinheiro esmerou-se: à medida que baixava as calças foi
dizendo:
- Senhor
doutor, apareceu-me isto na cútis – e foi apontando o enorme furúnculo na
nádega direita.
O Físico não
se conteve e deu uma enorme gargalhada. O velho marinheiro ainda pensou
esborrachar-lhe a tola com uma punhada quando o homem se dignou explicar-lhe:
-Ó senhor, a
cútis não é a pele do rabo, mas da cara. Melhor ainda, a pele delicada da face
de uma dama…
O bom e
honrado marinheiro ficou entupido. Ele que se esmerara para falar caro com o
doutor, afinal cometera uma bacorada das antigas e ainda era gozado…
Jorge C.
Chora
12/12/2022
Rubro está o céu ucraniano,
tal como o solo, empapados
de sangue totalmente inocente,
das maternidades bombardeadas,
do assassínio de famílias
que repousavam nos seus lares,
de alunos das escolas destruídas,
do espichar de sangue das torturas
sanguinolentas dos esbirros
apaniguados de Putin,
assim como dos fuzilamentos.
Ainda não apaziguada
a sede de carnificina,
condenam a morrer de fome
e frio, milhões no inverno
ucraniano, a exemplo do
que os russos já fizeram
em 1923, privando-os, desta vez,
de abrigo, aquecimento,
água e alimento, enquanto
continuam a desmembrar,
à bomba, civis um pouco
por todo o lado, semeado
o terror, como terroristas,
já pelo mundo
identificados!
Isto tudo na época de Natal,
com a bênção do primaz
ortodoxo da Rússia!
Jorge C. Chora
11/12/2022
Quem não quer um pé-de-meia?
embora todos
tenham meias e até
não lhes
falte, pelo menos um pé.
só falta
mesmo, sabem o que é?
alguns
cêntimos ou meia dúzia
de notas de
cinco, embrulhada
numa, pelo
menos de mais-valia!
Jorge C. Chora
9/12/2022
O rapaz passeava o gato à trela, todos os dias, à mesma hora, no mesmo jardim. No lado oposto, também mais minuto menos minuto, uma rapariga passeava o seu cão. Nunca se tinham aproximado um do outro pois é consabido que cão e gato não são os melhores amigos.
Um dia o cão
soltou-se e correu na direção do gato. A dona, aflita, foi atrás dele. O gato
logo que viu o cachorro a aproximar-se, colocou-se em pé e, espanto dos
espantos, começou a ladrar em vez de miar.
Os animais
roçaram-se um no outro, o cão lambeu o gato e este encostou-se de modo meigo ao
cão que emitia latidos de agrado.
A dona, de
cabelo à escovinha, jeans rotos nos joelhos, olhos verdes, numa vozinha de gata
mimada, desculpou-se:
-Peço
perdão, o meu cão não tem o hábito de se soltar assim…
Mal acabara
de se desculpar quando o gato lhe saltou para o colo e se aninhou, ronronando
de prazer.
Logo de
seguida, o cachorro saltou para o colo do rapaz, escondeu o focinho na sua
longa cabeleira, abanando o rabo de satisfação.
Aproximaram-se
os donos, tentando que os seus respetivos animais retornassem a si.
Nem o gato
deixou o colo da jovem nem o cão o do rapaz. Às tantas a rapariga tinha a
cabeça tapada com a farta cabeleira do jovem e só se ouviam latidos e
ronronares, numa mistura harmoniosa, proveniente da cortina capilar que os
ocultava a ambos.
- Mas que
coisa assombrosa, os moços até ronronam…daqui a uns meses já estão separados…-
comentou uma jovem, que acabara de se zangar com o namorado
JORGE C.
CHORA
8/12/2022
Quem apanha sem merecer
e nada faz
para se defender,
tudo lhe
pode acontecer.
Arrisca-se a
muito padecer,
a tornar
sempre a suceder
e a acabar
por desfalecer!
Jorge C. Chora
6/12/2022
O jogo terminou bem perto da hora do almoço. Estavam atrasados. Tinham de comer a correr, antes disso tomar banho e apanhar o metro, a tempo de chegarem a horas ao serviço.
Foi uma correria. Cada um
calçou-se o mais rápido que podia, correram para o transporte e foram saindo
nas respetivas estações.
Na hora de regresso,
António, após calçar os sapatos achou algo de estranho. Olhou melhor e viu que
os sapatos, embora ambos fossem pretos, eram diferentes um do outro.
- Mau, um é meu, mas o
outro é do Fernando!
Apressou-se a telefonar ao
Fernando e a pedir-lhe que trouxesse os mesmos sapatos calçados pois um era
dele e trocavam.
Fernando ainda não tinha
dado pela troca:
-Tens razão! está
descansado.
Apanharam ambos o mesmo metro,
sentaram-se lado a lado, e perante o olhar espantado dos outros passageiros,
descalçaram-se e trocaram os sapatos.
Um jovem passageiro que
observava a cena, pediu desculpa da intromissão e disse:
- Gosto dos vossos
sapatos. Por acaso não querem trocar com os meus, que embora de marca, são
novinhos em folha, e não têm o toque de uso de qualquer um dos vossos?
Jorge C. Chora
5/12/2022
O amor é o chocolate
da existência, namoro
da vida, doçura bocal,
moleza do coração,
céu terreal, beijo divino
de sabor sem igual,
prolongado e
delicioso,
aconchego da existência,
sem o qual não se vive
e unicamente se vegeta.
Jorge C. Chora
4/12/2022
Quem não ama nem é amado,
está sempre desconfiado:
mesmo abonado, é indesejado,
só é engraxado, porque temido.
Vive iludido e aldrabado,
tem inimigos por todo o lado,
é cercado e armadilhado,
até ser derrubado e no final, pisado,
e de pouco lhe serviu, ser temido e abonado!
Jorge C.
Chora
1/12/2022
Bebi um copo de tinto,
arrepiei-me
com o vinho
era uma
zurrapa, não minto,
e na cabeça
ainda sinto,
um triplo
mal-estar distinto:
O sabor, o
preço e pressinto
ter surgido,
na testa, um espinho.
Vou ao
espelho e verifico
o nascimento
de um pico.
Se pedir
outro tinto,
ainda me
nasce outro pico
e dois
espinhos na testa,
à custa de
um copo de vinho,
Deus me
livre de tal dislate,
e ainda ter
de pagar por isso!
Jorge C. Chora
28/11/2022
Entrou no laboratório com cara de poucos amigos. O perfumista, que o conhecia de longa data, questionou-o:
-O que tens
Bernardo? O que te aconteceu?
- Nem
queiras saber… Nunca se tinha passado algo semelhante durante toda a minha
vida!
Conta, conta
que eu quero saber, e ajeitou-se ao balcão. Colocou a bandelete, passou a mão
pela longa cabeleira pintada de louro, alisou as sobrancelhas aparadas e
predispôs-se a ouvir.
- Hoje tudo
me corre mal. Estava no banho quando vi que me faltava o sabonete. Pedi à minha
mulher que me trouxesse um. Ela disse-me que os meus habituais se tinham
esgotado e entregou-me uma loção de banho, até acho que feita por ti.
Mal entrei
no metro, tenho a impressão de que me apalparam. Durante toda a viagem, não sei,
mas iria jurar que me apertavam de propósito.
-E então,
não foi agradável?
-Não, eram
homens e não mulheres António!
António deu
uma gargalhada:
-Bernardo,
usaste a loção feita por mim e para mim! Como é que achas que eu tenho tantos
namorados?
E foi só aí
que Bernardo percebeu a razão do António ter de trabalhar sempre de pé!
Jorge C.
Chora
27/11/2022
Numa farmácia a transbordar de clientela, um cliente enfarpelado e com um ar importante, é atendido no balcão por uma jovem e simpática farmacêutica.
O senhor ia
buscar medicamentos para a sua esposa, nomeadamente para ela dormir melhor.
Feito o
pedido, a jovem profissional, franziu a testa e disse ao cliente, que já
conhecia de longa data, que sabia ser outro o medicamento usado e não aquele
que o cliente estava a pedir:
-O senhor
desculpe-me o que vou dizer, mas a verdade é que a sua esposa dormia com outro…
Os presentes
na farmácia, arrebitaram as orelhas. O segredo interessava-lhes sobremaneira:
um homem cuja mulher dormia com outro?
O senhor,
pensou um bocado e respondeu:
- Não faço a
mínima ideia se é com outro que ela dorme…talvez seja, mas desconheço em
absoluto ou melhor, não me lembro se é com aquele ou outros ainda… Mas tanto
faz é preciso que ela esteja bem servida.
O espanto
crescia entre os ouvintes. Um marido que se preocupava de tal modo com o
bem-estar da mulher, ao ponto de a deixar dormir com outros?
E no meio da
multidão, ouve-se um desabafo:
-Quem me
dera que o meu fosse assim!
Jorge C.
Chora
25/11/2022
Bater não é ensinar,
apanhar não
é aprender,
é só receber
a raiva
de quem bate,
desencadear a
fúria
de quem
apanha!
Ensinar é
dar e ter
prazer em aprender!
Jorge C.
Chora
24/11/2022
Hoje
procurei-te,
a cidade percorri,
andei atrás
de ti
as vielas
corri,
e não te vi.
Aí de mim
passei o dia
sem ti,
contigo na
mente,
sem me
saíres do pensamento
e nem sequer
te vi
e continuo
sem saber de ti!
Jorge C.
Chora
23/11/2022
Se poupar é ganhar,
como explicar
os que têm e
não poupam
e os que
poupam e não têm?
Pois, só poupa
quem tem
para investir
e acompanhar
a sede, de
quem tem a ganhar
à custa de
quem pouco tem
e é obrigado
a poupar,
a guardar
para poder comprar,
metade do
que ontem levava,
e isso se
quiser jantar!
Jorge C.
Chora
22/11/2022
Com o desejado filho no ventre,
a mãe ostenta um sorriso
de confiança e vitória;
os seus passos são pesados
e seguros, a sua barriga
rotunda, é a casa, a fortaleza,
a defesa do seu rebento,
a carapaça de aço protetora
e a certeza de que nada de mau
lhe pode acontecer até nascer.
Pena tem ela de que
o seu ventre não possa
ser um abrigo, uma garantia
um porto seguro para a vida.
Jorge C. Chora
17/11/2022
Era uma vez
um dinossáurio chamado Comilão que comia de manhã, a meio da manhã, ao almoço,
ao lanche, antes do jantar, ao jantar e à ceia!
Já perceberam por que razão se chamava
Comilão? Só comia verduras, mesmo muitas, como sabem.
À medida que
foi envelhecendo, todos os dias tinha mais dificuldade em andar. Os seus filhos
passavam uma parte do dia a colher as ervas para ele continuar a comer todas as
refeições a que estava habituado.
O Comilão
tanto, mas tanto comeu, que os seus dentes foram-se gastando e caindo. Só podia
comer verduras muito tenras e demorava mais a mastigar.
Embora
tivesse mais dificuldades em andar, todos os dias saía e adorava sair à noite,
porque as ervas estavam mais húmidas e saborosas. Quando os olhos começaram a
fraquejar, todos os dias aparecia com um galo na cabeça porque ia contra as
árvores e fartava-se de tropeçar e cair.
Quando lhe
disseram que não devia sair à noite, ficou magoado e respondeu:
-Era só o
que me faltava! Gosto dos meus passeios noturnos. Fazem-me bem, distraem-me e
não é por ter mais ou menos galos que vou ficar na caverna!
De nada
valeu a preocupação dos filhos até que um entre os dez, teve uma ideia: e se o
pai pudesse ver à noite como de dia?
Uma risota
geral fez estremecer a caverna.
- Que ideia
tão idiota- exclamaram os irmãos.
- A ideia é
muito boa, mas… – disse o pai.
De repente,
um raio caiu sobre a árvore em frente à caverna e incendiou--a. A noite ficou
de dia.
Os filhos
recolheram os ramos a arder e lembraram-se de ir alimentando o fogo com ramos
que iam recolhendo.
À noite, o
Comilão podia levar um dos paus e ver como se estivesse de dia.
Era uma
lanterna do tempo dos dinossáurios.
Jorge C.
Chora
12/11/2022
Quando o amor
à porta bate,
e é recíproco,
Helena mergulha
no azul-mar
dos olhos de Luísa,
trocam olhares de desejo
e promessas d’amor.
Ambas anseiam
por carícias mútuas,
segredos partilhados,
entregas incondicionais
e ais de prazer sentidos
e não fingidos, refletidos
na alternância frenética
e gostosa, de azul-mar para verde
dos olhos de Luísa,
em cujas cores se derrete Helena,
a comprovar o amor das Marias.
Jorge C. Chora
13/11/2022
O cheirinho a
frango assado proveniente da caixa onde o transportava, chegava-lhe ao cérebro.
De repente,
uma força malévola nascida no estômago, levou-o a abrir a caixa, levar uma
perna do frango à boca e devorá-la num ápice.
Depois de a
comer é que caiu em si. E agora o que vou dizer lá em casa? Todos gostam de
perna e como vou justificar este meu ato devorador?
Até casa foi
pensando no que dizer, qual a peta que iria pregar, mais ou menos credível para
não ouvir a reprimenda mais que certa.
Ao chegar, a
mesa já estava posta e a travessa só esperava o frango para se dar início à
refeição. A mãe abriu a caixa e foi dispondo os pedaços, artisticamente, em
torno do puré. Ao dar por falta de uma das pernas, exclamou:
-Oh! Só há
uma perna!
-Também
estranhei, mas o senhor do restaurante disse-me que a galinha era coxa!
O irmão mais
novo, sabendo da ratice do mano velho, aproveitou a ocasião para, sem ninguém
ver, espetar e comer as moelas e fingir-se muito surpreendido:
- Para além
de coxa, era deficiente porque não tem moelas!
O comilão da
perna, quase deu uma gargalhada, mas conteve-se. Percebeu de imediato a
estratégia do mais novo.
Os pais
fingiram acreditar nas patranhas e comentaram:
- Bom, vamos
comer o que o frango deficiente ainda nos pode oferecer!
Jorge C.
Chora
11/11/2022
Há alguns anos, um pescador contratado para substituir um colega na faina piscatória para as bandas do Alasca, teve de deslocar-se sem a companhia de nenhum colega.
O
profissional em questão, não falava nem inglês, nem francês e em relação ao
português, com alguma atenção por parte dos ouvintes, entendia-se o que queria.
Ao chegar a
Anchorage, ia morto de fome. Entrou num restaurante e quando o empregado lhe
perguntou o que queria, não esteve com meias medidas: abriu os braços e pôs-se
a cacarejar:
-Cócórócó… e
levantava os braços.
O empregado
não teve dúvida nenhuma: trouxe-lhe um frango.
Já com a
comida na sua frente, levantou o polegar e fez o gesto de querer beber. O
empregado coçou a cabeça. Mas que bebida quereria o cliente?
Abriu as
mãos e afastou os braços, como que a perguntar qual a espécie de bebida
quereria. O português, de imediato, antes que lhe trouxessem água ou outra
bebida esquisita, voltou a levar o polegar à boca e balanceou-se para a
esquerda e para a direita.
-Wine?
-questionou o empregado.
Esta
palavra, não era a primeira vez que ouvia e sabia ser exatamente o que queria.
Levantou os dois polegares e de imediato lhe trouxeram uma garrafa de vinho.
Para pagar,
também não precisou de ser versado em línguas. Na palma da mão fingiu rabiscar
e trouxeram-lhe a conta.
Não sei se a
história é verdadeira ou um simples mito do desenrascanço nacional, mas não me
custa nada a acreditar pois se algum de nós estivesse na Rússia atual (Livra!)
e quisesse comer, não tenho qualquer dúvida que nos safaríamos assim!
Jorge C.
Chora
10/11/2022
Dia sim dia não, acontecia
Nelson
discutir com Marina:
Eram como
cão e gato,
gata, neste
caso,
mal estavam
um ao pé do outro.
Numa das
discussões, Nelson,
sem pensar
antes de falar, disse:
-Eu até
gosto de ti…
Marina ruborizou-se
e balbuciou:
- É curioso,
que também eu…
Entreolharam-se,
comprometidos,
com o
revelar do segredo íntimo,
tantos anos recalcado
e escondido.
Marina
agarrou na mão de Nelson
e beijou-a, enquanto
Nelson lhe
afagou
amorosamente a cabeça.
Os colegas
bateram palmas
enquanto
desabafavam:
- Até que
enfim…todos sabíamos que vocês
não passavam
um sem o outro!
Jorge C. Chora
8/11/2022
Entre as flores sem pudores,
há uma com
muitos admiradores:
É a rosa, bonita e cheirosa,
quase toda a gente gosta
e pode escolher as cores.
Dão-se às namoradas e amantes,
abertas,
semiabertas ou em botão.
Há quem
adore comê-las e as ofereça,
não se importando de em sua substituição,
oferecer o
seu próprio botão de rosa,
aos gourmets
que gostam e apreciam,
estes
simples e requintados prazeres.
JORGE C. CHORA
6/11/2022
Deixei-a ir, logo
me arrependi:
ela já era
minha,
mas eu não
era dela,
pensava eu
assim!
Soube que tinha
partido
e ninguém
dela sabia.
Foi quando
uma amiga
me disse,
que partira
muito desiludida,
porque amava
quem achava
que ele já
era dela,
e descobriu,
não ser ela dele!
e o seu amor,
meu Deus, era eu!
Passo agora
a vida, no jardim,
à espera de que os pardais me digam,
onde a posso
encontrar!
Jorge C. Chora
5/11/2022
AS
BACORINHAS
O cantor
avinhado,
a viola
dedilhando,
chama às “amigas”
malcomportadas,
nas suas
cantorias,
as suas Bacorinhas.
Seguem-se
insultos
e gestos
muito feios.
Reage o
cantor avinhado
afirmando
ser um elogio
chamar-lhes Bacorinhas.
E sob a forma
de adivinhas
nos seus
arrastados cantos:
Qual é a
coisa qual é ela,
em que tudo
se aproveita,
nada faz mal
e nos delicia?
E no
interior da taberna,
surge
cantada a resposta,
ao jeito do
cante:
- Só as
belas bacorinhas!
E as mui sábias “amigas”,
entram
sorrindo, escolhendo
cada uma o
seu barrão costumado!
Jorge C. Chora
4/10/2022
Ir a Mafra e
não ver o convento,
é muito
menos provável do que
ir a Roma e
não ver o Papa.
Mas hoje fui
a Mafra, passei ao lado
do palácio e
não o consegui ver!
Ninguém me
disse que ele fora de férias,
mudara de
lugar, fora apanhar ar,
ou fechara
para descanso e ir viajar!
Pura e
simplesmente não o vi,
nem eu nem
ninguém, pelo menos
quando passei
pelo sítio onde ele
costuma estar
e permanecer há séculos!
Estava
tapado, não com cobertores,
mantas de
papa ou panos de feira
da Malveira,
já que todas as quintas
há de tudo
na terra da Beatriz Costa.
Estava todo
coberto de nevoeiro,
sem qualquer
agasalho, queira Deus,
que não se
constipe,
e deixe
Mafra viúva do seu ex-libris!
Jorge C. Chora
3/10/2022
Há muitos anos existiu um restaurante na Amadora, na freguesia da Mina, que hoje ainda existe, mas tem outro nome e já teve inúmeros proprietários.
Na altura, o
restaurante pertencia ao sr. José Mangas e o sr. Carlos era o empregado.
Num dia em
que não havia muito movimento, à porta apareceu um casal de estrangeiros. Não
falavam português e ainda hoje não sabem qual era a sua língua natal.
Mostraram-lhes
o menu, mas foi o mesmo que nada.
Não lhes
dava jeito nenhum que o casal não jantasse e os perdessem como clientes, nesse
dia em que o movimento até estava a ser fraco.
O sr. Carlos
foi buscar uma travessa, uma vela e uma panela vazia. Apontou ao casal um prato
de bacalhau que estava na montra, enquanto acendia a vela por baixo da
travessa. Por outro lado, mostrou-lhes a panela e a decisão do casal foi
imediata: apontaram para a travessa de bacalhau com a vela por baixo.
- O sr.
Carlos faz-lhes o sinal de ok e informou – bacalhau assado.
E o casal
confirmou:
-“Baclau
asado”.
Comeram,
beberam e adoraram o pitéu.
No final,
para mostrarem o seu agrado, gratificaram o empregado com uma gorjeta de
trezentos escudos, que era o troco que iam receber.
Trezentos
escudos, na época, era a renda de uma bela casa!
Ainda hoje o
sr. Francisco suspira por outra igual, mas não tem sorte nenhuma!
Outros
tempos!
1/11/2022
impede o
riso,
os raios de
sol de entrarem,
ignora os
braços estendidos
prontos a
acolherem-te,
a existência
plena.
Tapa-te o
nariz
e nem te
deixa cheirar,
a menino ou
o menino que passa,
muito menos
ver a beleza do outro
e do mundo
que te ultrapassa
enquanto a
tristeza não passa.
Jorge C. Chora
30/10/2022
DE GATAS NA MATA
Adoro andar
de gatas na mata
e então, de quatro
é que dá mais jeito.
Quando se anda
para a frente e para trás
a apanhar na lata,
com toda a malta
a mexer e a lá meter,
ora agora metes tu,
ora agora mete ele,
tudo o que lá cabe,
seja a casca da banana
o ananás, o cartão,
e todo o lixo que na mata
deitam para o chão
E à malta, só dá jeito
andar de quatro,
a apanhar de gatas!
Jorge C. Chora
30/10/2022
Quem ama dá
tudo,
mesmo sem nada
dar,
mas há quem
tudo dê,
menos o amor
que era de esperar.
E se quem
ama tudo dá
e amor não
tem para dar
de nada vale
tudo o que dá!
Jorge C.
Chora
29/10/2022
Inspirado nas
laranjas algarvias
criou o
Senhor os finos e lindos seios
de diversos
tamanhos e feitios;
para guardar
os figos e as alcagoitas,
destinados
ao debicar dos(as) namorados(as),
criou os
umbigos fundos e perfeitos;
Para
desenhar nádegas belas e firmes,
bastou-Lhe olhar
para as peras-rochas;
Quanto ao
tesouro, o D. Rodrigo era perfeito,
e para o
guardar, os trapinhos de Vila Moura,
deixando
adivinhar sem mostrar,
o tamanhinho
do doce cobiçar sem o provar;
Quanto ao tom
de lagosta e camarão,
deixou-as
escolher, e como elas não são parvas,
optaram pelo paladar que queriam ter.
A Mulher é
uma criação portuguesa e algarvia!
E como não há
regra sem exceção,
Deus criou
também a Nicole Kidman.
Jorge C. Chora
28/10/2022
Ondula a cabeleira
negra e encaracolada,
e a cada passo dado
fica no ar a pureza
do perfume
da tília.
Toda ela relembra
a cerimónia
do chá,
a delicadeza
do pingo
escaldante,
aquecendo
a flor e o
desejo,
de a sorver inteira.
27/10/2022
Vitória gosta de dar nomes às coisas,
mas nem sempre as suas palavras
coincidem com as já estabelecidas.
Chama ao amor, Alberto, pelo modo
como ele beija a mão à mulher Dora;
amor também é como a amiga Flora
gosta, abraça e beija, a amiga Aurora;
e a troca de olhares entre Fabião e Fernão
e o seu recíproco dar de mão.
O nundo não seria mundo para Vitória,
sem Alberto e Dora, Aurora e Flora,
e as mãos dadas entre Fernão e Fabião
ou sem Frederica, outrora Frederico,
e Paula, noutras eras
chamado Paulo!
E a quem à Vitória ousa chamar tola,
é porque talvez não regule bem da bola!
Jorge C.
Chora
25/10/2022
Da copa das árvores choveram pequenos e rijos frutos
certeiros, dirigidos às cabeças dos rufias. Gozavam com a velha a quem chamavam
Bruxa, que adorava fazer as suas necessidades na mata e não notara a
proximidade daquela canalha.
Quando localizaram o local donde estavam a ser alvejados,
foi o bom e o bonito. Aos urros, começaram a galgar a árvore. Lá de cima, os
frutos pareciam rajadas. A cada insulto ela respondia com três, sem se mostrar
minimamente incomodada. Sabia que ia apanhar, mas tinha a certeza que ia dar
uma boa dezena de caneladas. Tinha nove anos e era criada ao Deus dará. Os
matulões tinham aproximadamente quinze e dezasseis anos.
Foi quando de repente ouviram um silvo, cuja proveniência
mais parecia vinda do inferno do que d’outro local qualquer. A Bruxa tinha
chamado os seus seis enormes cães que esperavam pelos rufias na base da árvore.
Tinham sido descuidados. Todos sabiam que ela andava sempre
acompanhada por aqueles cães infernais.
- Se quiserem sair ilesos, todos, mas todos, terão de beijar
os pés à menina!
-O quê? - insurgiu-se Ermelinda - Sujarem-me os pés que
estão tão limpinhos? E olhava-os, com um ar divertido para os seus pés, mais
porcos do que a esterqueira que tinha em casa.
A velha senhora só não fez chichi pelas pernas abaixo,
divertida com a cena, porque acabara de fazer.
Os perseguidores tiveram de correr quilómetros e de vez em
quando, um dos cães, ferrava-lhes os dentes nos fundilhos, embora sem os
aleijar.
Ao descer da árvore, Ermelinda questionou a velha senhora:
-Gosta de fazer chichi ao ar livre?
-Adoro e não é só isso! -Ermelinda deu uma gargalhada - eu também gosto, daquele ventinho nas
coisas…
A velha riu-se bem-disposta. Abraçou a petiza, suja e ainda
mais morena do que o seu falecido marido.
-Sabes que o meu marido era africano? Era médico. Quando
viemos para aqui, foi atropelado e morreu. Nunca foi identificado quem o
atropelou.
-Os meus sentimentos.
Também sou de África… os meus
sentimentos…
-Como acha que se sente quem o atropelou? - perguntou a
petiza por delicadeza.
- Arrepende-se todos
os dias de o ter morto…
Ermelinda deu-lhe um desconto. Coitada, o desgosto deu-lhe
volta ao miolo…
Seguiram ambas de braço dado até uma estranha vedação.
Colocou a mão num ramo e empurrou a cancela.
-Entras… ou tens medo de mim?
- Não, de si até gosto! É como eu! É meia selvagem…
Ermelinda não acreditou no que viu. Aquilo não era uma casa!
Um palácio ao pé do que via, e lembrou-se de vários de quando vivia em Lisboa!
Achou indelicado perguntar-lhe sobre o assunto. Continuaram
a ver-se. Tornaram-se amigas e as idas à mata, que ambas adoravam,
aproximaram-nas ainda mais.
Uma só condição lhe impôs a “Bruxa” para serem amigas: ir à
escola!
Durante seis meses não se viram! Ir à escola, isso é que era
bom!
Um dia os pais receberam a visita da “Bruxa”. Perceberam de
imediato, mesmo parecendo uma mendiga que estavam perante a dona das empresas
onde eles trabalhavam. Não era assim que ela aparecia. Ela surgia como uma
deusa, num automóvel gigante, preto e a brilhar, com um motorista sardento e
enorme.
A conversa foi breve:
- Amanhã, quero a vossa filha, com esta farda do colégio, à
minha porta, às 8.45m, com o banho tomado. Perceberam? Gosto dela como uma
filha, perceberam?
Quando o carrão preto, a brilhar, surgiu à porta do colégio,
os portões abriram-se de imediato e a diretora estava à espera da proprietária.
-Srª Diretora, apresento-lhe a Ermelinda que é como se fosse
a filha que não tenho. É inteligente e lutadora, mas insubordinada como eu. Ensine-a
a pensar e a avaliar as pessoas com rigor. Não a castigue. Quando ela se portar
mal, basta que não a deixe ir fazer as suas necessidades à mata!
-Ah, amiga de uma figa, agora é que me lixaste! -pensou
Ermelinda com a mão dada à amiga.
Jorge C. Chora
23/10/2022
Dá volta ao miolo,
o jovem ser
tolo,
vê-las
passar e nada de agradável dizer,
querer
elogiar e não poder
e não são só
eles a não poder falar
porque elas
também não podem piar
e dizer com
toda a força e convicção:
Ai se fosses
meu…
É mal visto,
é Me too é Me tua,
vão já à
loja e comprem um revólver,
quiçá uma
cartucheira e uma metralhadora,
para rimar
com o Me Too e Me Tua.
Fiquem por
cima ou por baixo,
tenham tido
o prazer que tiverem,
digam sempre
que foi para subir,
nada porque
lhes soube bem
ou porque
não quiseram dizer NÃO!
Jorge C. Chora
22/10/2022
Tenho saudades de quem desconheço,
deixo de as
ter quando as conheço.
Como as pessoas não são
o inverso do que são,
a culpa é
minha, por achar não serem,
aquilo que
afinal sempre foram e serão?
Jorge C.
Chora
21/10/2022
Enrola o vento
a saia à Rosa,
pétala cheirosa
de encantos feita,
repleta de magia
e secreto aroma.
É hissope perfumada,
com direito a turíbulo,
espargida pelas narinas
ávidas dos fiéis devotos.
Jorge C. Chora
20/10/2022
Irmã isabel,
desde infância só tinha um pensamento fixo: seguir a via religiosa, tornar-se
freira.
Foi uma
estudante aplicada e nunca deixou para o dia seguinte, o que poderia fazer
nesse dia.
Seguiu
estudos superiores em vários países e até teve a oportunidade de frequentar e
terminar, os seus estudos superiores na Universidade Pontifícia de Roma.
Regressou a
Portugal já com cerca de quarenta anos. Foi por essa altura que o seu corpo,
embora tardiamente, começou a despertar.
Os seus
pensamentos deixaram de se ocupar inteiramente com a vida de Cristo, e a concentrarem-se
um pouco mais em si.
Um dia
passou pelo jardim do convento e viu o jardineiro, sem que ele a tivesse visto,
a urinar a terra em redor das roseiras. Estremeceu de prazer. Não desviou o
olhar um segundo que fosse. Todos os dias, à mesma hora, presenciava, com o
maior dos prazeres, a rega efetuada, com todas as delongas, pelo jovem
jardineiro.
A visão do
jardineiro a usar o aparelho genital, tornou-se uma obsessão.
Esperava
religiosamente pela hora. Suava com abundância, antecipando o prazer que iria
sentir.
Não dormia,
mal comia e não pensava noutro momento senão naquele.
Após muitas
orações e penitências a si impostas, a que não faltou o cilício a marcar-lhe o
belo corpo e a infligir-lhe uma dor quase insuportável, tomou a decisão que há
muito deveria ter tomado. Confessar-se o mais rapidamente possível.
A custo
confessou o enorme tormento de que padecia. Foi-lhe dada uma penitência severa:
não mais passar por aquele local pecaminoso.
Um dia não
resistiu e desobedeceu. À hora exata, escondeu-se e predispôs-se a ver o
maravilhoso espetáculo. De repente, teve de encolher-se mais, pois o padre que
lhe impusera a penitência, vinha, pé ante pé, esconder-se atrás de uma moita,
bem colada ao jardineiro e ainda por cima, dotado de uns potentes binóculos!
A partir
desse dia, passaram ambos a partilharem o mesmo posto de observação e também os
binóculos!
Passado o momento, dirigiam-se ambos para a
capela conventual, onde rezavam dois Pais Nossos e uma Ave Maria.
Jorge C.
Chora
19/10/2022
Gostava de
beber um copo da mixórdia que nunca conseguiu descobrir de que era feita. Era
no Bar Pirata, em Lisboa, nos Restauradores. Não foi por falta de tentativas. O
homem do bar é que sabia dar-lhe a volta, disfarçar o assunto, fingir-se de
surdo.
Havia, no
entanto, algo estranho. Tinha a sensação de estar a ser seguido, um pouco mesmo ali, naquele bar.
Ao terceiro
dia, o Bar Pirata transbordava. Era praticamente impossível entrar mais alguém.
Teve de esperar. Quando conseguiu penetrar, apertado como sardinha em lata,
também entraram mais dois ou três clientes.
Enquanto
bebia o pirata, teve a nítida sensação de que lhe tinham mexido nos bolsos
traseiros das calças. Não ligou. Tanta gente encostada, umas às outras, era
impressão de certeza.
Ao pagar o
café no Paladium, teve a certeza de que lhe tinham revistado a carteira. O
Bilhete de Identidade, em vez de estar à frente, estava atrás do livro de
cheques.
Olhou em
redor. À sua frente reconheceu um estranho homem, de cabelo curto e olhos
cinzentos, metálicos. Sentia-se à distância que não era flor que se cheirasse.
Olhou-o com mais atenção. Tinha sido ele que estivera atrás de si, no Bar
Pirata. Tinha a certeza. Reparou melhor no volume que apresentava do lado
esquerdo, debaixo do braço: era uma arma de todo o tamanho. Pide? Não lhe
parecia. Não tinha aquele ar circunspecto e vaidoso de ser reconhecido como
pertencendo àquela organização.
Afinal quem
era o estupor? Encheu-se de coragem, levantou-se, aproximou-se da mesa do
sujeito e qual não foi a surpresa com o convite que lhe foi feito:
- Sente-se
sr. Carvalho!
Sentiu o
sangue gelar-lhe nas veias. Mas, logo de seguida, verificou que a pronúncia não
era portuguesa, mas americana.
-E o senhor
chama-se?
- Rosemary-
e estendeu-lhe uma mão suave e pequena.
-Observou-a.
Os olhos nada tinham de atemorizador. A voz era suave e bem modelada.
-Está
surpreendido por eu saber quem é. Onde vive e o que faz?
-Um pouco.
- Vim
investigar o pagamento de seguros que lhe fizemos. Se tinha havido alguma
tramóia ou jogo sujo na cobrança. Já verifiquei a honestidade do seu
procedimento e estou na posse dos dados que me permitem elaborar um relatório
seguro e verdadeiro.
Aos poucos,
o sr. Carvalho lembrou-se que já a vira inúmeras vezes e que ela já estivera na
sua loja, perto de sua casa e frequentara todos os locais onde ele ia, assim
como as suas amizades. Estava em Portugal há seis meses!
-E se eu não
tivesse sido honesto?
- A cara de
Rosemary endureceu. Levou a mão ao sovaco e mostrou-lhe a arma. Logo de seguida
mudou. Um sorriso aberto e um abraço espontâneo, bem apertado e uma confissão à
americana.
- Sei que
enviuvou, simpatizo consigo e não me importava de o conhecer ainda melhor!
Carvalho
arrepiou-se. Rosemary notou e disse-lhe:
-Não tenho
receio. Sou uma mulher apaixonada. Tirou os óculos, despenteou-se ligeiramente
e mostrou a sua feminilidade. Sorriu, abriu ligeiramente a blusa e mostrou uns
seios rosados, bem dimensionados, que logo cobriu de modo pudico.
O Resto da
história fica por sua conta.
Jorge C.
Chora
18/10/2022