sábado, 1 de fevereiro de 2014

Ouvi mal?

A jovem franziu o nariz, arqueou as sobrancelhas e deu-se ares de enjoada. Olhava para as pessoas   que a rodeavam como se elas tivessem uma doença contagiosa.

Os seus cabelos meio alourados, estavam apanhados no alto da cabeça e formavam um carrapito.

Uma das muitas senhoras  de  baixa estatura que a cercavam, mais mourisca do que uma andaluza, ao vê-la revirar os olhos, achou que aquele ar teatral era demasiado para o seu gosto e não se conteve:

-Este povinho que não tem onde cair morto…dá-se ares de importância, como se fossem banqueiras!

E foi aqui que a jovem loira, trineta de uma criada escocesa e de um bisnau das beiras, se abespinhou:

-Será que eu ouvi bem? Ela chamou-me povinho? Povinho, eu!?

-Não, ouviste mal, uma pessoa tão distinta como tu, podia lá ser do povo… - consolou-a  uma amiga , receando uma explosão de fúria por parte da descendente escocesa.


Jorge C. Chora