Ainda hoje sonho com os queques do patronato de Mangualde. Comia-os
há mais de cinco décadas, quando era aluno do Colégio de S. José e Stª Maria.
Estou a vê-los (antes estivesse na sua presença!): enormes, fofos, saborosos e a sair do forno. O
seu aroma povoava o espaço, e era a nota introdutória, o despertar das papilas
gustativas, a preparação das ditas para a recepção ímpar do ágape vindouro.
Mas se os bolos eram, só por, si um festival de doçaria, o
que dizer do néctar com o qual os acompanhava? Era um vinho branco encorpado, um
sumo delicioso e sujo, pouco alcoólico, mas divino e de fazer inveja ao próprio
Baco.
O repasto tinha, no entanto, um pequeno senão: não ouvíamos o
toque de entrada para as aulas, embora o patronato fosse mesmo em frente ao
colégio.
Ao sairmos tínhamos à nossa espera o director, dr. José
Alcântara, mais conhecido pelos alunos como Zeca, que distribuía democraticamente
um cachaço a cada um. A seguir levava-nos às respectivas salas de aulas, aguardava
que entrássemos e só depois se retirava, não fosse dar-nos a tentação de
regressarmos ao paraíso gastronómico. Isto tudo porque tinham passado uns três
minutinhos após o toque.
Tenho um vizinho que é da região de Mangualde e que me fala
sempre nestes bolos e na sua excelência. Um destes dias ainda perco a vergonha
e o proíbo de continuar a torturar-me.
Jorge C. Chora