Cresceu sem ninguém dar por ela, ao fundo do jardim, num
piscar de olhos. Perguntaram ao jardineiro que árvore era aquela e quando é que
fora plantada.
-Não faço a mínima ideia, não fui eu que a plantei.. – ele
bem suspeitava de quem tinha sido, mas não
se atrevia a dizê-lo - nunca vi nenhuma igual…Sei que é encantada e mais
nada…
-Como assim? - espantou-se
a directora do refúgio infantil.
- Quando as crianças se acolhem à sua sombra e lhe fazem
pedidos, ela escuta-os… -respondeu o jardineiro
A directora olhou-o, incrédula. Afastou-se dois passos e
tornou a olhá-lo, certificando-se de que ele estava mesmo à sua frente e que o
ouvira bem.
-Está a dizer-me que ela ouve as crianças?
-Sim…
Sempre achara aquele jardineiro um bocado estranho. Ela
sabia que ele fora ensinado por uma antiga professora que repreendia os
trovões, ralhava com o diabo e a quem os deuses temiam quando saiam da linha.
Já o vira a falar com as plantas, fazer-lhes festas, cantar e colocar-lhes
música para que a escutassem. Agora ele queria convencê-la de que a árvore
escutava as crianças e acedia aos seus pedidos!?
No dia seguinte, ao ver os gaiatos protegerem-se do sol sob
a frondosa copa, foi, pé ante pé, colocar-se à escuta.
-Com o calor que está, sabia-me bem uma laranja… - disse um
dos miúdos.
E a árvore inclinou-se um bocado e apresentou-lhe uma enorme
e suculenta laranja.
-E a mim, um morango, imaginem só… – disse a medo outro.
A directora arregalou o olho. Um morango!? Em Agosto e sem
ser de estufa!? Uma árvore que não é uma laranjeira e dá laranjas?
E o morango surgiu, grande e limpo, ao alcance da mão do
petiz.
A senhora sacudiu a cabeça. Beliscou-se, certificando-se que
estava acordada. Mas o que se passa aqui? Interrogou-se e resolveu tirar a
limpo a situação:
-Eu queria uma banana… - pediu com uma vozinha, imitando os
petizes, escondida dos seus olhares.
E a árvore inclinou-se e ofereceu-lhe uma enorme banana.
A directora estendeu a mão e quando ia colher o fruto pedido,
um ramo juntou-a aos pequeninos e disse:
-Junto deles conseguirá tudo…
E o jardineiro sorriu e disse para os seus botões:
-Será que consigo enxertá-la noutros jardins? Isto só pode
ser obra da minha tutora. Até tremo quando me lembro do trovão, que teve que
engolir o som, para não assustar os seus meninos! Do diabo que fugiu a sete pés
quando quis intrigar e, da corrida que deu aos deuses da discórdia, quando se
quiseram instalar na escola sob o pretexto de ser o melhor caminho!
E nesse mesmo dia, o jardineiro só parou depois de enxertar
todas as árvores das escolas da cidade.
Na tua escola há alguma árvore que fale?
Não deixes que a cortem!
Jorge C. Chora