Júlio sentava-se à soleira da porta da traseira de sua casa e ficava a contemplar a sua horta. O tempo estava seco e ele perscrutava o céu em busca de sinais de chuva. As alfaces bem precisavam dela, assim como os pepinos e os pimentos.
-Um pouco de
água vinha mesmo a calhar… - desabafou em voz alta.
O vizinho do
andar de cima, bem mais novo do que o Júlio, foi buscar um borrifador, estendeu
o braço para fora da janela e pôs-se a borrifar a água bem em cima do Júlio.
- Obrigado,
Senhor! Ouviste o meu pedido e vieste em meu socorro…agora pode ser que me
envies uma samarra para o inverno, que bem preciso dela!
E o vizinho,
de olhos arregalados, não se conteve e disse:
-Julgas que
eu sou o Pai Natal?
E o velho
contemplador da horta, como quem não quer a coisa e falasse para o além:
- Desceste
de categoria Senhor?
- Como
assim? – perguntou irritado o homem dos borrifos.
-Há bocado
falava com Deus e agora passaste a Pai Natal?
-Raios
partam o velho que julgava estar a falar com o Senhor… -abespinhou-se o aguadeiro improvisado
Diz-lhe que
sim, diz-lhe que sim, pensou Júlio para os seus botões, acabando por lhe dizer:
- Já que não
me ofereces nada, ofereço-te eu umas barbas falsas de Pai Natal.
Jorge C.
Chora
29/12/2021