sábado, 29 de maio de 2021

O PAI

 

O PAI

                                                                        I

Manuel e Rui eram amigos de longa data. Trabalhavam na mesma obra e viviam na mesma casa. Manuel tinha alugado um quarto na sua casa, ao seu amigo de infância. Filomena, a mulher de Manuel, era também da mesma aldeia e tinham andado todos na escola primária,onde tinham sido colegas de turma.

Após o trabalho, os amigos apressavam-se a ir buscar Filomena para uma ida ao café, e logo após a refeição, voltavam para tomarem a bica e conversarem com alguns amigos e conhecidos lá do bairro.

A vida corria-lhes tranquila , sem sobressaltos, numa rotina agradável.

Naquela terça-feira,o casal levantou-se cedo,tomaram o pequeno almoço quase a correr e com os olhos a brilhar, comunicaram ao Rui que o Manuel ia mais tarde para o emprego.

Rui,embora curioso, absteve-se de perguntar o motivo. Se os amigos não queriam dizer-lhe, era porque era um segredo que ao casal dizia respeito. Também não estava nada preocupado pois sabia que nesse mesmo dia, ficaria inteirado do que se passava, pois eles à noite contar-lhe-iam. Vira o amigo comprar uma série de bilhetes de lotaria. Era bom que lhes tivesse saído qualquer coisa que se visse. Fingiu estar de beicinho e o casal alinhou na brincadeira:


- Não sejas cusco …


Rui foi para a obra sozinho. Estavam a montar andaimes e de seguida iriam levar material para os andares superiores.

Manuel apareceu cerca das onze horas. Trazia um sorriso do tamanho do mundo. Transbordava de felicidade a olho nu. Rui, ao vê-lo naquele estado, ficou contagiado, mesmo sem saber o que se passava.

-Olha, nem sabes… - e não terminou a frase – um enorme barrote caiu do 5º andar, mesmo em cima do Manuel, desfazendo-lhe a cabeça.


                                                                         II


Quando Filomena viu o Rui àquela hora da manhã sem o Manuel, soube de imediato que algo

de grave se passara.

Ela não disse uma palavra ao ouvir a notícia. As lágrimas correram-lhe semanas a fio. Rui escondia-se nos cantos da casa e chorava a morte do seu amigo e irmão. Manuel era como um irmão.

A tristeza de Filomena metia dó. Ao fim da quarta semana,ela desabafou:


- E logo agora que o Manuel ia ter maior alegria da sua vida…


Rui nada disse. Esperou que Filomena completasse a frase.

E Filomena repetiu:


-E logo agora que o Manuel ia ter a maior alegria da sua vida…


E Rui esperou de novo que ela recomeçasse,agora já um pouco impaciente,pois adivinhava algo muito importante.


-Estou grávida...Manuel ia ser pai…


Rui desabou. Compreendia agora a alegria do seu amigo!Morreu no momento mais feliz e importante da sua vida e da sua Filomena!





                                                                         III

Rui não deixou que nada faltasse a Filomena. O mais difícil foi que ela aceitasse casar-se grávida, mas o facto do filho vir a nascer com um pai vivo,levou-a a agradecer e a aceitar a proposta de Rui.

Quando António nasceu, foi registado como filho de Rui e Filomena.

O casamento de Rui e Filomena só se consumou passados dois anos de casados. Foi só quando ambos se deixaram de sentir como irmãos e começaram a sentir-se atraídos como namorados, que a lua de mel se concretizou. Naquela tarde de Verão,ela aproximou-se dele e murmurou-lhe docemente ao ouvido:está na hora meu querido.

A delicadeza e a doçura de Rui, fizeram com que Filomena o amasse tanto como ele a amava.

O amor de Rui por ela foi tão grande, que respeitou o difícil pedido de Filomena, de não ter mais filhos para se poder dedicar por inteiro ao filho do Manuel. Rui vacilou mas percebeu a preocupação de mãe.

António foi educado com carinho , segurança e bons valores, por ambos.

Aos vinte anos já alcançara uma boa posição na pequena mas sólida empresa, de que viria a ser mais tarde o sócio principal.


                                                                                 IV


No dia que fez vinte e um anos e se tornava legalmente um adulto emancipado, Rui deu-lhe o dinheiro que levara a vida a juntar, para que ele conseguisse dar uma boa entrada para comprar uma casa. Deu-lhe um abraço apertado e disse-lhe:


- Há uma coisa muito importante que tens de saber. Eu e a tua mãe…

só te contamos porque há pessoas que sabem...não queremos que saibas por estranhos...


António franziu o sobrolho. Aquilo não lhe estava a agradar.

Ouviu sem respirar a história que os seus pais lhe contaram e reagiu:


-Ó pai porque é que me contaste isto! Não quero outro pai a não ser tu!Foste e és o melhor pai do mundo!


Rui viria a falecer anos depois e foi sepultado ao lado da campa de Manuel. Filomena, quando a sua hora chegou, ficou numa campa,que ela tinha previamente comprado, localizado no meio dos dois.



Jorge C. Chora


29/05/2021





segunda-feira, 24 de maio de 2021

O MUNDO DE HILÁRIO


                                                                           I

O jovem gerente saiu da empresa, duas horas após o seu fecho. Não foi uma excepção. Contavam-se pelos dedos os dias em que saíra mais cedo. Aquele horário nada tinha a ver com atrasos de serviço. Gostava de lá permanecer no sossego, envolto no silêncio, a ler os artigos dos seus jornais de eleição.

A verdadeira razão da sua permanência no trabalho fora de horas, estava relacionada com a ausência da Margarida, a sua namorada, a especializar-se numa universidade estrangeira.

Antes de conhecer a Margarida tinha um amiga mais velha, solteira, de mente arejada, que o seduzia e ele deixava-se seduzir, numa base semanal . Laura era uma mulher interessante. Culta, independente economicamente, um tanto ou quanto rebelde, que o satisfazia e se satisfazia plenamente, sem hesitações, culpas ou arrependimentos. Ambos aferiam o grau de contentamento mútuo, quando enlouquecidos de prazer , gritavam o nome um do outro e ouviam as sapatadas dadas pela vizinha na parede, enquanto gritava:

-Desenvergonhados… desenvergonhados…

Caíam suados e exaustos dormindo um breve sono reparador. Despediam-se e falavam ao telefone quando era preciso. Quando o desejo apertava, geralmente passada uma semana, Laura dizia-lhe:

-Hiláriozinho… - e ele sabia-a necessitada de carinhos- o diminutivo dizia tudo.

E a cena das sapatadas da vizinha repetia-se, pelo menos duas vezes em cada visita de Hilário a Laura.

Quando Margarida entrou na vida de Hilário, Laura, que não a conhecia, deu-lhes espaço e afastou-se.


                                                                           II


No dia em que Margarida regressou a Portugal, Hilário ficou de a ir buscar ao aeroporto de Faro.

Ela viera num voo de baixo custo e Hilário fazia questão em esperá-la pessoalmente mas, azar dos azares, dera uma pequena queda e partira uma perna. Laura ofereceu-se para o acompanhar e levou-o no seu carro.

Mal Laura viu Margarida, foi invadida por uma estranha sensação de ternura por aquela jovem desengonçada, alta e risonha que após beijar o namorado, a abraçou de modo estreito e confiante.

A intuição feminina disse-lhes que ambas amavam o mesmo homem, mas não eram rivais. E vieram de mãos dadas, sentindo-se amigas.

Hilário estava no céu com a sua Margarida de regresso. Laura sentia uma certa tristeza porque acabara de confirmar, aquilo que nunca quisera admitir: amava Hilário. Por outro lado sentia-se contente, porque Hilário seria amado por alguém que ela sentia merecê-lo e com quem simpatizava. Estava tudo bem.

Margarida, não sabia a razão, mas sentia Laura como uma amiga .

E a vida voltou à normalidade. De regresso a Lisboa, Hilário retomou o seu trabalho, enquanto a namorada preparava e enviava currículos às empresas.

As horas após o trabalho, nunca mais foram passadas na empresa. Apanhava um táxi e voava para a sua Margarida.

O único incómodo diário que sentia, era o maldito gesso. A perna não estava a sarar como devia. A fratura estava a causar-lhe problemas. Pior do que isso, detestava andar de táxi, queria voltar a conduzir e não era o carro. Adorava andar de mota. Chegar com a maior das facilidades, de modo rápido, ao emprego e a casa.

Mal se viu livre do gesso foi buscar a mota. Partiu alegre e livre para os seus afazeres. No regresso a casa, já com a Margarida no pensamento, passou distraído o sinal vermelho quando uma viatura pesada ia a atravessar o cruzamento.

Do lado contrário da avenida, Laura, no segundo lugar da fila, assistiu ao desastre. Um pressentimento assaltou-a: é o Hilário! Saiu a correr da viatura. A mota era a dele e o capacete também. Tinha sido ela a oferecer-lho. Era ele. Por breves segundos perdeu os sentidos. Recuperou e viu-o. Não se enganara. Hilário estava morto.

                                                                            III

Foi Laura quem avisou Margarida. Levou-a para sua casa, cuidou dela com todo o desvelo, pois Margarida não estava capaz de nada. A sua recuperação foi difícil. Teve de ser internada e alimentada a soro durante semanas. Laura visitava-a várias vezes por dia até ela ter alta e regressar a sua casa. Um dia, enquanto ajudava Margarida a pentear-se, Laura beijou-a e foi correspondida. À noite, Laura deixou-lhe na almofado, uma rosa vermelha e uma folha de papel, onde tinha escrito, em letras garrafais “amo-te”.A declaração estava assinado com a marca dos seus lábios deixada pelo batom. Tinha decorrido um ano e ambas decidiram assumir o amor que sentiam uma pela outra.

A fotografia de Hilário com as duas no aeroporto de Faro, todos de mãos dadas, ganhou lugar de destaque.

Recusavam-se a esquecer o homem que ambas tinham amado e que as juntara num novo amor.

Agora, dia sim dia não, a vizinha atira o sapato à parede e brada:

- Desenvergonhadas ...desenvergonhadas…

Laura e Margarida nunca se envergonharam do amor que sentiam uma pela outra.

Na data de aniversário da morte de Hilário, o seu túmulo foi sempre ornamentado com duas rosas.



Jorge C. Chora

24/05/2021



sábado, 22 de maio de 2021

O VERBO "AIAR"

Quando a dor é grande

e não há palavras

ou elas não saem,

surgem “ais” em vez delas.

E se um “ai “é dor,

mais forte do que ela

são os “ais” em cadeia,

expressão de dor

para a qual não há palavras

ou elas se recusam a sair.

Já diferente é o “aiar”

do malandro,

vício do profissional

do queixume e do calote,

do ai eu isto, ai eu aquilo,

como estou triste

e ninguém me liga,

não há malvado

a pagar-me um copo,

o que vai ser mim,

ai eu... ai eu... ai eu….


Jorge C. Chora

22/05/2021

quinta-feira, 20 de maio de 2021

CRIANÇAS EM TEMPO DE PANDEMIA

 

Estão tramadas,

caladas,

mascaradas,

confinadas,

sossegadas,

sentadas,

danadas,

apertadas,

encaloradas,

desgraçadas,

imobilizadas,

forçadas

a estar aninhadas,

enclausuradas,

em suma:

asfixiadas,

proibidas

de serem crianças.


Jorge C. Chora


21/05/2021

domingo, 16 de maio de 2021

JOÃO E MARIA

 

                                                          

                                                                      I

No primeiro dia de aulas, João Schneider reparou em Maria Vitória. Admirou-lhe o porte, a elegância no andar, o pescoço comprido e delgado, a simplicidade requintada no vestir. Tudo nela lhe agradou.

Schneider era filho de mãe portuguesa e pai sul-africano, de origem alemã. Devido às consecutivas viagens dos pais para Portugal, por motivo de negócios, estes resolveram internar o filho num colégio, preparando uma futura fixação definitiva no país.

João aproximou-se de Maria, apresentou-se e perguntou-lhe:

-Não conheço aqui ninguém. Tu conheces?

-Também não…  respondeu Maria, algo surpreendida pela abordagem tão direta.

- Importas-te que fique ao teu lado na carteira? -perguntou-lhe João.

Envergonhou-se de dizer não, assentiu com um aceno de cabeça.

Quando os professores os quiseram colocar em lugares distintos, João, com um sorriso cativante, esclareceu:

- Eu e a Maria somos amigos, damo-nos muito bem e estamos habituados a estar juntos sempre que podemos.

Para surpresa da Maria, não lhes fizeram perguntas, o argumento colheu e deixaram-nos lado a lado.

Maria olhou, pela primeira vez, com olhos de ver, o seu companheiro de carteira. Olhos enormes e castanhos, uma cabeça grande e cabeluda. O nariz também grande e um tanto batatudo, uma boca carnuda e os dentes, ai os dentes! alinhados e perfeitos!

Quanto à altura, tinham os dois sensivelmente a mesma. Simpatizou com ele, embora o achasse um tanto ou quanto atrevido, o que na verdade, até nem lhe desagradou. Por ela, levaria bastante tempo a aproximar-se, por simples timidez.

Tornaram-se unha e carne. Só quando as aulas terminavam se separavam. Ela ia para a parte feminina do colégio e ele para a masculina.

Em seu redor formou-se um grupo heterogéneo de amigos, entre os quais se contavam a Filipa, da Ilha Terceira, Edgar, de Cabo Verde, Tomé, do Algarve e Louise, uma parisiense, filha de emigrantes portugueses.

                                                                     II

 

Para além das aulas e dos intervalos em que estavam juntos, só aos domingos se encontravam de novo, pois a ida à missa era obrigatória. No período da tarde, só podiam sair durante duas horas, acompanhados pelos prefeitos, após as quais tinham de regressar ao colégio.

O encantamento entre João e Maria foi crescendo dia a dia. Passaram a dar-se as mãos sempre que podiam. À medida que o tempo passava, as mãos estavam sempre dadas mesmo nas aulas, pois João era ambidextro e podia escrever com a mão esquerda, tendo a direita ocupada a segurar a mão da Maria.

O primeiro beijo não tardou. Foi ao de leve, um roçar de lábios, mas contou como beijo, quando a professora se voltou para o mapa. Eram oficialmente namorados e a turma testemunhou a data, o acontecido, o inédito da situação, o beijo em plena aula de geografia!

Daí por diante foi um sufoco, encontrar ocasiões para se poderem beijar e abraçar, sem que a situação fosse notada e alvo de recriminações por parte dos prefeitos ou dos docentes.

Temiam todos os dias serem separados, não poderem estar de mãos dadas, a pressionarem e a afagarem com o polegar, as costas das mãos um do outro.

Os colegas protegiam-nos, formavam círculos em seu redor, fingiam jogos de empurra para que eles se abraçassem nos intervalos, sob os olhares inquisitoriais dos vigilantes sem que eles se apercebessem.

Os domingos eram aguardados com ansiedade. Tinham descoberto um modo de se encontrarem na igreja. Maria deixava-se ficar na última fila das alunas do feminino e devagar, ia recuando, fila a fila até se juntar aos rapazes e ao João. Depois, sorrateiramente, protegidos pelos colegas, escondiam-se no confessionário.

Era a hora do paraíso. Descobriram-se mutuamente, tocando-se onde nunca tinham pensado.

Todos os domingos, a santa missa era sagrada e o ofício da entrega, era oferecido à Virgem, com todo o amor, e por isso, merecedor de perdão.

Tantas foram as vezes que foram ao confessionário que o inevitável aconteceu: A bela e terna Maria engravidou.

Após um período de escândalo, aliás bastante curto, ambos os pais, certos do amor dos filhos,

resolveram casá-los.

 A cerimónia decorreu na presença de largas centenas de convidados e também dos colegas e amigos do casal. A nenhuma das famílias faltava dinheiro e posição social.

O dia do nascimento do bebé foi aguardado com espectativa por todos.

A data chegou mais cedo do que o esperado. O recém-nascido era prematuro, nasceu saudável

mas de uma cor diferente dos pais.

Só Maria e os seus pais se alegraram. As perguntas ficariam para depois, o que interessava agora era o bebé, pensaram os grandes proprietários portuenses.

João e os pais, mal se aperceberam do caso, renegaram o filho de Maria:

-Não é nosso! Só Maria sabe de quem é! Ela que fique com ele!

E Maria ficou com o seu príncipe, a quem só não sufocou com beijos por milagre.

João acusou Edgar de ser o pai, de o ter traído, mas quanto a Maria, essa, era uma meretriz.

 

                                                                     III

O irmão mais velho de Edgar era médico e um apaixonado pela genealogia. Achou muito estranho o caso, até porque o seu irmão padecia de azooespermia devido a um grave acidente tido na infância.

Este jovem médico já ouvira falar de um caso semelhante, que seu pai lhe contara na sua adolescência. Não se recordava se o pai tinha lido, se ouvira ou se imaginara…

De qualquer modo, a pista para deslindar o caso, lembrava-se vagamente, residia nos antepassados…

Dotado da certidão de casamento de Maria, o médico aproveitou estar de férias, foi à Torre do Tombo e durante um mês, dedicou-se ao seu passatempo preferido.

Recuou no tempo e no espaço e deslindou o caso. Os antepassados da mãe de João Schneider descendiam de escravos da região de uma freguesia alentejana que tinham, curiosamente. sido alforriados por um rico antepassado da Maria, que se viria a casar com uma rica herdeira do Douro Vinhateiro quando lá fora tratar de negócios.

Uma escrava alforriada, tinha-se casado com um artífice alemão, um tal Scheneider e tinham partido para África.

Maria viria a apaixonar-se pelo irmão de Edgar. Nunca mais quis saber de João Scheneider que felizmente desapareceu sem deixar rasto e não poluiu a mente do filho da bela e terna Maria.

 

Jorge C. Chora

16/05/2021

segunda-feira, 10 de maio de 2021

A VARINHA MÁGICA

Sorriu ao ver a neta a apontar-lhe a caneta, como se fosse uma varinha mágica:

-Avô, agora és o Pai Natal!

E o avô, coçou a barba e disse-lhe:

-E a minha menina linda quer…

-Ir ao parque e depois ao supermercado comprar gomas…

-Está bem. Quando parar de chover, vamos…

E a menina tornou, pelo sim, pelo não, a apontar-lhe a caneta-varinha:

-Não te esqueças! Quando a chuva parar….

Mal o tempo permitiu, a promessa foi cumprida.

A caminho do super, um estranho pedinte barrou-lhes o caminho e exigiu-lhes 100 euros para a gasolina!

Pelo canto do olho, o avô viu a neta a apontar-lhe a caneta e ordenar:

-Avô, torna-te num dragão…

E o avô cresceu, duplicou de tamanho e berrou com quanta força tinha:

-Ponha-se a andar daqui porá fora!

E o meliante, perante o alerta e ao ver várias pessoas a pararem, desistiu dos intentos e foi-se embora.

A menina olhou para a varinha, espantada, e resolveu testá-la de novo:

-Avô, em vez de um saco de gomas, quero dois!

 

    Jorge C. Chora

     10/05/2021

sábado, 8 de maio de 2021

O PATO


Repousa à sombra, estendido e relaxado, o grande pato, que é pai, avô e bisavô da patada em seu redor.

As patas do galinheiro são todas suas e nunca permitiu a aproximação a nenhum rival. Os que tentaram, ainda hoje se queixam da sova recebida.

O problema deste grande pato, é que à medida que envelheceu, o seu apetite foi crescendo e agora não lhe chegam as patas, também persegue as galinhas com objetivos libidinosos.

Ontem, o dono do pato, apanhou-o a perseguir o galo, com intuitos pouco claros.

Depois de o observar com atenção, concluiu que que as intenções do pato diziam mesmo respeito a uma tentativa de reprodução. O galo fugia espavorido, eriçando a crista, anunciado não ser galinha, mas o grande pato fez-se de lucas e truca, ferrou-lhe o pescoço por entre cócórocós e o bater de asas. O desgraçado escapou por um triz aos apetites do avantajado pato.

E quando o dono, desiludido com o seu reprodutor dos reprodutores, se queixava da sua recente tara pelas galinhas e até pelo galo, eis que o seu empregado lhe diz:

- Ele já não sabe se é pata, galo ou galinha…

-Como assim?! – espantou-se o dono.

-Ele está cego…

-Ah! Logo vi…- exclamou o dono- Pato velho perdeu a visão mas não o vício!

 

Jorge C. Chora

8/05/2021

segunda-feira, 3 de maio de 2021

CONVITE

De seus lábios

jorram palavras de amor,

ao ritmo do desejo

de quem as ouve,

com o ardor

de quem ama

e quer ser amada,

descerrando seus

lábios,

num convite ao amor.

 

  Jorge C. Chora

     3/05/2021

sábado, 1 de maio de 2021

O DIA DA MÃE

 AS MÃES SÃO SERES QUE DÃO ETERNO "MARSÚPIO" AOS SEUS FILHOS.

JORGE C. CHORA

1/05/2021