Surgiu enlutada e pesarosa na mercearia do bairro. O tom das
conversas baixou de imediato, até que elas foram cessando e deram lugar a um
silêncio sepulcral.
-O que aconteceu D .Sebastiana?
-Então não sabem?!
-Ainda não…mas gostaríamos de saber…
-O rapaz que morreu era tão bom…um verdadeiro santo. Tinha
uma saúde de ferro…
-Às vezes é assim…os que parecem estar bem… -concordou D.
Quitéria.
-Mas afinal de quem se trata? - perguntaram alguns dos
presentes.
-Era o rapaz que aqui vinha comprar quase sempre feijão
verde e batatas para a sua mãe…
Já intrigados e um pouco enervados por ainda não saberem
quem afinal entregara a alma ao Criador, perguntaram :
-Afinal como se chamava o rapaz? Era filho de quem? Onde
morava?
E D.Sebastiana voltava a carpir a desgraça:
-Tão novo e uma morte tão estranha…
E os ouvintes tornaram a interessar-se:
-Como foi que morreu?
-Se contar não acreditam…
-Acreditamos… -responderam em uníssono.
-Sentado na sanita!
Os ouvintes franziram a testa. Uma morte sem dúvida diferente.
Um rapaz morrer sentado numa sanita é algo estranho. Depois de muito rebuscarem
a memória em busca de quem ele era, confessaram:
-Continuamos sem saber quem era o rapaz!
-Era o Severino…-revelou, muito compungida D. Sebastiana ,enquanto se benzia três vezes e o encomendava – Deus o tenha em
descanso, que ele bem merecia.
-O Severino? Mas que idade tinha o falecido?
-Era um rapaz de 76 anos. Tão novo e vai fazer tanta falta…
Olharam-se, incrédulos, os presentes. E, quando D.
Sebastiana se preparava para continuar a lamentar o Severino, os presentes
interromperam-na:
-Ó D. Sebastiana….o defunto embora não fosse muito velho,
também estava longe de ser um rapaz!
-O pior de tudo, é que foi uma morte de mer.. – concluiu
Bernardo.
Até hoje, D. Sebastiana, recusa-se a falar ao Bernardo e não
se digna, sequer, a olhá-lo.
Jorge C. Chora
-