Em tempos que já lá vão, muitos achavam que, só o que era
estrangeiro era bom. Na época, a língua francesa ainda estava na moda, assim
como a cultura e os produtos da mesma origem.
Uma boa parte dos nacionais tinha familiares a trabalharem
naquele país e diziam à boca cheia:
-Tenho inúmeros familiares a viverem em Paris…vivem lá há
imenso tempo…numa casa apalaçada…
O que se esqueciam de dizer era que a casa, era dos
patrões…adiante, pormenores de pequena monta.
Nabo e Coelho, velhos conhecidos, trabalhavam na restauração
e achavam que os seus nomes não lhes traziam uma importância por aí além e
resolveram afrancesar-se.
O senhor Nabo baptizou-se como monsieur Nabeais e o outro
como monsieur Lapin.
Montaram um restaurante” trés chic”: Nabeais et Lapin. A ementa, de acordo com as
boas regras, era escrita em francês, em letras garrafais, e em português, em
letrinhas minúsculas.
O Cenoura, colega de escola de ambos, ao descobrir os novos
nomes dos antigos condiscípulos, resolveu divertir-se às suas custas. Irrompeu no
restaurante, mas quando se preparava para abrir as goelas, verificou que os
amigos se encontravam rodeados por várias senhoras. Parou, indeciso, e foi visto
pelos afrancesados que exclamaram:
-Amigo Carotte, há quanto tempo não nos víamos. - e voltaram-se
para as senhoras e apresentaram-no formalmente -O nosso amigo de longa data,
monsieur Carotte …
E o Cenoura, após as apresentações, honrando o reencontro:
-Há quanto tempo não nos víamos meus bons amigos Nabeais e
Lapin… que saudades daqueles tempos em que degustávamos coelho com nabos e
cenouras….
Jorge C. Chora
8/4/2018