A minha avó Eleonora, de seu nome completo Eleonora D
’Abreu Ramos da Silva, viveu a maior parte da sua vida na Ilha de Moçambique. Era
casada com um militar, o meu avô, e tiveram seis filhos, um dos quais, era a
minha saudosa e falecida mãe Regina.
Ontem,26/7/18, faleceu a sua irmã mais velha, Branca
Ramos da Silva Pereira e agora só me sobeja a minha tia Odete, a quem desejo
mais saúde e força .
A minha avó Eleonora era um espanto. Ficou surda muito
nova, após ter contraído uma constipação de alto lá com ela. Adorava conversar
e tinha imensa pena de não conseguir ouvir. Lia os lábios dos interlocutores.
Na sua ânsia de escutar, nunca recusou testar
aparelhos auditivos. Quando lhe perguntavam se já estava a ouvir com o novo
aparelho que estava a testar, dizia logo que sim. Os médicos, alertados para as
suas competências de leitura labial, colocavam-se nas suas costas e
falavam-lhe. Era o mesmo que nada. Nunca conseguiu ouvir bem. Com muita pena
sua, teve sempre de ler os lábios.
Ria com facilidade e o seu humor era contagiante e
notável. Um dia, em Lourenço Marques, resolvemos, eu e o meu irmão, dizer-lhe
que havia um cavalheiro de idade que rondava a casa e nós julgávamos que ele
estivesse interessado em conhecê-la. Acrescentámos que o senhor era um militar
e suspeitávamos que fosse um general…
- Oh! Um general? Coitadinho…ainda se fosse um
tenente! - e ria-se a pensar no seu falecido marido, meu avô, um tenente coronel
de antanho, que a encheu de filhos e morreu cedo.
Quando lhe nascia um bisneto(a) exclamava:
-Linda(o)! Também não tinha a quem sair feio!
Eleonora era muito meiga e beijoqueira. Adorava os
netos e extasiava-se com os bisnetos, embora não os visitasse com a frequência desejada,
pois mal conseguia andar. Morreu como viveu: com um sorriso nos lábios,
enfrentando todas as adversidades.
Jorge C. Chora
27/7/18