Sentava-se no banco de pedra da conversadeira, na amurada
junto ao mar, pelas dez horas da manhã. Os frequentadores locais guardavam-lhe
o lugar. Trouxera boa fama ao sítio, outrora mal frequentado.
Às dez em ponto o senhor, que era alto e gordo, chegou.
Minutos depois surgiram três gatos vadios, companheiros assíduos que
pressentiam a sua chegada e por ali se deixavam estar enquanto ele ali
permanecia.
Ninguém sabia ao certo o que ele fazia ou sequer se
trabalhava. O que todos reconheciam era a sua simpatia e disponibilidade para
conversar. Criou fama de trazer sorte a todo o tipo de namorados que com ele
dialogavam: os laços que os uniam, daí em diante reforçavam-se e as paixões
tornavam-se duradouras.
Com o tempo firmou créditos e passou a ser designado como
Conselheiro. O sr. Conselheiro isto…o sr. Conselheiro aquilo…
Não tardou muito até que a sua fama se estendesse a outros
públicos para além dos apaixonados. Começaram a rondar o local toda a espécie
de investidores e homens de negócios mas sem quaisquer resultados práticos ou
melhor, todos eles com algo em comum: todos acabaram por falir.
Um belo dia chegou ao local outro homem, também alto e gordo,
que abraçou efusivamente o Conselheiro. Intrigados, verificaram, que não conseguiam
saber qual deles era o Conselheiro: eram irmãos gémeos.
E foi aí que deslindaram o que se passava. O recém-chegado,
tão loquaz quanto o irmão, explicou: este meu irmão é o homem mais bondoso que
conheço. É conselheiro matrimonial e poeta. Quanto a negócios é o mais
azarado…entregou-me a mim os negócios e agora vive feliz e contente.
A partir desse dia, durante uma hora, as duas conversadeiras
ficaram reservadas aos dois manos: a da esquerda é frequentada pelos namorados
e a da direita pelos negociantes.
Ninguém mais foi à falência.
Se a leitora(or) tem vontade de amar e de fazer bons
negócios, já sabe: procure ouvir de modo crítico os conselheiros das
conversadeiras, que os há um pouco por todo o lado e acima de tudo, não
confunda negócios e amor que este é algo muito mas muito especial.
Jorge C. Chora
21/2/2018