Entrava como uma seta. Ao balcão pedia um café e uma
miniatura e desandava para a sua mesa. Era sempre a mesma. Comia depressa o que
encomendara.
Seleccionava as moedas necessárias para pagar e ia batendo
com uma delas no tampo da mesa. Com os olhos fixos só ele sabia onde ia
batendo, de modo ritmado durante uns minutos.
De repente tudo mudava. As batidas transformavam-se em
longas, curtas e muito curtas. Era essa a impressão que causavam a quem
escutava e se ia irritando à medida que o som se impunha e chamava a atenção
dos presentes.
A cena repetia-se todos os dias, mais minuto menos minuto,
há anos. Um dia, sem que nada o fizesse prever, quando o senhor começou a bater
com a moeda, ouviu-se um tamborilar em tudo idêntico, vindo do canto oposto da
sala.
De início o nosso homem nem se apercebeu que alguém batia
como ele. Um bocado depois, tomou consciência dos sons e descodificou a
mensagem:
-Durante anos procurei-te. Não tive sorte. Há dias, quando
me disseram que um idoso como eu se sentava num café e passava horas a
tamborilar, soube que só podias ser tu.
-És tu António ? – perguntou, em morse – E soergueu-se, em busca do amigo que não via há trinta anos.
Tinham sido telegrafistas de profissão, colegas de curso,
colocados a milhares de quilómetros de distância um do outro. Era raro o dia em
que não comunicavam. No meio do mato, tinham hora marcada para a troca das
poucas notícias a que iam tendo acesso. Tinham sido trinta e seis anos de
serviço, sempre em bolandas, transferidos segundo as necessidades de serviço
existentes. Nunca tinham deixado de comunicar, até ao momento em que foram
colocados em diferentes províncias do império e se reformaram.
A partir desse dia, à hora combinada, encontram-se, apertam
as mãos e cada um vai para o seu canto tamborilar, para desespero de quem lá
está à mesma hora.
Jorge C. Chora