sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

UM SIMPLES SORRISO


O simples sorriso
que desenhei no vidro
embaciado da janela
do meu quarto,
é leve como uma pena,
valioso como uma pérola,
precioso como a fita
de seda que envolve amor.

Jorge C. Chora


29/12/17

sábado, 23 de dezembro de 2017

A CORNETA DOURADO DO PAI NATAL



O menino pediu tantas prendas que na noite em que o Pai Natal foi a sua casa entregá-las, ficou preso na chaminé.

Os presentes não chegaram a nenhuma parte do mundo e os meninos interrogavam-se:

-O que está a acontecer…?

- Esqueceram-se de mim?

E em todas as casas a surpresa foi a mesma.

Foi de madrugada que o menino, em cuja casa o Pai Natal estava preso na chaminé, deu por isso, ao ouvir uns gemidos.

- Pai Natal o que fazes aí? Porque não desces?

E o Pai Natal respondeu-lhe:

-Olha… os pedidos que fizeste todo o ano foram tantos, que os brinquedos entupiram a chaminé e poucos sobraram para os outros meninos…

-E agora?

-Se me disseres que posso dá-los, consigo empurrá-los, libertar-me e com alguma ajuda, ainda fazê-los chegar a casa dos outros meninos…

-Claro que sim…se precisares de ajuda é só dizeres…

-Muito obrigado, vai à rua e sopra nesta corneta, com toda a força que tiveres… -e deixou cair uma pequena corneta metálica dourada.

Na rua, cumpriu o pedido feito. O céu encheu-se de auxiliares do Pai Natal, uns magros e outros gordos, sendo uns muito altos e outros baixos, vindos da mesma terra daquele que acabara de sair da sua chaminé.

E nesse Natal não houve meninos sem presentes, embora nenhum tivesse recebido uma linda corneta metálica dourada igual à sua.


Jorge C. Chora

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

UM COPO DE LEITE PARA O PAI NATAL



Em casa dos meus netos, os presentes natalícios vão sendo colocados ao lado da árvore de natal, à medida que os pais os vão recebendo, sem que aqueles os vejam lá arrumá-los.
Os pais justificam tal facto, dizendo que o Pai Natal está sobrecarregado e só pode trazê-los aos poucos.
Este ano, o Francisco estranhou que a dez dias do Natal houvesse ainda tão poucos presentes.
- Há muitos presentes para ele transportar… -recordou-lhe a mãe.
Ontem surgiram mais alguns presentes, os pequenos rejubilaram e o Francisco desabafou:
- Até que enfim….
-“infim”…- secundou a pequena Caetana.
Francisco olhou de relance para os embrulhos e sugeriu à mãe:
-Não era melhor deixar ao pé da árvore, um copo de leite e um pacote de bolachas para o Pai Natal? Ele está um pouco fraquinho…

Jorge C. Chora

19/12/2017

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

MEU AMOR,MINHA FLOR



A teus pés nasceu uma flor
cujo nome não sei qual é,
sei que é amarela
e que talvez seja um girassol.
O que sei,
isso sim,
é que a esperança
floresceu em ti,
e pouco importa que a flor
fosse uma rosa ou um girassol
pois a verdadeira flor,
é a dona dos pés,
 à beira dos quais nasceu a flor
que não sei se era rosa ou girassol.

Jorge C. Chora

15/10/2017

domingo, 10 de dezembro de 2017

A MAGIA DOS TEUS OLHOS



Reflectem os teus olhos,
uma noite de luar,
um convite para bailar,
 envolvendo a lua
 e as estrelas
que há no céu.
 Ao raiar o dia,
surge o sol
que encadeia,
encanta e dança
com a lua,
e os teus olhos quentes
cintilam e derretem
qualquer resistência
à magia do teu olhar.

Jorge C. Chora


 10/12/2017

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A SENHORA DA CABELEIRA AMARELA



 A senhora da cabeleira amarela, tem 93 anos e fuma, à janela, três maços por dia. Perdida e achada é à janela que ela está. Cumprimenta e fala com muita gente enquanto fuma.
O fumo sobe e assenhoreia-se-lhe do cabelo que, ao longo dos anos e envolto em fumaça, se tornou amarelo.

Uma filha, com paciência de santa, ainda não desistiu de a aconselhar a deixar o tabaco e a outra, rendeu-se à evidência e traz-lhe os cigarros. Enquanto a divergência perdura, a senhora aproveita a brecha e fuma, uns a seguir aos outros. Vai poupando em perfumes, impregnada de cheiro a fumo e também na coloração do cabelo, que se tornou amarelo desde que os vizinhos se recordam da Dona fumar à janela e dos mais novos julgarem que ela já nasceu debruçada naquele peitoril.

Pode haver quem passe por ela e lhe possa sugerir que aquilo lhe faz mal à saúde? Talvez e a resposta, se não é dada é pensada e devolvida:

-Peça a Deus que lhe dê a idade e a saúde que eu tenho.

-Mas se não fumasse, vivia mais tempo e com mais saúde… -podiam dizer-lhe.

-Acha que sim … - responderia de forma sarcástica.

Antecipando o conselho, ninguém lhe pergunta nada, antes que a senhora da cabeleira amarela, as convença a seguir a sua receita de longevidade.


Jorge C. Chora

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O SACRIFÍCIO DOS SAPATOS APERTADOS



A senhora arrasta-se, por assim dizer. Pernas e pés, só por mero acaso lhe obedecem.

-E pensar eu que com estas e com estes-  e aponta para as pernas e pés - ia a todo o lado, descalça ou calçada, conforme me deixassem ou melhor, me autorizassem…

Fala para quem está ao pé. Faltam-lhe as forças. Devagar e em voz muito baixa, desfia o rosário para quem a ouve ou finge ouvi-la. Embora idosa, sente-se que a senhora está sobretudo cansada.
Aproveita o facto de se ter queixado dos pés e recorda a história que tem em mente, lá do seu Alentejo:

- Houve um dia um baile lá na minha terra. Resolvi ir, mas não podia comparecer descalça. O único par que tinha apertava-me de tal modo que era já um suplício pensar em usá-los. Ainda por cima estavam todos molhados, devido à chuva que tinham apanhado.  Foi necessário secá-los ao calor da lareira. Ficaram duros, muito duros, mas nada de alargarem: encarquilharam-se. À força, consegui calçá-los e dirigi-me ao baile.

-Então aí é que se fartou de dançar… - arrisquei.

-Qual quê…a minha mãe passou ocasionalmente pelo local, viu-me e mandou-me ir para casa.

-Então todo o esforço foi inútil?

-Não…pelo contrário…

Nesse momento fiquei confuso. Dores nos pés, regresso a casa sem usufruir o momento e tinha valido a pena?

-Sim…foi lá que vi, o homem que viria a ser o meu marido! Não dancei, mas ficou debaixo de olho…

É caso para se dizer que desejo de alentejana é só um querer adiado, à espera de ser concretizado. Bem concretizado, digo eu, que ainda conheci o felizardo-catrapiscado.


Jorge C. Chora