domingo, 30 de outubro de 2022

TRISTEZA


 A tristeza é papel pardo,

impede o riso,

os raios de sol de entrarem,

ignora os braços estendidos

prontos a acolherem-te,

a existência plena.

Tapa-te o nariz

e nem te deixa cheirar,

a menino ou o menino que passa,

muito menos ver a beleza do outro

e do mundo que te ultrapassa

enquanto a tristeza não passa.

         Jorge C. Chora

        30/10/2022

DE GATAS NA MATA ( ÀS MENINAS(OS) COM JEITO PARA CANTAR NAS FESTAS POPULARES)

 


 DE GATAS NA MATA

Adoro andar

de gatas na mata

e então, de quatro

é que dá mais jeito.

Quando se anda

para a frente e para trás

a apanhar na lata,

com toda a malta

a mexer e a lá meter,

ora agora metes tu,

ora agora mete ele,

tudo o que lá cabe,

seja a casca da banana

o ananás, o cartão,

e todo o lixo que na mata

deitam para o chão

E à malta, só dá jeito

 andar de quatro,

 a apanhar de gatas!

 

Jorge  C. Chora

  30/10/2022

sábado, 29 de outubro de 2022

QUEM AMA

 

Quem ama dá tudo,

mesmo sem nada dar,

mas há quem tudo dê,

menos o amor que era de esperar.

E se quem ama tudo dá

e amor não tem para dar

de nada vale tudo o que dá!

 

Jorge C. Chora

29/10/2022

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

A CRIAÇÃO DIVINA


Inspirado nas laranjas algarvias

criou o Senhor os finos e lindos seios

de diversos tamanhos e feitios;

para guardar os figos e as alcagoitas,

destinados ao debicar dos(as) namorados(as),

criou os umbigos fundos e perfeitos;

Para desenhar nádegas belas e firmes,

bastou-Lhe olhar para as peras-rochas;

Quanto ao tesouro, o D. Rodrigo era perfeito,

e para o guardar, os trapinhos de Vila Moura,

deixando adivinhar sem mostrar,

o tamanhinho do doce cobiçar sem o provar;

Quanto ao tom de lagosta e camarão,

deixou-as escolher, e como elas não são parvas,

 optaram pelo paladar que queriam ter.

A Mulher é uma criação portuguesa e algarvia!

E como não há regra sem exceção,

Deus criou também a Nicole Kidman.

 

            Jorge C. Chora

               28/10/2022

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A CADA PASSO

 

Ondula a cabeleira

 negra e encaracolada,

 e a cada passo dado

 fica no ar a pureza

do perfume da tília.

Toda ela relembra

a cerimónia do chá,

a delicadeza do pingo

escaldante, aquecendo

a flor e o desejo,

de a sorver inteira.

 

 Jorge C. Chora

27/10/2022

terça-feira, 25 de outubro de 2022

VITÓRIA E O AMOR


Vitória gosta de dar nomes às coisas,

mas nem sempre as suas palavras

coincidem com as já estabelecidas.

Chama ao amor, Alberto, pelo modo

como ele beija a mão à mulher Dora;

amor também é como a amiga Flora

gosta, abraça e beija, a amiga Aurora;

e a troca de olhares entre Fabião e Fernão

e o seu recíproco dar de mão.

O nundo não seria mundo para Vitória,

sem Alberto e Dora, Aurora e Flora,

e as mãos dadas entre Fernão e Fabião

ou sem Frederica, outrora Frederico,

 e Paula, noutras eras chamado Paulo!

E a quem à Vitória ousa chamar tola,

é porque talvez não regule bem da bola!

         Jorge C. Chora

         25/10/2022

domingo, 23 de outubro de 2022

A BRUXA E A PIRRALHA

 

Da copa das árvores choveram pequenos e rijos frutos certeiros, dirigidos às cabeças dos rufias. Gozavam com a velha a quem chamavam Bruxa, que adorava fazer as suas necessidades na mata e não notara a proximidade daquela canalha.

Quando localizaram o local donde estavam a ser alvejados, foi o bom e o bonito. Aos urros, começaram a galgar a árvore. Lá de cima, os frutos pareciam rajadas. A cada insulto ela respondia com três, sem se mostrar minimamente incomodada. Sabia que ia apanhar, mas tinha a certeza que ia dar uma boa dezena de caneladas. Tinha nove anos e era criada ao Deus dará. Os matulões tinham aproximadamente quinze e dezasseis anos.

Foi quando de repente ouviram um silvo, cuja proveniência mais parecia vinda do inferno do que d’outro local qualquer. A Bruxa tinha chamado os seus seis enormes cães que esperavam pelos rufias na base da árvore.

Tinham sido descuidados. Todos sabiam que ela andava sempre acompanhada por aqueles cães infernais.

- Se quiserem sair ilesos, todos, mas todos, terão de beijar os pés à menina!

-O quê? - insurgiu-se Ermelinda - Sujarem-me os pés que estão tão limpinhos? E olhava-os, com um ar divertido para os seus pés, mais porcos do que a esterqueira que tinha em casa.

A velha senhora só não fez chichi pelas pernas abaixo, divertida com a cena, porque acabara de fazer.

Os perseguidores tiveram de correr quilómetros e de vez em quando, um dos cães, ferrava-lhes os dentes nos fundilhos, embora sem os aleijar.

Ao descer da árvore, Ermelinda questionou a velha senhora:

-Gosta de fazer chichi ao ar livre?

-Adoro e não é só isso! -Ermelinda deu uma gargalhada -   eu também gosto, daquele ventinho nas coisas…

A velha riu-se bem-disposta. Abraçou a petiza, suja e ainda mais morena do que o seu falecido marido.

-Sabes que o meu marido era africano? Era médico. Quando viemos para aqui, foi atropelado e morreu. Nunca foi identificado quem o atropelou.

-Os meus sentimentos.  Também sou de África…  os meus sentimentos…

-Como acha que se sente quem o atropelou? - perguntou a petiza por delicadeza.

 - Arrepende-se todos os dias de o ter morto…

Ermelinda deu-lhe um desconto. Coitada, o desgosto deu-lhe volta ao miolo…

Seguiram ambas de braço dado até uma estranha vedação. Colocou a mão num ramo e empurrou a cancela.

-Entras… ou tens medo de mim?

- Não, de si até gosto! É como eu! É meia selvagem…

Ermelinda não acreditou no que viu. Aquilo não era uma casa! Um palácio ao pé do que via, e lembrou-se de vários de quando vivia em Lisboa!

Achou indelicado perguntar-lhe sobre o assunto. Continuaram a ver-se. Tornaram-se amigas e as idas à mata, que ambas adoravam, aproximaram-nas ainda mais.

Uma só condição lhe impôs a “Bruxa” para serem amigas: ir à escola!

Durante seis meses não se viram! Ir à escola, isso é que era bom!

Um dia os pais receberam a visita da “Bruxa”. Perceberam de imediato, mesmo parecendo uma mendiga que estavam perante a dona das empresas onde eles trabalhavam. Não era assim que ela aparecia. Ela surgia como uma deusa, num automóvel gigante, preto e a brilhar, com um motorista sardento e enorme.

A conversa foi breve:

- Amanhã, quero a vossa filha, com esta farda do colégio, à minha porta, às 8.45m, com o banho tomado. Perceberam? Gosto dela como uma filha, perceberam?

Quando o carrão preto, a brilhar, surgiu à porta do colégio, os portões abriram-se de imediato e a diretora estava à espera da proprietária.

-Srª Diretora, apresento-lhe a Ermelinda que é como se fosse a filha que não tenho. É inteligente e lutadora, mas insubordinada como eu. Ensine-a a pensar e a avaliar as pessoas com rigor. Não a castigue. Quando ela se portar mal, basta que não a deixe ir fazer as suas necessidades à mata!

-Ah, amiga de uma figa, agora é que me lixaste! -pensou Ermelinda com a mão dada à amiga.

Jorge C. Chora

23/10/2022

 

 

 

sábado, 22 de outubro de 2022

ME TOO, ME TUA

 Dá volta ao miolo,

o jovem ser tolo,

vê-las passar e nada de agradável dizer,

querer elogiar e não poder

e não são só eles a não poder falar

porque elas também não podem piar

e dizer com toda a força e convicção:

Ai se fosses meu…

É mal visto, é Me too é Me tua,

vão já à loja e comprem um revólver,

quiçá uma cartucheira e uma metralhadora,

para rimar com o Me Too e Me Tua.

Fiquem por cima ou por baixo,

tenham tido o prazer que tiverem,

digam sempre que foi para subir,

nada porque lhes soube bem

ou porque não quiseram dizer NÃO!

 

      Jorge C. Chora

      22/10/2022

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

DESILUSÃO

 Tenho saudades de quem desconheço,

deixo de as ter quando as conheço.

Como as pessoas não são o inverso do que são,

a culpa é minha, por achar não serem,

aquilo que afinal sempre foram e serão?

 

Jorge C. Chora

21/10/2022

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

A ROSA


Enrola o vento

a saia à Rosa,

pétala cheirosa

de encantos feita,

repleta de magia

e secreto aroma.

É hissope perfumada,

com direito a turíbulo,

espargida pelas narinas

ávidas dos fiéis devotos.

Jorge C. Chora

  20/10/2022

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

A CONDENADA


Irmã isabel, desde infância só tinha um pensamento fixo: seguir a via religiosa, tornar-se freira.

Foi uma estudante aplicada e nunca deixou para o dia seguinte, o que poderia fazer nesse dia.

Seguiu estudos superiores em vários países e até teve a oportunidade de frequentar e terminar, os seus estudos superiores na Universidade Pontifícia de Roma.

Regressou a Portugal já com cerca de quarenta anos. Foi por essa altura que o seu corpo, embora tardiamente, começou a despertar.

Os seus pensamentos deixaram de se ocupar inteiramente com a vida de Cristo, e a concentrarem-se um pouco mais em si.

Um dia passou pelo jardim do convento e viu o jardineiro, sem que ele a tivesse visto, a urinar a terra em redor das roseiras. Estremeceu de prazer. Não desviou o olhar um segundo que fosse. Todos os dias, à mesma hora, presenciava, com o maior dos prazeres, a rega efetuada, com todas as delongas, pelo jovem jardineiro.

A visão do jardineiro a usar o aparelho genital, tornou-se uma obsessão.

Esperava religiosamente pela hora. Suava com abundância, antecipando o prazer que iria sentir.

Não dormia, mal comia e não pensava noutro momento senão naquele.

Após muitas orações e penitências a si impostas, a que não faltou o cilício a marcar-lhe o belo corpo e a infligir-lhe uma dor quase insuportável, tomou a decisão que há muito deveria ter tomado. Confessar-se o mais rapidamente possível.

A custo confessou o enorme tormento de que padecia. Foi-lhe dada uma penitência severa: não mais passar por aquele local pecaminoso.

Um dia não resistiu e desobedeceu. À hora exata, escondeu-se e predispôs-se a ver o maravilhoso espetáculo. De repente, teve de encolher-se mais, pois o padre que lhe impusera a penitência, vinha, pé ante pé, esconder-se atrás de uma moita, bem colada ao jardineiro e ainda por cima, dotado de uns potentes binóculos!

 

A partir desse dia, passaram ambos a partilharem o mesmo posto de observação e também os binóculos!

 Passado o momento, dirigiam-se ambos para a capela conventual, onde rezavam dois Pais Nossos e uma Ave Maria.

 

Jorge C. Chora

19/10/2022

terça-feira, 18 de outubro de 2022

MISCELÂNEA

 


Gostava de beber um copo da mixórdia que nunca conseguiu descobrir de que era feita. Era no Bar Pirata, em Lisboa, nos Restauradores. Não foi por falta de tentativas. O homem do bar é que sabia dar-lhe a volta, disfarçar o assunto, fingir-se de surdo.

Havia, no entanto, algo estranho. Tinha a sensação de estar a ser seguido, um pouco  mesmo ali, naquele bar.

 Dali saia para o Café Paladium, jogava um pouco de bilhar com uns amigos ocasionais e depois seguia para a loja. Era uma grande papelaria onde também se vendiam máquinas de teclado Azerty e Qwerty, por ordem expressa de Salazar, por decreto de 1936 ou 37.

Ao terceiro dia, o Bar Pirata transbordava. Era praticamente impossível entrar mais alguém. Teve de esperar. Quando conseguiu penetrar, apertado como sardinha em lata, também entraram mais dois ou três clientes.

Enquanto bebia o pirata, teve a nítida sensação de que lhe tinham mexido nos bolsos traseiros das calças. Não ligou. Tanta gente encostada, umas às outras, era impressão de certeza.

Ao pagar o café no Paladium, teve a certeza de que lhe tinham revistado a carteira. O Bilhete de Identidade, em vez de estar à frente, estava atrás do livro de cheques.

Olhou em redor. À sua frente reconheceu um estranho homem, de cabelo curto e olhos cinzentos, metálicos. Sentia-se à distância que não era flor que se cheirasse. Olhou-o com mais atenção. Tinha sido ele que estivera atrás de si, no Bar Pirata. Tinha a certeza. Reparou melhor no volume que apresentava do lado esquerdo, debaixo do braço: era uma arma de todo o tamanho. Pide? Não lhe parecia. Não tinha aquele ar circunspecto e vaidoso de ser reconhecido como pertencendo àquela organização.

Afinal quem era o estupor? Encheu-se de coragem, levantou-se, aproximou-se da mesa do sujeito e qual não foi a surpresa com o convite que lhe foi feito:

- Sente-se sr. Carvalho!

Sentiu o sangue gelar-lhe nas veias. Mas, logo de seguida, verificou que a pronúncia não era portuguesa, mas americana.

-E o senhor chama-se?

- Rosemary- e estendeu-lhe uma mão suave e pequena.

-Observou-a. Os olhos nada tinham de atemorizador. A voz era suave e bem modelada.

-Está surpreendido por eu saber quem é. Onde vive e o que faz?

-Um pouco.

- Vim investigar o pagamento de seguros que lhe fizemos. Se tinha havido alguma tramóia ou jogo sujo na cobrança. Já verifiquei a honestidade do seu procedimento e estou na posse dos dados que me permitem elaborar um relatório seguro e verdadeiro.

Aos poucos, o sr. Carvalho lembrou-se que já a vira inúmeras vezes e que ela já estivera na sua loja, perto de sua casa e frequentara todos os locais onde ele ia, assim como as suas amizades. Estava em Portugal há seis meses!

-E se eu não tivesse sido honesto?

- A cara de Rosemary endureceu. Levou a mão ao sovaco e mostrou-lhe a arma. Logo de seguida mudou. Um sorriso aberto e um abraço espontâneo, bem apertado e uma confissão à americana.

- Sei que enviuvou, simpatizo consigo e não me importava de o conhecer ainda melhor!

Carvalho arrepiou-se. Rosemary notou e disse-lhe:

-Não tenho receio. Sou uma mulher apaixonada. Tirou os óculos, despenteou-se ligeiramente e mostrou a sua feminilidade. Sorriu, abriu ligeiramente a blusa e mostrou uns seios rosados, bem dimensionados, que logo cobriu de modo pudico.

O Resto da história fica por sua conta.

Jorge C. Chora

18/10/2022

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

SAUDADES DO ALGARVE

O laranjal da Manuela, assemelha-se a um delicado jardim: dobra-se uma folha e ela fica a saber e a cheirar, a uma algarvia-mourisca.

Jorge C. Chora

16/10/2022

sábado, 15 de outubro de 2022

UM AMOR NASCIDO NA RELVA E NA LAMA

 

Às 15 em ponto iniciava-se o jogo. O relvado estava lamacento e caia uma chuva miudinha.

A moeda foi lançada o ar e a sorte calhou às Azúis. As Cinzentas acataram, mais uma vez a prioridade das adversárias.

As quedas sucediam-se e algo prenunciava qualquer coisa menos boa.  Enlameadas e escorregadias, as jogadoras empenhavam-se no jogo. Os embates davam-se segundo a segundo. Os treinadores olharam para o relógio assim como os árbitros. Quando o árbitro principal, após conferenciar com os auxiliares, ia dar por terminado o jogo, o acidente deu-se:

Helena chocou com uma companheira de equipa e perdeu os sentidos. Guida, da equipa adversária, precipitou-se para Helena, pegou nela ao colo e correu para o gabinete mé dico.

As lágrimas corriam-lhe pelas faces. Helena continuava desacordada e o coração de Guida batia descompassado. A velocidade com que corria era tanta que ninguém notou as lágrimas.

Não havia médico, nem enfermeiro nem massagista. Tinham avisado que chegavam mais tarde.

Guida era médica, mas optou pelo desporto e suspeitou da gravidade do caso e da sua urgência. Fez-lhe uma gola Imobilizadora. Tornou a pegar-lhe ao colo, embora tudo indicasse ser contraproducente, e correu como uma louca para a sua enorme carrinha volvo. Enquanto a ajeitava o melhor que podia, beijava-lhe a testa enlameada e aflorava-lhe os lábios, enquanto pedia a todos os santinhos que a auxiliassem.

Helena começou a dar acordo de si e apercebeu-se do amor que Guida lhe tinha.Helena apertou-lhe levemente a mão. Ela já se apercebera de uma certa queda que tinha pela Guida, mas nunca dera nada a entender, com receio de não ser correspondida pela aquela bela e terrível gigante.

Guida chorou todo o caminho e fez dúzias de telefonemas para as amigas médicas que tinham sido suas alunas.

Não lhe largou a mão desde que chegou ao hospital e a testa que estava anteriormente suja, estava limpíssima à custa dos beijos de Guida.

Helena, já safa do problema, puxou Guida para si quando não estava ninguém na sala e beijou-a apaixonadamente.

- Deixa-me que te beije novamente Guida!

- Quantas vezes quiseres e tiveres na vontade, meu amor!

E foi assim que duas adversárias, todos os intervalos que tinham, se escondiam num armário e se beijavam ternamente, fingindo as colegas que não sabiam de nada!

Não houve nenhuma festa, dada pelas Azúis ou pelas Cinzentas, em que não fossem ambas convidadas.

No dia em que foram viver juntas, foram apadrinhadas por quinze madrinhas, tantas eram as jogadoras das duas equipas.

Jorge C. Chora

15/10/2022

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

L'ASSSSSIN DU 21

 

L’ASSASSIN DU 21

Il tue n’importe qui,

des femmes

des nourissons

des gamins.

Je vous aime

je m’em fiche ici,

la famille, les emfants,

et des amies !

Quand será-t il mort

il demande :

laisses-moi mar plus aucune

gamins,femmes or infants,

pour morrir heureux

et les chaussures pleines de pisses !

Jorge C. Chora

13/10/2022

 

O CRIADOR DE RIQUEZA

 

Passeava na sua caleche, com um monograma gravado a ouro, com uma incrustação de espantar, tal a riqueza de pormenores. A outra porta da caleche, em nada lhe ficava atrás.

Os bancos forrados a seda, eram absolutamente extasiantes. Bordados a ouro e a seda, tinham dado trabalho a dúzias de verdadeiros artistas.

Os aros dos rodados, pintados a ouro velho, a cada volta que davam produziam, ós de espanto e inveja, parecendo capturar o sol para os seus rodados.

Mas o mais curioso de tudo é que se dizia que só o turbante, valia quase o recheio do palácio, pois era constituído por rubis e pelas mais raras pérolas quaog.

A admiração pela figura do velho rico, raiava uma verdadeira admiração, um verdadeiro endeusamento.

Um dia o Sr. Chang, reconheceu o homem rico como o serviçal da casa apalaçada dos seus antepassados, na China. Os seus serviços eram utilizados nas latrinas do palacete, para que ele limpasse o rabo com uma esponja, como era uso na época, aos habitantes  da casa. Entrou ao serviço quando era ainda uma criança e por lá permaneceu longos anos. Tornou-se um fiel amigo do avoengo, um serviçal de confiança, sendo bem recompensado pelos conselhos que lhe dava.

Libertado desse serviço, foi dotado de uma considerável fortuna pelos serviços prestados. Veio para Lisboa e no Terreiro do Paço, naquelas recuadas épocas, fazia um vistão.

Ming, o neto do Chang, por vã vaidade, em breve divulgou o antigo emprego a que se dedicava o antigo empregado do seu antepassado.

Não se preocupou o ancião, com a divulgação do seu antigo ofício.

Um dia, Ming, o jovem bisneto do seu antigo patrão, já pobre, devido ao vício do jogo e do consumo das drogas orientais, foi oferecer-se para o antigo ofício a que se dedicava o idoso, por ter gastado toda a fortuna da família. Qual não foi o seu espanto ao encontrar, o lugar para o qual se vinha oferecer, ocupado pela sua irmã, reduzida à pobreza, até aí a mais rica da família e tratada como uma verdadeira familiar, pelo grande amigo do seu falecido antepassado.

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Jorge C. Chora

13/10/2022

 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O BARCO

 Pela telha partida do telhado,

viu a estrela e soube da novidade:

Nascera-lhe um irmão!

Não dormiu o resto da noite toda.

Magicou no que lhe podia oferecer.

Dinheiro não tinha, só tinha seis anos,

mas tinha a vontade e a certeza de lhe dar algo!

E foi a ouvir as ondas do mar a lamberem-lhe a barraca

que decidiu oferecer-lhe um barco, com velas, leme

camarote de capitão, leme interior e exterior

para os dias da acalmia, proteções para bombordo e estibordo,

e uma gávea para estar com o irmão em dias de tempestade.

Ainda de madrugada serrou madeiras, cortou mastros,

das suas cuecas de morangos descoloridos fez velas

e de manhãzinha, feita a obra, foi ver o mano, abriu a janela

e segredou-lhe: maninho fica a ver o teu barco, daqui do teu quarto!

Acercou-se da água, colocou-o no mar e ficou a vê-lo navegar!

Uma onda grande e inesperada levou-lhe o barco.

Lançou-se ao mar e foi incapaz de regressar:

-Não te aflijas mano, eu guardo o barco, até ao dia em que o venhas buscar! e acenava-lhe de longe, enquanto as ondas a engoliam.

 

Jorge C. Chora

12/10/2022

terça-feira, 11 de outubro de 2022

O ESPANTA-CAVALOS

 

Nunca foi bom de assoar. Raro era o dia em que não dava uma coça em alguém. Nasceu nas barracas que hoje já foram abaixo. Todos os dias havia sobressaltos: botijas de gás que explodiam, pauladas, homens que se enfiavam nas barracas dos outros, gritinhos de prazer que escapavam em momentos inoportunos.

Era temido por todos e fazia dos outros o que queria. Um dia não viu o cavalo no escuro da estrebaria, e de modo sorrateiro, foi-se enfiando pelo escuro dentro, em busca dos arreios do bicho que lhe davam jeito para vender… Azar dos azares. Era a cavalariça em que o espanta-cavalos tinha o hábito de penetrar à sorrelfa e dar uma daquelas sovas de criar bicho ao desgraçado do animal.

O cavalo, há quem diga e afirme a pés juntos, que o topou logo na entrada e o deixou entrar, como se não tivesse dado por ele.

De repente, sem ninguém esperar, deu-lhe um coice daqueles bem dados, nas partes.

Acordou três dias depois, no hospital, desorientado, na enfermaria feminina. De imediato palpou os seus documentos e não os encontrou.

Berrou pelas médicas, pelas enfermeiras, pelo pessoal auxiliar e também pelo da limpeza, não fosse dar-se o caso de terem e varrido, inadvertidamente, o penduricalho para o lixo.

Acorreram todas numa aflição espantosa, julgando tratar-se de um caso de morte súbita e irreversível.

Inteiradas do assunto, acalmaram a doente, foram-lhe buscar um grande espelho, formaram uma grade roda e pediram-lhe de forma delicada e assaz feminina:

- A menina veja só o espanto de vagina, com que foi alindada. Todas queríamos uma igual à sua: perfeita, de tamanho ideal, perfeita para uso diário.

Tem, aliás, uma lista de espera gigante para conseguirem uma igual à sua!

Jorge C. Chora

11/10/2022

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

PEDAÇOS D'ALGODÃO

 

Sorrisos são pedaços de algodão,

andando cautelosos, pé ante pé,

tateando a reação do outro,

a ver como reagem, se sorriem ou não,

podendo oferecer os dentes brancos e inteiros,

numa oferta de paz, quiçá d’amizade ou d’amor.

Jorge C. Chora

1º/10/2022

domingo, 9 de outubro de 2022

UMA RECEPÇÃO MEMORÁVEL

Vinte anos fazia a casa. Tudo foi preparado com pompa e circunstância e a devido tempo. As caves estavam repletas de Moet & Chandon e acepipes de primeira.

O velho e fiel Gaspar, estava, como sempre, de guarda às preciosidades não fosse o diabo tecê-las.

Os convidados foram chegando a pouco e pouco, por ordem inversa de importância, saindo das suas viaturas faiscantes, conduzidas por modelos femininos saídas das telas cinematográficas.

Madame Graetel, fascinante no seu vestido de tule transparente, afivelava o seu sorriso de conquistadora de jovens interessantes, a quem desviava para os cantos do jardim.

Aproximando-se a hora dos acepipes, foram serviços amuse-bouche da melhor qualidade juntamente com rodadas de Moet & Chandon.

Na cave, o velho Gaspar ia-se alampando com o belo Moet, aos quais ia juntado umas velhas zurrapas há muito esquecidas na cave, sobejos das festas dos empregados para que não parecessem vazias.

Madame Graetel fez as honras da casa. Num dia quente, bebeu de um trago a flute que lhe coube, sem notar que era proveniente de garrafa do velho Gaspar.

A seu lado, o gentleman de Las Casas Y Casa Grande, habituado aos sofisticados aromas emanadas pelas deliciosas nádegas, percebeu logo o que se passava. Com um sinal disfarçado, ordenou que lhe trouxessem do seu carro, a caixa de perfumes, e os assistentes foram borrifando o fedorento traseiro da Madame Graetel.

Finda a festa, o velho e guloso Gaspar, teve de beber, todos os dias, em frente de toda a criadagem, as garrafas por ele batizadas, sendo a única concessão feita aos restantes empregados, o uso de máscaras para não ficarem eternamente com caras de que tudo cheirava mal.

Jorge C. Chora

9/10/2022

 

sábado, 8 de outubro de 2022

BADOCHA


 

Badocha era o cúmulo da organização. O exemplo inultrapassável da programação ao milímetro, o programador exemplar.

Coube-lhe a planificação de uma visita a um parque de animais, destinada a estrangeiros. Verificada a lista de material necessária à viagem, antes da partida, três vezes foi reverificada.

No segundo dia de viagem, o jipe deixou de andar. As aflições das clientes começaram: uma tinha dores de barriga, duas outras, vontade de urinar. Duas assistentes ainda jovens, estenderam lençóis em frente dos pipis das madames e uma terceira, montou uma cortina na parte de trás. Acabado o serviço. Colocaram-lhes à disposição, toalhetes perfumados hipoalérgicos.

A um gesto do Badocha, saíram do carroção rebocado pelo Jipão, quatro matulões, transportando uma enorme maca, com um grande orifício a meio, e uma lona que se abria e fechava, onde instalaram um grande funil que encaixava no depósito do jipe.

Badocha não bebia água, só gin e uísque lacrado, puro. A um sinal de Badocha, deitaram-no de barriga para baixo, com a braguilha previamente preparada, levantaram a maca, apontaram--na ao funil e durante meia hora, procederam ao enchimento do tanque.

Finda a operação, as assistentes, distribuíram chocolates enquanto delicadamente iam pedindo:

-All Aboard! Please!

De mil em mil quilómetros a operação repetia-se, motivo pelo qual o Badocha tinha no tablier do Jipão, um inesgotável fornecimento de gins das melhores marcas e de uísques das melhores proveniências.

-Não era preferível trazerem reservas de gasolina? - perguntaram.

E o Badocha, delicadamente, devolveu a pergunta:

- E o cheiro a gasolina?

 

Jorge C. Chora

8/10/2022

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

O FADO DA DADINHA

Ninguém soube ou quis

dizer-lhe, os caminhos

e desvios pelo rio tomados,

nem as canas nem as ervas,

incluindo as mais daninhas

para que ele em vão chorasse

a morte da sua amada Dadinha.

Nunca houve mulher mais amada,

nem mais maldosa e fingida

no falso amor dedicado,

a quem tanto a idolatrava.

Banhava-se nua com outro,

deleitava-se no seu néctar,

nos lenços de cambraia

pelo amado oferecido,

com desdém se limpava.

Deitou as roupas ao rio,

fingiu-se de morta e o amante,

nunca mais deixou de a carpir.

Envergonham-se a canas,

as ervas daninhas e os seres

mais pestilentos ali residentes,

das imundas velhacarias da Dadinha,

que continua a deleitar-se,

no mesmo rio, nas mesmas águas,

com todos os incautos que apanha!

         Jorge C. Chora

           7/10/2022

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A MESA DO INGLÊS


Na enorme esplanada com vista mar, tendo em frente um belo relvado repleto de cadeiras de descanso, notava-se o cuidado de nenhuma das cadeiras retirar a visão, quer da terra quer do mar, a qualquer dos ocupantes. Um exímio trabalho de distribuição geográfica.

Ao lado de cada lugar de repouso, existia uma mesa de apoio, dotada de um frappé, previamente fornecido de gelo, com uma pequena campainha de cristal, para o caso de serem necessários mais cubos refrescantes.

Mister George, o dono, tem uma visão total, cimeira, e em vez de uma mesa de apoio tem três.

Ninguém sabe a idade que tem e ai de quem lhe pergunte: leva com olhar gélido que lhe passa de imediato a curiosidade.

O Clube é altamente reservado. Cada um toma o sol que quer, como quer, seja novo ou menos novo, nu ou semivestido e ninguém se incomoda com isso.

E quando Mister George, pede mais gelo, é para dentro dos calções e não para o gin. E quando os empregados olham para as clientes despidas, chama o seu amigo, o velho chefe da sua confiança e diz-lhe:

-Mister John, este precisa de gelo…

- Yes, mister George…

 O requinte e a sobriedade, continuam a ser apanágio do velho e mui respeitada “HOUSE OF GEORGE”

Jorge C. Chora

6/10/2022


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

NO BAIRRO DO FEDE-FEDE


A casa era aceitável, localizada numa pequena praça, com um jardinzinho de margaridas. Alugaram-na para a benjamim da família. Vinha estudar antropologia, seguindo os passos do seu adorado avô, ainda que a contragosto do mesmo: muito esforço para poucas contrapartidas - mas se gostas- e inchava de orgulho pela opção da neta.

Depressa se apercebeu o velho progenitor, de que o bairro não só tinha má fama, como também os próprios moradores a alimentavam, através de uma teia de “mentideiros”. Tudo o que dele se propalava, acaba por ser verdade ou ainda pior.

Deu uma volta pelo bairro da neta. Bebeu um copo aqui e outro ali, pagou umas cervejas e soube que a fonte da má-língua era proveniente da taberna, em frente da casa da sua neta.

Num dia de casa cheia, o velho sábio, acompanhado de outros netos, a maior parte de informática, foi jantar a esse local. A determinada a altura, ligaram o computador em alto som e anunciaram aos clientes, com muito ênfase, que a própria televisão ia falar do restaurante

-Silêncio gritou o dono:

- Estamos na TV! Nem um pio!

E o noticiário relatava que uma instituição tinha atribuído um avultado prémio devido à qualidade de vida, conservação, cuidados dedicados às praças e jardins do bairro, e que a contestação tinha sido imediata por parte de todos os bairros circundantes. O motivo unanimemente alegado, era a má-língua! O prémio tinha sido de imediato retirado!

Nesta altura, o restaurante em peso se virou para o dono, e sem dizer uma palavra fingiu estar a chorar!

-Ah! Grandes canalhas! Quem dá e tira vai para o inferno! Eu logo vi que as bebedeiras e as zaragatas que esses tipos da TV armaram aqui, iam dar mau resultado! - bradava o arruaceiro do taberneiro da má-língua.

 

 

Jorge C. Chora

5710/2022

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O COCA-BICHINHOS

 

 

Quando Filipe anunciou o seu propósito de ir para academia de polícia, os pais entreolharam-se e nada disseram. Não eram os seus sonhos. O pai sonhava vê-lo como um matemático e a mão com um investigador de doenças raras.

Ficaram triste e calaram a sua tristeza. Afinal, a vida era dele. No curso ficou conhecido como o coca bichinhos: nada lhe escapava. Terminou-o com brilhantismo.

Casou-se com uma senhora, por quem se apaixonou, sem qualquer referência, caída do céu.

Teve como primeira colocação uma bonita e desenvolvida Vila.

Logo no primeiro mês, começou a notar frequentes ausências da esposa. Achou de mau tom interrogá-la sobre onde ia e o que fazia…

A vila começou a olhá-lo de viés. Algo se passava. Pôs-se em campo e descobriu um armazém semiabandonado, no meio da vila, donde provinham gritinhos de prazer que não lhe eram estranhos.

Abriu a porta e o que viu derrubou-o. A sua mulher, nua, a fazer amor, com um estranho. Nunca mais foi o mesmo.

Na vila já todos sabiam. Afogou quanto pode, as suas mágoas na bebida do bar da Ermelinda.

Ermelinda simpatizava com Filipe. Arranjou-lhe uma sala no interior do bar para que não o vissem beber e falou-lhe francamente.

-O senhor chefe não se vai penalizar-se por uma má escolha que fez. Para a frente é que é o caminho. Cabeça levantada e para próxima, uma escolha com mais critérios!

Um dia apareceu morta uma jovem mulher. Acorreu ao acontecimento, oscilando.

-Alguém mexeu no cadáver? - a voz tornara-se imperativa,

-A senhora não transportava nada? Nem mala nem documentos.

-Alguém assistiu ao acidente?

Ninguém vira nada!

Mudou de estratégia. Quantos carros entraram na vila? e dirigiu a pergunta aos eternos frequentadores do banco, em frente ao bar da Ermelinda.

-Não sabemos. Filipe enfureceu-se:

-Toca a anda a par a esquadra. Uma noite no calabouço reaviva-vos, a memória.

Ante disso revistou o cadáver. Tinha no bolso um catão amarrotado, do Sindicado dos Professores.

-Ah! Ela era professora!

-A escola estava à espera de uma professora, informou Ermelinda.

E quem sabia disso?

- A filha do presidente, que tinha de sair mal chegasse uma professora habilitada.

Filipe voltou ao lugar do crime. Observou em redor e viu uma grande árvore com um lenho,

- Isto foi aqui na vila, todos viram e ninguém diz nada. Só pode ser pessoa grada. A filha do presidente é que tinha mais a perder. Pediu ao juíz para ir á garagem da Câmara Municipal, com urgência, porque podiam desparecer vestígios num ápice.

Lá estava o jipe com para-choques amarrotado.

De nada lhe serviu querer endossar as culpas para os motoristas. Estavam todos no banco da Ermelinda.

Ermelinda foi a primeira felicitá-lo pela resolução rápida e eficiente do caso.

Nunca mais alguém fez troça do chefe.

 

Jorge C. Chora.

2/9/ 2022

 

 

O ZÊZERE

João comia a bucha nas margens do Zêzere, cortando pedaços que engolia com água do seu cantil.

De repente, alguém atirou algo para água e pareceu-lhe ouvir latir.

Não pensou duas vezes. Largou a bucha atirou-se à água e apanhou o saco de sarapilheira, depressa o cortou e abriu.

Espantou-se com o que viu: o ser mais feio que vira toda a sua vida. Era um cão. Friccionou-o, fê-lo expelir a água que engolira, aqueceu-o contra o peito e chamou-o de Zêzere.

Já salvo, o Zêzere lambeu-lhe a orelha e deu-lhe a pata. Estava selada uma grande amizade,

João era pastor e depressa o Zêzere se afeiçoou à tarefa. Com o tempo alcançou um tamanho inusitado. Fazia caretas que assustavam um boi, quanto mais um lobo.

Companheiro inseparável do rebanho e de João, nunca deixou que algum dos membros se transviasse ou fosse atacado.

Um dia, relâmpagos como nunca tinham visto, queimaram as cercas, os abrigos, as reservas,

mataram-lhes as ovelhas e deixaram-nos sem nada.

João entrou em desespero, sem família, sem crédito e sem amigos que lhe valessem, o que iria fazer?

Sentiu a língua do Zêzere no ouvido. Fez-lhe uma a festa e disse-lhe:

-Olha ao que estamos redizídos!

Zêzere voltou a lamber-lhe a orelha, mas agora com um pequeno ronco. João voltou-se e viu o que Zêzere lhe trouxera; cerca de quarenta ovelhas!

João não acreditava, podia começar de novo. Levantou- e foi atrás se do rebanho conduzido pelo Zêzere. Depois de muito andarem, deram com a grande gruta que os abrigara. À entrada tiveram uma surpresa: Estava cheia de lobos.

Zêzere tal qual um general, levantou o sobreolho deu um urro tremendo, alinhou a seu lado os carneiros de cornos já duros e deu ordem de ataque. Metade dos lobos fugiram, e os que ficaram levaram tanta cornada, que ficaram com recordações para toda a vida: onde já se vira os carneiros cornearem forte e feio os lobos?

Aos poucos João restabeleceu o negócio, tenho sempre a seu lado o seu braço direito: o Zêzere.

Jorge C. Chora

3/10/2022