São potes de
mel,
derretidos,
ao verem os
netos,
ainda que eles
sejam,
as maiores
pestes,
ou não
fossem os avós,
verdadeiros
favos de mel.
Jorge C. Chora
31/7/2023
São potes de
mel,
derretidos,
ao verem os
netos,
ainda que eles
sejam,
as maiores
pestes,
ou não
fossem os avós,
verdadeiros
favos de mel.
Jorge C. Chora
31/7/2023
Sonhos,
todos os temos,
e é muito bom
tê-los.
Sonhar é
desejar,
e quem vive,
algo quer,
mesmo quando
finge
nada querer
ou ambicionar:
sonhar e
desejar,
são faces do
mesmo sentir
e quem não
sonha não vive
ou desistiu
de viver
e já nada quer, sonha ou deseja.
Está morto e
não quer saber!
Jorge C. Chora
22/7/2023
Se eu fosse
um pássaro
e estivesse
engaiolado,
viveria
assaz aborrecido.
Nunca me
ouviriam o canto,
exceto se a
carcereira permitisse
que o seu
lábio debicasse,
a porta da
prisão abrisse
e na sua
gaiolinha me guardasse!
Jorge C. Chora
18/7/2023
A namorada corria
a dedilhar a viola,
mal o sentia
subir a escada,
de modo a
ser ouvida,
já possuída
de um frenesim,
à espera do
costumeiro festim.
Ela sabia e
nunca se esquecia,
do velho
hábito do namorado:
ia contando pelos dedos,
o número de acordes que ouvia
e as
carícias que lhe daria,
ao alcançar
a sua moradia.
Recebia-o nua e preparada,
para a festa
esperada
e sabiamente
distribuída,
por cada
poro da sua amada.
E de tanto
dedilhar a sua guitarra,
ela já quase
tocava sozinha,
ao ouvi-lo
subir a escada.
Jorge C. Chora
15/7/2023
Um dia,
trouxe-me o vento,
um beijo sem
remetente:
nem sequer
lhe toquei
e muito
menos o aceitei.
Houve quem o
fizesse,
e sem
perceber, seguisse
diretamente
para o inferno,
de mão dada
a um condenado
que não
queria ir desacompanhado!
Jorge C.
Chora
14/7/2023
Não se
dispensam,
são adoradas,
mas muito complicadas:
um dia
gostam,
noutro
desgostam
e nos dias
seguintes,
voltam a
gostar!
Sabedoria
não lhes falta
e sabem
dar-nos a volta,
confundir-nos
a seu bel-prazer:
hoje adoram
salamaleques,
amanhã
detestam queques,
e classificam-nas
como mariquices!
São um doce
enigma:
emanam ricos
aromas
e sabores,
como diz Pessoa:
primeiro se estranha,
e depois se entranha;
dia sim, dia
não, até picos têm,
tal qual a
coca-cola!
Mas, na
verdade, não se dispensam,
ou não
tivesse o Senhor,
tal como o
padeiro cuidadoso,
dotado o pão,
com uma
miraculosa
racha, que faz
as divindades
perfeitas e acabadas.
Jorge C.
Chora
12/7/2023
O teu olhar
é traiçoeiro,
mesmo que
não queiras,
denuncia-te
por inteiro,
o que sentes
e o que desejas.
Abençoada
seja tal traição,
poupa-me a
uma confissão,
e também
evita pedir-te perdão,
embora tenha
sido algo cruel,
por não te
ter colocado na mão,
um pedido,
um beijo e um anel.
JORGE C. CHORA
11/7/2023
Creio
querer-te,
sempre,
ao pé de mim.
Acreditas
que te quero,
mas não crês,
no sempre
ao pé de ti.
- Como posso
convencer-te?
-Pede a
Deus, uma bolsa marsupial!
Jorge C.
Chora
9/7/2023
Gostar é, ou
pode ser,
um amar
pequeno:
é chama de
uma vela,
de ventos
resguardada,
cuidadosamente
soprada,
que vai sendo
acarinhada,
até a pira
olímpica ser incendiada!
Jorge C. Chora
8/7/2023
João pouco
ou nunca sorria. Dizia sempre bom dia ou boa tarde e jamais boa noite, pois
ninguém tinha memória de o ter visto à noite.
Ninguém
sabia o que fazia, nem onde trabalhava. João era uma incógnita.
Também
ninguém o vira fazer mal a alguém ou maltratar fosse quem fosse. Trazia sempre
consigo uma viola, mas também ninguém o ouvira tocar.
Numa
quarta-feira, Manuela chegou alvoroçada ao café, onde por vezes se realizavam
espetáculos, com uma novidade:
- Querem
saber a melhor? Vi o João esta manhã, a dar o seu lanche a um pedinte, ao pé da
estação da C. P.
Ninguém
comentou a situação.
Nessa mesma
noite, houve um espetáculo. A meio apareceu João com a sua viola. Mal entrou, o
concerto parou: duas cordas tinham-se partido e o artista não tinha como as
substituir.
João subiu
ao palco e emprestou-lhe a sua viola. O artista agradeceu e verificou que ela
estava afinadíssima. O espetáculo continuou.
No fim, o
artista convidou João a vir ao palco e a tocar algo do seu agrado.
Instado várias
vezes a tocar, João acabou por ceder.
O que se
ouviu foram temas desconhecidos, muito aplaudidos.
Madalena
abria e fechava a boca. Ela era compositora e raramente ouvira temas tão bem
cantados, tocados e compostos.
- De quem
são essas canções?
- São
minhas…
- Onde é que
cantas?
- Só em
casa, para minha mãe ouvir.
- Como
assim?
- Ela só sossega quando as ouve. Ela sofre de demência...
Madalena deu a mão ao João, ajudou-o a descer do palco e
perguntou-lhe:
- Posso acompanhar-te a casa?
- Claro que sim.
A meio do caminho ofereceu os seus lábios ao João, que os
beijou com a delicadeza idêntica à das suas composições.
Passados alguns anos, ainda não regressou a sua casa e
senta-se ao lado da sua sogra, a ouvir João a cantar, deixando-o acabar, para
lhe oferecer os seus lábios.
Jorge C. Chora
7/7/2023
A FADISTA
A minutos de
entrar para cantar, Elsa, sem notar, rompeu as suas meias de seda pura bordada.
Conteve as
lágrimas, há meses que não atuava e claro está, não recebia.
Tinha sido o
namorado que as ofertara, antes de ter fugido com outra.
Agora,
ficara sem nada, nem meias nem namorado.
Encheu-se de
coragem e foi cantar. O que vale é que estava depilada,
mas a sua
brancura imaculada, não se coadunava com o xaile e roupa clara.
Na primeira
mesa sentava-se um homem grande, de bigode farfalhudo,
e ar de
poucos amigos. À medida que cantava, o rosto do homem iluminava-se e via-se à
légua que de tudo gostava: da cantora e do que ela cantava.
Elsa reparou
no gigante e achou-o invulgar e simpático.
Quando
acabou a atuação, ele convidou-a a vir para a sua mesa, beijou-lhe a mão e como
havia um mar de gente, entre eles e a mesa, levou-a ao colo como se fosse uma
pena e disse-lhe:
-De ao pé de
mim já não sai.
Elsa
achou-lhe graça e não é que nunca mais saiu!
Todas as
noites que quis, cantou. O grandalhão era sócio da casa de fados
e antes de
cada atuação, com a condição de nunca mais usar meias de seda bordada, beijava
as alvas pernas e os pés à mulher que amava e com quem casara.
Jorge C.
Chora
5/7/2023
Fujo da
multidão,
pois um
empurrão
pode dar
confusão,
por vezes
agressão.
Uma simples
discussão,
seguida da
acusação:
vê-se que és
do F.C.P,
ou do
Benfica…
pode dar
chapada,
cabeça
rachada,
uma
caldeirada,
seguida de
cacetada,
garrafada,
só terminada
com a chegada
e sérias bastonadas,
terminando
tudo na esquadra,
com dezenas
ou centenas
de patós,
sem saber de nada,
menos os
dois que começaram
o arraial de
porrada!
Multidões?
vão os senhores!
Jorge C.
Chora
2/7/2023
São partes
de um só,
têm no
pulso,
uma fita
atada,
que a negro
tem escrito,
na metade de
cada lado:
Parte I; Parte
II,
se nos
acharem separados,
Juntem-nos à
outra metade.
Jorge C.
Chora
1/7/2023