terça-feira, 28 de janeiro de 2020

AS MÁGOAS ÀS URTIGAS


                 
Lança as mágoas às urtigas,
com elas não se navega,
são âncora do rancor,
empecilho do amor.
Fá-las minguar numa poção de mil ternuras,
adoça os lábios de quem te quer bem,
ao sabor de uma suave maré de beijos,
cuja ondulação permita o reacender das chamas de mútuos encantos.

Jorge C. Chora
28/1/20

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

SEM PERFIL


                                                          
No meio da barulheira infernal, do barulho dos automóveis, das nuvens de fumo a empestarem o ambiente, do toque dos telefones, dos anúncios e chamadas pelos altifalantes, conseguiu perceber que o chamavam à direcção. Confirmou com os colegas que assim era.
 No seu regresso, os funcionários, em pulgas para saberem o motivo, questionaram-no:

-Então?

Não os fez esperar e satisfez-lhes a curiosidade:

-Querem que nós fiquemos com um telemóvel de serviço, fora das horas de trabalho, incluindo feriados e aos fins de semana…

-Disseste-lhes que não! – exclamaram irritados.

-Claro! Nem outra resposta podia ter dado! Nem deviam ter feito semelhante proposta, muito menos apresentarem-na como um facto consumado.

-Boa! -concordaram os visados.

Dois dias após a conversa, foi de novo chamado à direcção, onde lhe comunicaram que não tinha perfil de chefe e o seu lugar seria ocupado por outra pessoa. Esse outro, era um dos que aplaudira a sua tomada de posição.
O novo chefe, regressado do gabinete do director, apressou-se a reunir com o seu antigo chefe e os restantes colegas e informou-os:

-A partir de amanhã, segundo a escala que vou elaborar, cada um de vós levará para casa o telemóvel de serviço, durante uma semana, finda a qual o passará ao colega designado.

O antigo chefe sorriu e disse:

-Cedo-te a minha vez. Vais ter a honra de ficar com essa benesse duas semanas seguidas: Na minha e na tua.

E assim foi. O chefe com perfil passou a fazer o frete duas vezes seguidas e o antigo reformou-se pouco depois.

-Adeus a todos. Tchau. Passem bem.

Hoje em dia, segundo consta, a grande maioria dos chefes têm perfil. A era dos grandes chefes sem perfil, passou à história.

Jorge C. Chora
20/1/20

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

ELES E ELAS E NÃO SÓ.


Quem ama, namora,
ouve o que ela diz
pela milésima vez
sem reclamar,
sente os problemas dela
como seus,
beija-lhe as mãos
sem ela pedir
e só pára
onde e quando ela quiser.
Amar é um namorar calmo
e permanente,
um afago sem idade.

Jorge C. Chora
15/1/20

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

PARTILHAR



Partilhar é dar,
sem nada cobrar
ou esperar,
esquecer o apreço dos que estão a precisar
e dizem nada necessitar,
para nada em troca ofertar,
mesmo que tenham algo para partilhar.

Jorge C. Chora
14/1/20


sábado, 11 de janeiro de 2020

A LUFA-LUFA DO ZÉ


Anda Zé na lufa-lufa
quando o chefe, 
por ele passa, e diz:
Trabalha Zé, não te canses a pensar!
O Zé nem tempo de pensar tem,
ouve a toda a hora o que o chefe lhe diz:
Trabalha Zé, não te canses a pensar!
Sobe o Zé na hierarquia,
e nem ao trabalho se dá,
ao dirigir-se ao João
quando por ele passa e diz:
Trabalha Zé, não te canses a pensar!
E o João trabalha e nem tempo de pensar tem!
passa a ser o Zé, sem nunca o ter sido,
esquece-se do João que sempre fora
e ouve a toda a hora a voz do antigo Zé:
Trabalha Zé, não te canses a pensar!

Jorge C. Chora 

11/1/20

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

AS PERNAS DA JOANA



Ai, ai, ai,
belas pernas tem Joana,
são longas e douradas,
como as suas não há,
nem de longe as encontrará.
Por mais longe que vá,
pernas como as dela não há,
quem as fez belas,
outras não fará,
pois já cá não está
e belas pernas como as da Joana não há.
Ai, ai, ai
longas e douradas são as pernas da Joana,
outras iguais não há,
quem as fez belas,
outras não fará,
pois já cá não está.

Jorge C. Chora
9/1/20

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A ROSA E O ESPINHO


Se fosses uma rosa,
não seria eu outra coisa,
senão um espinho teu.
Viveria no teu caule,
para ti e contigo,
usufruindo as tuas dádivas
visuais e aromáticas,
e teria a nobre missão
de assegurar a tua defesa e esplendor.
Se fosses uma rosa,
afirmo e reafirmo,
não seria senão um espinho teu,
nem quereria ser outra coisa.

Jorge C. Chora
7/1/20

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A MINHA RAINHA CAETANA


A minha neta Caetana faz hoje, dia de Reis, quatro anos. Francisco, o seu irmão, tinha cinco anos, quando os pais, baseados numa ecografia, lhe anunciaram o nascimento de uma menina. Muito sério, pensando no futebol, perguntou:

-E o que é que eu faço com uma menina?

E os pais comunicaram-lhe que, logo à partida, ela lhe traria umas chuteiras e depois …

Francisco franziu a testinha dos cinco anos e contrapôs:

-Se ela não sabe o que são chuteiras, como é que mas vai dar?

-Isso é segredo… -Justificaram os pais.

No dia em Caetana nasceu, Francisco pulava no quarto e gritava:

-Tenho uma mana chamada Caetana!

Caetana tornou-se uma fã de Francisco. Sempre que ele marca golos nos jogos em que o Damaiense Futebol Clube entra, na sua classe, é certo e sabido o chinfrim que ela faz, aos pulos, comemorando os feitos do mano. Se ela gosta ou não do jogo, ainda não apurei ao certo, mas que adora vê-lo a alojar a bola nas redes dos adversários, é mais do que evidente, diria mesmo, como ela tem o hábito de dizer: é óbvio.
Nas inúmeras histórias de que ela é protagonista, lembro-me de uma que mostra a sua “Real” atitude.
Tinha ela feito três anos há pouco quando, ao descer as escadas ao colo da avó, que levava também um saco noutro braço, eu me virei para trás e disse à minha mulher, referindo-me ao saco:

-Olha, dá-me cá essa coisa…

Não tive tempo de explicitar mais nada, pois, num tom simultâneo de repreensão, surpresa e crítica disparou:

-O quê, a “coisa” sou eu?!

Parabéns, minha Rainha Caetana.

Jorge C. Chora

6/1/2020

domingo, 5 de janeiro de 2020

A SENHORA D. ROSA


                                               

Entrou espavorida no café. Olhou aflita em seu redor, passando em revista todos os cantos.
O jovem empregado perguntou-lhe:

- Perdeu alguma coisa Srª D. Rosa?

-Sim perdi, Nelson. O meu cachecol, que muito estimo por ter sido dado pelo meu falecido marido…e o pior nem é isso, os óculos que tanta falta me fazem, também não sei deles…

-Está com sorte Srª D. Rosa. Acabou de encontrar as suas coisas…

-Como assim, querido Nelson? - questionou-o, afagando a mão do rapaz que conhecia desde pequeno.

-O cachecol, se levar a mão ao seu pescoço, encontra-o e os óculos… E não conseguiu acabar a frase. D. Rosa, em ânsias, interrompeu-o:

-E os óculos, querido?

-Está a usá-los Srª D. Rosa…

-Já ganhei o dia…

E de um canto do restaurante alguém disse:

-Depois dos sessenta todos estamos sujeitos…

E a D. Rosa, enchendo o peito, corrigiu-o:

-Ainda me faltam dez…

Nelson, conteve a custo uma gargalhada. Há mais de vinte anos que a D. Rosa fazia 50 anos!
Ao sair, a senhora esqueceu-se dos óculos que tinha tirado ao responder ao senhor do canto e ia murmurando:

- Disparate… tenho lá eu sessenta anos!

Jorge C. Chora
   5/1/20

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

ETERNOS NAMORADOS


A Lua seduziu o Sol
e ele dela se enamorou;
foram testemunhas
deste milagre
todos os vizinhos do céu,
das estrelas aos planetas,
dos mais próximos
aos mais longínquos,
festejando com foguetes,
lá chamados de cometas.
O Sol não se cansa de a ver,
 Ilumina-a todos os dias,
 sem lhe escaparem elogios
 para os mais pequenos pormenores,
e até hoje nunca, mas nunca,
deixou de ficar vermelho de prazer,
ao ver a sua eterna namorada.
A Lua maravilha-se com a fogosidade
contínua do seu Sol,
agradece o seu calor e reflecte a sua luz
alumiando os que no planeta terra se amam,
e de noite se querem continuar a ver.
A Lua é sabida,
finge ciúmes e impede,
de vez em quando,
os olhares das terrenas,
para o seu Sol:
-Eclipsem-se meninas, pois aí também há sóis!
E assim mantem a sábia Lua,
o amor do seu querido Sol.

Jorge C. Chora
3/1/20

Em tempo de ANO NOVO há que falar de AMOR,
aos mais velhos e aos mais novos.