Amílcar dizia
dormir em Paris e trabalhar em Nova Iorque.
Não perdia a oportunidade para repetir a afirmação quando a ocasião lhe
proporcionava estar com Amélia que conhecera num dos grandes concertos em
Lisboa.
-E não se
cansa? – perguntou Amélia, revirando os olhos, visualizando o paraíso.
- Claro que
sim- e observava a compleição robusta, associada a uma beleza que o atraia, não
isenta do interesse de vir a poder ter uma dúzia de filhos, a avaliar pelas
largas e promissoras ancas de Amélia.
Amélia
casou-se com Amílcar e recebeu uma enorme casa com eira, beira e tribeira, que
conheceu através de uma fotografia.
Ao lado da
casa, muitos hectares de terra fértil e recebeu também uma enorme carrinha de
caixa aberta e alguma maquinaria.
Uma semana
após se terem conhecido e terem trocado um único beijo, Amílcar pediu-a em
casamento, antecipando a imagem do lençol nupcial estendido à janela com a
prova da virgindade da amada.
- No dia do
casamento, Amélia perguntou-lhe:
- Onde vamos
passar a lua de mel querido Amílcar?
- Em Paris e
em Nova Iorque claro!
E foi no
decurso da festa do casamento que ouviu falar diversas vezes, em Paris e em
Nova Iorque.
Curiosa,
acabou por perguntar a alguns convidados se também dormiam em Paris e
trabalhavam em Novo Iorque.
-Não, alguns
que aqui estão, trabalham em Nova Iorque, mas nunca dormiram em Paris. Só o
patrão é que dorme em Paris que é o nome da sua casa e também trabalha na
propriedade, a que ele chama de Nova Iorque. A única vez que ele saiu da
aldeia, foi para ir a Lisboa ver um concerto.
A boda ainda
ia a meio quando Amélia desapareceu. Amílcar recebeu um bilhete da noiva,
entregue por intermédio do dono do restaurante que rezava assim:
Querido Amílcar,
Vou para a
minha casa no Estoril. Se tiveres tempo entre as tuas deslocações entre Paris e
Nova Iorque, quero passar a lua de mel em Biarritz e nos aniversários de
casamento, ir surfar a Bali.
A tua noiva
invicta
Amélia
Jorge C.
Chora
4/8/2023