segunda-feira, 28 de agosto de 2023

MUDAM-SE OS TEMPOS

 Do doutor ao manga-de-alpaca,

não trajar casaco e gravata,

eram outrora uma grave falta,

para quem queria ser gente

pertencente ou não à nata.

Até para embarcar de avião,

a tira ao pescoço e o casaco,

ditava quem viajava ou não!

Hoje viaja-se de “chinelas”,

com ou sem unhas pintadas,

calças de marca, rasgadas,

de umbigo e rabo ao léu,

melenas desgrenhadas,

seios expostos, bem-dotados,

fingindo ser por acaso

que são mostrados,

fingindo ser por acaso

que são olhados e admirados!

Quem me manda ser velho

e ter viajado outrora e não agora,

que se viaja a pataco, sem gravata

e em muito boa companhia,

com gente jovem e bonita.

     Jorge C. Chora

         28/8/2023

domingo, 27 de agosto de 2023

TAL COMO AS FLORES

 

Tal como as flores,

há pessoas de todas as cores,

tamanhos e qualidades.

Há muitas flores                                 

e nem só as rosas o são,

há as dos pântanos

e até os catos as dão.

Há diversos tipos de flores,

as que atraem                 

e as que repelem,

umas mais apreciadas   

e mais úteis do que outras,

como as belas e aromáticas. 

Todas as flores,

exigem tratamentos apropriados,

variam os cuidados,

mais ou menos água,

conforme sejam aéreas,

terrestres ou aquáticas!

Tal como as flores,

assim são as pessoas,

diferentes umas das outras,

sem deixarem de ser pessoas.

       Jorge C. Chora

        27/8/2023

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

PROMESSA

 

Deste-me dez beijos

e de todos gostei;

então o décimo, amei!

Dá-me outros dez

e de ti não me esquecerei;

só de outra os beijos aceitarei,

estando sempre a pensar em ti!

 

       Jorge C. Chora

        23/8/2023

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

TEMPO DE CONCHINHAS

 

Ver o Mundo

a fazer-se de surdo,

a lançar bombinhas

em vez de abraços,

negando conchinhas,

fomentando guerras,

cego aos sofrimentos,

desfazendo amores,

semeando terrores!

Chega, é tempo de olhar,

parar para pensar e amar!

É tempo de fazer conchinhas

e de refletir como pedir perdão,

aos que morreram, quando eles

já não o podem conceder.

 

 

       Jorge C. Chora

         21/8/2023

domingo, 20 de agosto de 2023

SÓ OU ACOMPANHADO?

 

Nunca está só,

quem vive acompanhado;

mas estar só,

vivendo acompanhado,

ainda pior está,

do que vivendo só!

 

 Jorge C. Chora

    20/8/2023

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O INSATISFEITO

 

 

O homem estava furioso e pensativo, por não ter conseguido obter ainda mais lucros num excelente negócio que fizera. Conseguira trespassar algo que pouco ou nada valia, por uma soma quase astronómica: quem comprara que se amanhasse, pensou.

Quando olhou para o lado, vinha a passar o João, um pedinte que conhecia, a quem alcunhavam de Bruxo pelo seu aspeto andrajoso, coxo e desdentado, que se deslocava com a ajuda de um cajado.

O João ao vê-lo tão pensativo e furioso, tentou animá-lo:

-Ó homem, quem tem saúde tem tudo! Deixe-se de tristezas. Venha beber um copo. Pago eu que me deram hoje umas boas moedas!

- Se ofereces vamos a isso. Olha que eu não bebo zurrapa!

- Oferecido está oferecido! Eu não volto com a palavras atrás!

E o pedinte cumpriu a sua palavra e nem um obrigado recebeu: o homem continuava obcecado pelo dinheiro que podia ter obtido, se ainda tivesse exigido um pouco mais do que exigira.

 

Jorge C. Chora

18/8/2023

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

DEBAIXO DAS TUAS SAIAS


 

Debaixo das tuas saias

o mundo tem mais graça:

O arco- iris em vez de sete

cores, chega a ter oito!

O por-do-sol acontece

mais tarde;

as estrelas brilham mais;

as folhas, ao roçarem umas

nas outras, abençoam a nossa união;

o canto dos pássaros, acompanha

o ritmo dos passos da minha amada;

os sons da natureza soam como uma

orquestra afinada, acompanhando

a cadência dos nossos beijos!

Debaixo das saias da minha amada,

o mundo tem mais encanto ou melhor,

tem verdadeira magia!

 

      Jorge C. Chora

     16/8/2023

terça-feira, 15 de agosto de 2023

EUGÉNIA E A SURDEZ


Todos a conheciam e muitos a temiam. Nada do que se passava na aldeia, lhe escapava.

O mais surpreendente, era o facto de ser surda. Surda, mas não muda,

diziam as suas vítimas.

Desmascarara vários casais e os seus casos extraconjugais e desmanchara muitos namoros.

Um dia, uma das prejudicadas, ao vê-la na praça, bem rodeada de público,

colocou-se por detrás dela e disse, num tom de voz normalíssimo:

-Ela fala dos outros, mas o marido está ali fora abraçado a outra!

- Com quem é que ele anda? Fala… ou dou cabo de ti e dela também! - reagiu Eugénia.

Os olhos e as bocas das aldeãs, abriram-se até mais não, ao verem

descoberto o segredo da falsa surdez de Eugénia.

Enraivecida, percorria as vielas da aldeia em busca de quem andava com o marido. Nunca a encontrou, pois ninguém andava ou queria andar com o dito cujo, tal o medo que tinham da falsa surda.

 

Jorge C. Chora

15/8/2023 

domingo, 13 de agosto de 2023

OS DEDOS DOS PÉS

 

Bumbum empinado,

cabeleira ao vento,

andar achinelado,

livre de calçado.

Exibe unhas multicolores

de garridas cores:

uma é azul, como o mar,

confundindo-se com o céu;

outra é verde, como os campos

e a esperança de continuar

a ver o seu andar insinuante;

 a terceira é vermelha,

recordando a paixão;

a quarta é amarela,

da cor do sol;

a última é violeta, flor

como ela, uma promessa

d’algo inconfessável e desejada.

E para cada cor, um admirador,

pronto a beijar-lhe os pés,

e os lábios de carmim.

E tudo isto sem que ninguém saiba

sequer o seu nome!

     Jorge C. Chora

       13/8/2023

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

ASSIM TAMBÉM NÃO!

 

Andava cegueta e detestava sê-lo. Telefonemas, deslocações, consultas, marcações e desmarcações, precederam a cirurgia.

Confirmada a operação, duvidou que fosse daquela vez, mas acabou por lhe ser reconfirmada.

A operação correu bem.

Quando chegou a casa e retirou a venda do olho que fora intervencionado, olhou espantado para a sua mulher e exclamou:

-Continuas linda, mas estás mais forte do que eu julgava! Um pouco mais gordinha.

Ela sorriu, um sorriso meio amarelado, que o marido não notou por não o ter visto com o olho operado.

“A tua operação correu bem demais…” - pensou a esposa.

Para retardar este tipo de constatações, que por sinal detestou, a mulher telefonou para o hospital e tranquilizou-os:

-Sei que estão cheios de trabalho. Não levo a mal se demorarem a realizar a segunda operação ao outro olho. Não é preciso ter muita pressa!

 

Jorge C. Chora

10/8/20223

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

DORMIR EM PARIS E TRABALHAR EM NOVA IORQUE

 

Amílcar dizia dormir em Paris e trabalhar em Nova Iorque.  Não perdia a oportunidade para repetir a afirmação quando a ocasião lhe proporcionava estar com Amélia que conhecera num dos grandes concertos em Lisboa.

-E não se cansa? – perguntou Amélia, revirando os olhos, visualizando o paraíso.

- Claro que sim- e observava a compleição robusta, associada a uma beleza que o atraia, não isenta do interesse de vir a poder ter uma dúzia de filhos, a avaliar pelas largas e promissoras ancas de Amélia.

Amélia casou-se com Amílcar e recebeu uma enorme casa com eira, beira e tribeira, que conheceu através de uma fotografia.

Ao lado da casa, muitos hectares de terra fértil e recebeu também uma enorme carrinha de caixa aberta e alguma maquinaria.

Uma semana após se terem conhecido e terem trocado um único beijo, Amílcar pediu-a em casamento, antecipando a imagem do lençol nupcial estendido à janela com a prova da virgindade da amada.

- No dia do casamento, Amélia perguntou-lhe:

- Onde vamos passar a lua de mel querido Amílcar?

- Em Paris e em Nova Iorque claro!

E foi no decurso da festa do casamento que ouviu falar diversas vezes, em Paris e em Nova Iorque.

Curiosa, acabou por perguntar a alguns convidados se também dormiam em Paris e trabalhavam em Novo Iorque.

-Não, alguns que aqui estão, trabalham em Nova Iorque, mas nunca dormiram em Paris. Só o patrão é que dorme em Paris que é o nome da sua casa e também trabalha na propriedade, a que ele chama de Nova Iorque. A única vez que ele saiu da aldeia, foi para ir a Lisboa ver um concerto.

A boda ainda ia a meio quando Amélia desapareceu. Amílcar recebeu um bilhete da noiva, entregue por intermédio do dono do restaurante que rezava assim:

Querido Amílcar,

Vou para a minha casa no Estoril. Se tiveres tempo entre as tuas deslocações entre Paris e Nova Iorque, quero passar a lua de mel em Biarritz e nos aniversários de casamento, ir surfar a Bali.

A tua noiva invicta

Amélia

 

Jorge C. Chora

4/8/2023

sábado, 5 de agosto de 2023

AS DUAS MÃOS

 

Entre as muitas mãos

no mundo existentes,

há duas principais:

a de Deus e a do diabo.

A de Deus, ampara,

a outra desampara;

uma levanta e salva

e a do demo mata.

A opção por uma

ou por outra, marca

a grande diferença:

a escolha é sua,

sabendo existir uma

terceira:

a de oscilarmos entre

uma e outra e acharmos

uma desculpa esfarrapada:

tudo podermos fazer,

porque simplesmente

não há Deus nem o diabo.

   JORGE C. CHORA

      5/8/2023

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

O CALOR DA TUA MÃO

 Estendeste-me a mão,

esperava um abraço,

ansiava por um beijo

e nada disso recebi:

o calor da tua mão senti,

e depressa esqueci

o beijo e o abraço,

que não recebi,

e muito agradeci,

o calor de uma mão,

dada a gosto, do que,

um abraço ou um beijo a contragosto!

Jorge C. Chora

   2/8/2023