De olhos esbugalhados, aproxima-se de modo sorrateiro dos
fregueses da churrascaria. Roça-se até que a sua presença seja notada. Senta-se
e olha para o cliente e amigo. Funga de modo delicado e lambe os beiços. Já
disse ao que vinha: quer que partilhem consigo uns bocados do pitéu que estão a
saborear.
Até há pouco tempo, a estratégia do Tito, um cão arraçado de
pequinês, resultava em cheio. Ossos, pedaços de carne e pipas eram acepipes do
seu agrado e que recebia sempre que pedinchava.
A idade e alguns abusos, trouxeram-lhe problemas cardíacos e
respiratórios que aliadas à obesidade, lhe interditaram, a pedido expresso do
dono, a continuação das comezainas e as doações dos fregueses.
Tito não quer saber de desgraças. Continua a rogar, a seu
modo, as iguarias a que se habituou.
Quando não lhas dão, aproxima-se dos sapatos de quem lhe
negou os petiscos, alça a perna e urina-lhe o calçado.
É curiosa a dança executada pela clientela quando o Tito
está por perto. Esconder os sapatos, desviá-los das mijocas punitivas é o
grande objectivo. Nem sempre é conseguido. O que vale é que o cachorro só faz
uns pingos já que passa o dia inteiro a alçar a perna.
Jorge C. Chora