Nasceu raquítico. Temeu-se pela sua vida. Levaram-no à bruxa,
que se apressou a desencadear defumadouros e rezas contra quebrantos e maus-olhados.
Foram invocados santos, santinhos, santarrões e até o sol e a lua.
Em desespero de causa, a mulher preparou uma poção com
ingredientes secretos (os segredos viriam mais tarde a ser violados e
divulgados por concorrentes menos escrupulosas). Quando ela a preparava,
tropeçou sem querer no caldeirão e derramou uma enorme quantidade do
ingrediente sobre o sexo do petiz.
“Aqui d`el rei”, gritou a mulher em aflição, desatando em
benzeduras que pudessem limitar o efeito de crescimento da poção. A mãe e a
bruxa, apavoradas, viram crescer, desmesuradamente, aquilo com que se assegura
a prole.
Ao chegar à adolescência, usou o tamanho do” apêndice” como
um atributo para alavancar o seu sucesso junto às amadas, e foram elas que ao
bichanarem o seu segredo, consolidaram a sua fama.
Em tudo resto o rapaz era uma nódoa. A bruxa já tinha
advertido a progenitora de que o seu rebento procuraria por todos os meios satisfazer
a sua luxúria sem se preocupar com ninguém. Quando um dia a mãe a informou de
que o filho trouxera para casa uma ficha de inscrição num partido político, a
bruxa deitou as mãos à cabeça e perguntou-lhe:
-E o que é que fez?
-Escondia-a e acabei por rasgá-la…
-Abençoada…é menos um em cima de nós!
Jorge C. Chora