terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Trambolho


Nasceu raquítico. Temeu-se pela sua vida. Levaram-no à bruxa, que se apressou a desencadear defumadouros e rezas contra quebrantos e maus-olhados. Foram invocados santos, santinhos, santarrões e até o sol e a lua.

Em desespero de causa, a mulher preparou uma poção com ingredientes secretos (os segredos viriam mais tarde a ser violados e divulgados por concorrentes menos escrupulosas). Quando ela a preparava, tropeçou sem querer no caldeirão e derramou uma enorme quantidade do ingrediente sobre o sexo do petiz.

“Aqui d`el rei”, gritou a mulher em aflição, desatando em benzeduras que pudessem limitar o efeito de crescimento da poção. A mãe e a bruxa, apavoradas, viram crescer, desmesuradamente, aquilo com que se assegura a prole.

Ao chegar à adolescência, usou o tamanho do” apêndice” como um atributo para alavancar o seu sucesso junto às amadas, e foram elas que ao bichanarem o seu segredo, consolidaram a sua fama.

Em tudo resto o rapaz era uma nódoa. A bruxa já tinha advertido a progenitora de que o seu rebento procuraria por todos os meios satisfazer a sua luxúria sem se preocupar com ninguém. Quando um dia a mãe a informou de que o filho trouxera para casa uma ficha de inscrição num partido político, a bruxa deitou as mãos à cabeça e perguntou-lhe:

-E o que é que fez?

-Escondia-a e acabei por rasgá-la…

-Abençoada…é menos um em cima de nós!

Jorge C. Chora

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O concorrente


A morte de um tio-avô fê-lo herdar uma pequena fortuna. Sempre sonhara em ter um pequeno hotel e construir um projecto turístico, numa baía paradisíaca que conhecia. Só lá existia uma pequena residencial. Não podia perder a oportunidade.

Partiu levando na mala os sonhos, os projectos e o dinheiro para os concretizar. À sua espera encontrava-se um intermediário que contactara antecipadamente. Explicou-lhe o motivo da sua deslocação e logo ali, “O Ligeiro”, aprazou, para dali a dois dias uma reunião, pelas dez da manhã, no hotel onde o visitante se instalara na cidade.

Duas horas após o combinado, “O Ligeiro” apareceu com mais três pessoas: Um agente imobiliário, um arquitecto e um funcionário local. Como eram horas de almoço tiveram de honrar a refeição e fizeram-no a preceito. Nada se discutiu e marcou-se outro encontro para o dia seguinte, duas horas após a refeição que tinham acabado de tomar.

Só compareceram à hora do lanche, as mesmas pessoas do dia anterior, mais o representante da construtora. Deleitaram-se com um petisco que acabou noite cerrada, sem que nada fosse discutido. Foi agendado para o dia seguinte, para as sete da manhã, um encontro de trabalho.

Pelas nove, o grupo de contacto, agora alargado a mais dois conselheiros jurídicos, tomou o pequeno-almoço que só terminou ao meio dia. Devido ao adiantado da hora, ficou combinado encontrarem-se pela tardinha. Ao jantar compareceram os convivas, com mais dois publicitários e atacaram, em conjunto, o acepipe que foi servido: cabrito no forno, antecedido por uns lagostins feitos à moda local.

O tempo foi passando, o investidor foi gastando o seu pecúlio e nada, mas absolutamente nada foi tratado. O grupo da recepção tinha uma longa lista de pessoas para convidar. Ao fim de um mês, já havia interessados em serem sócios do investidor.

Ao fim do terceiro mês, o herdeiro fez as malas e, em segredo, desapareceu. Quando chegou a Lisboa, teve de andar a contar os cêntimos e foi por um triz que conseguiu pagar o táxi.

À mesma hora a que regressou, na baía encantada, o grupo da recepção, realizava um jantar na residencial aí localizada. No fim do lauto banquete, o dono da residencial fez um brinde aos presentes:

-Um agradecimento muito especial aos meus primos que, mais uma vez, souberam, com a sua arte, proteger o negócio da família e afastar a concorrência.

Jorge C. Chora