Gosto de ir a feiras de antiguidades. Este fim-de-semana, ao
visitar uma, vi uma molheira bastante antiga que me fez recordar um episódio
com elas relacionado.
Numa das vezes que fui ao Museu de Arte Antiga, detive-me
num expositor em que existiam peças variadas de porcelana e faiança. Uma delas
chamou-me a atenção pois, parecendo uma molheira, achei estranho que fosse
maior do que aquelas que conhecia e tivesse um bico demasiado largo e aberto
para cumprir bem essa função.
Isto foi há uns anos mas, lembro-me bem de ter andado à roda
do expositor, ter mirado e remirado a peça, sem chegar a nenhuma conclusão. Não
desisti e acabei por consultar o conservador, responsável por aquele departamento.
Contou-me uma interessante história, que não recordo com
todos os pormenores, pois já se passaram um ror de anos, mas que em traços
gerais ainda consigo relembrar-me. A peça era um urinol portátil, usado pelas
damas da corte francesa há uns séculos, quando tinham de assistir aos
longuíssimos sermões de um conhecido e respeitado abade.
Uns anos depois deste episódio, um casal amigo com quem
jantei, contou-me que passara um enorme martírio num almoço a que fora, pois os
anfitriões serviram o molho numa “molheira”idêntica à do museu, que
lhes tinha custado os olhos da cara num antiquário.
Questionei-o sobre o que tinha feito e ele disse-me:
-Tive uma gastrite súbita! E nem precisei de fingir!
Jorge C. Chora