Durante meses o estore funcionou mal. Um dia avariou-se.
Partiram-se três ripas. O proprietário desmontou-o e saiu para as comprar.
Ao chegar à primeira loja surpreendeu-se com a
resposta que lhe deram:
-Ó amigo… esta ripa é do tempo da cachucha …isto já
não se usa…
Percorreu todas as boas
lojas e o que lhe disseram pouco variou:
-Não se fabrica…
-Só um estore novo…
-É um modelo que deixou de se fazer…
E em todas
ouviu a mesma proposta:
-O melhor é comprar um moderno…
Quanto ao preço foram unânimes:
-Com mil
euritos, ou ainda menos, faz a obra. Olhe que é um preço para amigo….
Fez e refez as contas e tomou a única decisão que
estava ao alcance da sua bolsa, ou seja, deixar tudo como estava. A caminho de
casa quase chocou com um senhor que saía de uma loja e transportava um estore
igual ao seu.
-Peço-lhe desculpa…o estore que aí traz…
-É para deitar ao lixo… – e olhando para a ripa que
o transeunte transportava, ofereceu-se para a deitar também fora, já que ia
desfazer-se da sua.
-Agradeço-lhe mas depois fico sem uma amostra…- desculpou-se.
-Não seja por isso…eu vendo desses estores e também
os monto. Se quiser vendo-lhes as que necessitar.
-E quanto é que isso me vai custar? - perguntou a
medo.
-Um euro e pouco cada uma e, se precisar, caso more
perto, vou-lhe lá montar agora mesmo …
O dono do estore emudeceu. O senhor da loja, ao ver
a reacção do potencial cliente, receoso de o perder apressou-se a negociar:
-Se acha muito, posso fazer-lhe um pequeno desconto…
-Não…pelo contrário… - e resolveu contar-lhe as suas
andanças.
-Quatro desses senhores são meus clientes. Levo-lhes
exactamente o que lhe cobro a si …ontem tive de baixar 10 cêntimos ao meu
orçamento… - respondeu-lhe o pequeno lojista -
parece-me que ainda os estou a ouvir:”Um cêntimo é um cêntimo. A crise
não existe só para si.”
Uf!
Jorge C. Chora