Colhi uma
flor no meu jardim,
achando ser perfeita
para de ti,
mas só
quando t’a ofereci,
percebi, não
ter no meu jardim,
ainda nenhuma
digna de ti.
Jorge C. Chora
1/12/2024
Colhi uma
flor no meu jardim,
achando ser perfeita
para de ti,
mas só
quando t’a ofereci,
percebi, não
ter no meu jardim,
ainda nenhuma
digna de ti.
Jorge C. Chora
1/12/2024
Peço aos santos conhecidos
e aos ainda
desconhecidos,
que cada
abraço da minha amada,
me seja diária
e inúmeras vezes,
dado e
repetido de forma ilimitada
e por mim retribuído,
todas as vezes,
tantas
quantas por mim desejadas
e por ela,
no seu corpo inteiro consentidas,
nádegas e outras
partes incluídas e beijadas.
Jorge C. Chora
29/12/2023
Muitos, sendo
alguéns,
tratam bem
os zés-ninguéns;
já quanto aos zés-ninguéns,
não querendo
parecer aquilo
que
verdadeiramente são,
só bem
tratam os que são alguéns,
embora nunca
passem de zés-ninguéns.
Jorge C. Chora
28/12/2023
Saiu ao fim
de dois terços de pena cumprida e bom comportamento,
pois
conseguiu, em conluio, disfarçar uma série de patifarias cometidas.
Foi
aconselhado a viajar para um país chamado Cacetudo, onde poderia dar largas às
suas malfeitorias, sem ser condenado por nada.
- Como
assim?
- Tens
licença para matar todos os seres que quiseres, sem limite de peças, como ainda
te garantem um prémio.
- Um prémio?
-Sim, por
cada lote de cinquenta que mates, independentemente de serem bebés, suas
respetivas mães, pais ou outros familiares, sobes um grau na hierarquia militar,
porque o caçador tem equivalência, nesse
país, por terem os mesmos objetivos: matar indiscriminadamente.
- E não há
ninguém que ponha fim a isso? Pergunto porque não quero gastar dinheiro e ao
chegar lá o esquema ser abolido!
- Está
descansado, o país tem as costas quentes, embora o mundo esteja contra eles, há
um poderoso que veta e a coisa continua sempre.
E o homem
viajou e num só mês conseguiu a distinção de ter equivalência a general de
cinco estrelas.
Jorge C.
Chora
26/12/2023
Via-a no
jardim,
desconhecia
aquela flor.
Não era rosa
nem jasmim
mas elegia
como o meu amor,
tão bela
como qualquer flor,
mesmo sem
ser rosa ou alecrim
era e foi
sempre o meu amor
por ser mais
bela que qualquer flor,
ainda que
não seja rosa, jasmim ou alecrim.
Jorge C. Chora
24/12/2023
Sentado na varanda, assustou-se:
algo de
estranho aconteceu,
o dia de
súbito escureceu,
o céu uma
barriga formou
e em direção
à Terra cresceu.
A barriga
não parou de aumentar
até que com
um estrondo aterrador
começou a vomitar
e rebentou.
Do céu
caíram milhões d’almas,
pois estava
a abarrotar
e não
aguentou com o peso
de crianças
e mulheres mortas,
associado ao
nojo provocado
pela
insensibilidade humana
e pelas
ações das tiranias reinantes.
Jorge C. Chora
22/12/2023
Em tardes de
boa-vai-ela
e noites de
piela,
urinava nas
ruas
e
aliviava-se nas vielas.
Esquecia-se
de trabalhar
e o dinheiro
a faltar:
começou a
roubar.
Tantas fez
que foi apanhado
e não tardou
a ser enjaulado.
Jovem e bonito
como era,
chamaram-lhe
um figo na cadeia,
e logo lhe
trataram do pandeiro.
Primeiro
estranhou e depois entranhou-se,
tal e qual
como a Coca-Cola
e o dizer de
Pessoa.
Para
sustentar a antiga vida,
circulava
por Lisboa
e vendia-se
a quem o queria.
Foi
espancado, abusado e roubado
e depressa
adoeceu, foi internado e morreu.
Ninguém o
visitou no hospital
e ao seu
funeral ninguém compareceu:
nem os
companheiros da boa-vai-ela,
muito menos
os clientes do pandeiro
e acabou
enterrado como indigente,
o amigo das
tardes da boa-vai-ela
e das noites
de piela.
Jorge C. Chora
18/12/2023
Morrer assassinado,
só ou
acompanhado,
quer a tiro
quer à bomba,
num mundo
onde a morte é certa
e em todos
sem exceção acerta,
é a maldade
de braço dado à crueldade.
Basta os que
morrem sem se saber a causa.
Àqueles cuja morte não é evitada,
tendo sido
de sede e de fome causada,
de doença
conhecida e não tratada,
já são uma
vergonha para a humanidade.
Se a morte pudesse
ser morta,
já os
poderosos a tinham eliminado,
deixando-a
para os outros,
mais fracos
e não aliados,
poupando em
balas, espingardas e bombas!
JORGE C. CHORA
15/12/2023
Entre os que
se odeiam, considerando que entre o ódio e o amor vai só um passo, há sempre a
possibilidade de se amarem, porque o ódio pode ser só, inconscientemente, um
amor latente e reprimido entre ambos.
Veja, com
atenção, se quem odeia é afinal quem ama e se está a enganar a sim própria(o).
Jorge C.
Chora
14/12/2023
Em tempo de desejos
insatisfeitos, Pierre Teilhard de Chardin, dá-nos a solução:” Não desejar senão
o que se tem, é ter o que se deseja.”
In Dicionário
de Citações e Provérbios.
Jorge C.
Chora
13/12/2023
Levanta-se
de madrugada,
ainda a
noite está calada,
à filha dá a
mamada
ao filho a
refeição preparada.
Ainda
ensonada,
veste os
filhos semiadormecidos,
corre para
apanhar
o autocarro
que chega atrasado,
também
parece cansado!
Chega à
escola afogueada
e encontra-a
fechada,
na portaria
está afixada
uma nota
esclarecedora:
Estamos
fechados,
pedimos
desculpa pelo transtorno.
Com os
filhos pendurados,
sem os poder
levar para o trabalho,
regressa a
casa transtornada
num
autocarro lotado
com uma
criança ao colo
e a outra
pela mão agarrada
de pé e nada
equilibrada.
Telefona ao
patrão e ouve das boas:
-É sempre
assim com a mulherada,
há sempre
desculpas esfarrapadas!
No fim do
mês, já sabe,
menos um dia
de salário.
E a mulher
torna a pedir
desculpas,
ainda que sem culpa
e lê uma
mensagem,
acabada de
receber,
adiando pela
terceira vez
a consulta
de pediatria.
Nunca desejou
tanto
ser rica ou
remediada
e poder
mandar todos
à “bamerda”,
à semelhança
do que fez um
famoso
almirante, à varanda
do parlamento.
Jorge C. Chora
12/12/2023
As pessoas
são como as frutas: só depois de abertas, se veem como realmente são.
Jorge C.
Chora
12/12/ 2023
No jogo das
consultas,
o desmarca e
marca,
a quem sai
sempre a fava?
Ao doente
que morreu na maca!
No jogo do
abre e fecha
da urgência,
quem passeia
de ambulância,
procurando
uma aberta
e lhe sai
sempre a fava?
Ao doente
que morreu na maca!
Nestes jogos
da desgraça,
a quem sai
sempre a fava?
Ao doente
que morreu na maca!
Jorge C. Chora
1o/12/2023
Gostar do
que se faz, ser persistente, não recusar aprender e ter vontade de continuar a
fazer aquilo que faz, já é ter sucesso. O sucesso é relativo, o que para uns
tem esse significado, pode ser o maior fracasso para outros.
Duvida? diga
a alguém que só gosta de fazer dinheiro, que o sucesso é conseguir distribuir
algo do que tem com os seus empregados, sem lhes exigir que dupliquem a
produção, só para os fazer mais felizes!
Dissessem ao
Nabeiro que o sucesso era, não beneficiar os seus colaboradores, ser cada vez
mais rico, sem nada partilhar.
Pois é, o
sucesso é muito relativo.
Jorge C.
Chora
9/12/2023
O homem nada possuía:
de seu, só
ar e vento,
a rua e o
relento.
O dinheiro
de uma vida,
comera-lhe o
banco,
num mau
investimento,
em ações que
nada valiam,
sem o seu
consentimento.
Num simples
piscar d’olhos,
passou de senhor,
a senhor de nada,
tratado por
um simples psst, ó tu!
Forçado a
estender a mão à caridade,
dizia
obrigado, a quem lhe desse ou não um tostão,
mas o que
mais ouvia,
era o que ele outrora dizia,
a quem na
rua pedia:
Vai
trabalhar malandro!
Jorge C. Chora
7/12/2023
Tratar com
dignidade os vencidos da guerra ou da vida, é próprio de grandes senhores,
daqueles que não humilham nem se deixam humilhar, não se vergam nem pedem
favores, mas raramente chegam a “generais”.
Jorge C.
Chora
7/12/2023
A escuridão
reina no nosso planeta
e só é
rasgada por estranhas estrelas,
subindo da
terra ao céu, todos os dias,
muito pequenas,
a horas e a desoras:
São almas de
meninos e meninas,
de gentes
muito pequeninas,
a quem
ceifaram as vidas,
e ascendem
ao céu, acompanhadas
pelos pais,
mães e avós,
a quem
também mataram,
para não se
sentirem sós,
nas viagens
na noite escura.
O inferno
desceu à Terra,
aplaudido
por Satanás,
por não
sentir diferença,
entre onde
estava e para onde veio,
exceto o
barulho das bombas,
granadas e
metralha,
vindas do
céu para a Terra,
matando de
uma só vez,
mais gente
do que ele jamais foi capaz.
E tudo isto
se passa entre povos
que acreditam
num só Deus,
a quem uns designam de Jeová
e outros de
Alá!
Jorge C. Chora
4/12/2023
Nasceu de um
caroço
lançada por
um moço,
ninguém a
enxertou
e a
laranjeira brava ficou.
Guilherme
adorava-a:
Da sua
janela via-a,
logo ao
acordar,
e ao pé dela ia brincar;
colher
laranjas e atirar,
com os
amigos guerrear
e depois à
sua beira descansar.
Quando se
reformou,
e a casa voltou,
a laranjeira
encontrou,
triste e
quase a morrer
porque
ninguém a cuidou.
- Força
minha amiga,
não te
deixes morrer!
- Já não
sirvo para nada…
- Enganas-te
minha amiga…
E começou a
colher as laranjas.
- Não me
digas que as vais atirar a alguém!
espantou-se
a velha laranjeira.
- Não, longe
disso, elas são preciosas…
E a
laranjeira selvagem nada
disse, mas
pensou: “o meu amigo
não está bom da cabeça,
estas
laranjas não se comem”
No dia
seguinte, Guilherme
apresentou-lhe
um doce de
laranja
amarga e disse-lhe:
- Doravante
todas as tuas laranjas
vão ser
comidas e apreciadas,
e nem uma só desperdiçada!
E sabes quem
são os apreciadores?
-Não…
-Os que utilizavam
as laranjas como munições,
no jogo dos polícias e ladrões e não só!
A laranjeira,
passou, de orgulho recuperado,
a duplicar as
laranjas que até aí lhes tinha dado.
Jorge C. Chora
3/12/2023
Os costumes
de outrora
não são os
de agora,
as opiniões
também não,
pois
dependem das ocasiões:
as de ontem
não são as de hoje
nem serão as
de amanhã.
No passado,
uma senhora
com muitas e
variadas relações,
era uma
mulher de má fama,
estouvada, já
para não dizer bem pior.
Hoje, uma
mulher que não esteja
numa
relação, depois de acabadas
algumas
outras relações falhadas
é, nem mais
nem menos, uma encalhada,
uma
solteirona empedernida,
ainda que
queira estar só!
Jorge C. Chora
1/12/2023
O fado é poesia musicada
percorrendo
becos, vielas
e ruas de
Lisboa e deste país.
Corre nas veias,
desde os pés
descalços, até às dos doutores.
Compostos
por poetas
e músicos,
abraçados às violas
e às
guitarras, alegres ou gemebundas,
cantando
alegrias ou desgraças,
por fadistas
do Minho ao Algarve.
Jorge C. Chora
28/11/2023
À porta de
casa, após ter perdido a mãe há um mês, Júlia recebeu duas cartas carimbadas e
registadas: uma, a anunciar-lhe ter sido despedida e a outra a dar-lhe um
pequeno prazo para abandonar a casa onde tinha nascido, em virtude de o
contrato estar em nome da sua mãe, que falecera, ou caso contrário, a pagar o
quadruplo da renda.
Saiu
desvairada de casa, cirandou sem rumo por essa Lisboa, sem conseguir pensar em
nada ou em qualquer solução.
À medida que
se cruzava com pessoas ia dando os bons dias, ainda que por puro hábito.
Ninguém lhe respondeu.
Num jardim
povoado de gente, achou uma corda no chão, fez um laço corrediço, lançou-o a um
tronco forte e à vista de todos enforcou-se.
Ninguém a
demoveu ou sequer se moveu. Levantaram-se e foram-se embora, exceto uma velha
peixeira que por ali passava. Correu a agarrá-la pela cintura, tentando
suportar o seu peso para evitar que se enforcasse.
Gritou por
ajuda pois, sozinha, não tinha forças para sustentar a jovem, mas sem auxílio
não conseguiu aguentá-la por muito tempo e o enforcamento deu-se.
Rezou-lhe uma
Avé Maria, ainda agarrada à cintura da jovem.
Uma lágrima de
desespero e raiva escorreu-lhe pela cara, por não ter conseguido evitar aquele
desfecho.
Pagou o
funeral da jovem e na lápide mandou inscrever o seguinte dizer:
AQUI JAZ UMA
JOVEM, QUE NINGUÉM QUIS AJUDAR.
OXALÁ NÃO
VOS ACONTEÇA O QUE A ELA ACONTECEU.
Jorge C.
Chora
25/11/2023
Manuela desnuda,
aquecida pelo
sol,
e massajada pelo vento,
estende-se
no terraço,
relaxando-
se deliciada.
O vento
sopra devagar,
retesando-lhe
os seios
e alcançando
o umbigo,
caminhando
na direção
mais
desejada e sentida.
Manuela
ronrona, agradecida,
aos preciosos
amigos,
que tão
prazerosos momentos
lhe
proporcionam, nos divinos,
fim de verão
e início de outono.
Jorge C. Chora
21/11/2023
Encapelou-se
o mar,
enfureceu-se
o vento
e da popa do
bote,
rugiu o velho
pescador:
- O que se
passa meus amigos?
Hoje não me
apetece nadar,
o meu barco vão afundar
e assim não
posso pescar!
Ou se calam
ou ponho-me a cantar!
-Isso não
meu amigo-disseram o mar,
e o vento,
arrepiados até à medula,
ao vê-lo
preparar-se para desafinar.
Deu o vento
a mão ao mar
e foram
assustar para outro lugar.
E o velho
pescador, pôde lançar,
finalmente,
a rede ao mar e pescar,
poupando o
vento e o mar de o ouvir cantar!
Jorge C. Chora
18/11/2023
O que não
sentes por mim,
sinto eu por
ti,
mas não
quero que sintas,
o que eu não
sinto,
porque eu
por ti,
sinto e só
sinto,
o que tu não sentes
e podias sentir por mim!
Jorge C. Chora
16/11/2023
Com a pena de uma gaivota,
escrevi na
areia de praia,
o que por aquela
mulher sentia.
Nunca a vira
e não mentia:
movia-se
como uma enguia,
mais bela do
que uma sereia,
diferente
das que conhecia.
Acabara de
sair da água,
trazia vestida
uma saia,
formada pela
espuma do mar!
Só então
percebi,
ser a noiva das
ondas do mar,
que foram
apagar,
o que eu
tinha escrito na areia,
com a pena
de uma gaivota,
sem respeito
por aquilo que sentia!
Jorge C. Chora
13/11/2023
Quando os segredos
se revelam,
há uns que
nos encantam,
e outros que
nos magoam.
A descoberta
de seres
perversos e assassinos,
fazedores de
anjos precoces,
à bomba e à
metralha,
amortalhando
crianças
a quem nem
as asas cresceram,
povoando os
céus cedo demais,
é algo que
nos horroriza.
A chuva sanguinolenta,
deixa o
mundo sem luz
e a bondade
encarcerada,
numa caixa
escura como o breu.
Esquecem os assassinos,
que só se vive
uma vez
e ninguém
ressuscita para viver de novo:
quem morre,
morre de vez!
Jorge C. Chora
11/11/2023
O saber é um ter,
um bem a
querer,
quanto mais
se tem,
mais se quer
ter,
nada há a
perder,
mas tudo a ganhar.
Jorge C. Chora
10/11/2023
Jô, era moça
bonita,
um tanto gaiteira,
a quem nada
faltava.
Hoje é moça
desgraçada,
à bebida devotada:
perdeu o
marido,
depois os
filhos
e ficou sem
nada.
Tornou-se
num saco de pancada,
vive
marcada, agredida e socada,
sempre
sovada e nunca amada,
por bêbados
de ocasião aproveitada.
A vida
tornou-se num fado,
dos mais
tristes narrado,
sobre uma
moça outrora bonita
e hoje uma
desgraçada,
só por copos
acompanhada,
em saco de
pancada transformada!
Jorge C. Chora
9/11/2023
Tenho uma
terra
pobre e
pequena,
pouco ou
nada dá,
exceto o
prazer
de a continuar
a ter.
Herdei-a da
minha avó
que a herdou
da sua trisavó,
tendo-a
herdado, sei lá de que avó.
Dizem agora
que era deserto
e nada lá se
dava ou tirava!
Mentira
deslavada:
Tirava-se o
prazer de a ter
e
dava-se-lhe o amor merecido,
por várias gerações
devotado.
Jorge
C. Chora
6/11/2023
Quando o sol
ao fim do dia,
boceja e
quer descansar,
assiste-se a
um belo deitar,
a que
chamamos pôr -do - sol.
Despeça-se
dele, saudando-o,
desejando-lhe
uma boa noite
e bons
sonhos, acompanhado
de um grande
obrigado,
por se levantar
todos os dias bem cedo,
continuar a
dar-nos a vida que temos
e a
abraçar-nos sem regatear a sua presença,
embora, por
vezes, as nuvens o queiram esconder!
Jorge C. Chora
4/11/2023
Nem sempre é
fácil,
mostrar que
se ama,
diz-nos Madalena
a tremer,
quando sente
os seios a enrijecer
e certa
parte do amado a crescer,
quando ao pé
dele acontece estar.
O impasse só
se desfez,
quando o que
se previa aconteceu:
atraídos um
pelo outro,
as línguas enroscaram-se
e se amaram sem
nunca anunciarem,
terem declarado
um ao outro,
amarem-se
como se amavam.
Jorge C. Chora
2/11/2023
nunca vestira
e sempre pedira,
um vestido de chita.
Pedia-os de chita,
recebia-os de cetim.
Renovava o pedido,
davam-lhe de seda.
Mal casara
e o pedido renovara,
tornou a receber,
outro de seda
e nenhum de chita.
Fez fita e beicinho,
até o marido lhe oferecer,
o almejado vestido,
sem ser de seda nem de
cetim,
mas de chita simplesmente,
o que a fez sentir-se igual
a todas as meninas da sua escola,
embora com vinte e cinco anos de atraso!
Jorge C. Chora
31/10/2023
O tocar e
ser tocado,
física e emocionalmente,
faz parte do
amar e ser amado.
Não há amor
sem toque
ou palavras sussurradas,
aos ouvidos
murmurados,
seguidos de doces
arrepios,
primícias da
entrega recíproca,
quente,
apertada e frenética,
desaguando
em doces orgasmos,
tantos
quantos, os ais prazerosos.
Jorge C. Chora
28/10/2023
Amélia, não era casta:
era bonita, atrevida,
sabida e
muito oferecida.
Aprendera a
seduzir,
cruzando as
pernas,
à moda da Sharon
Stone,
mas
ultrapassara a mestra:
aprendera a
fazê-lo devagar,
deixando ver
uma nesga,
só um pedaço
felpudo do paraíso,
de relance,
durante um segundo,
algo mais do
que a sugestão da Stone,
o suficiente
para Amélia
os colocar
de joelhos, a orar,
quando e
sempre que quer,
bastando-lhe cruzar as pernas!
Jorge C. Chora
27/10/2023
Não te
envergonhes
de quem és,
da idade que
tens!
Nunca te
esqueças,
de que a
fruta no ponto,
não é verde nem
quase madura,
mas
simplesmente madura,
pela excelência
do seu sabor,
ganha ao longo
da sua maturação.
Jorge C. Chora
25/10/2023
Diz-me o que
por mim sentes,
dir-te-ei se
ainda me sinto assim,
ou já senti
e não sinto,
aquilo que pareces
sentir por mim.
A acreditar
nos teus beijos,
diria que
sim,
embora isso
possa revelar
só gostares
de me beijar,
embora não
sintas o que
eu continuo
a sentir por ti.
Jorge C. Chora
24/10/2023
Sob uma
cortina de vapor d’água,
tal como num
véu, uma ninfa
todos os
dias se banha na cascata.
Sempre só,
nunca acompanhada,
oferecendo-se
a um deus amado
ou aos
viajantes pela visão bafejados,
deixando que
se dessedentem
com a água
que escorre do seu púbis.
Ela só
aparece de vez em quando, embora
todos
suspeitem que mora na cascata,
mas só
aparece a quem quer ou merece
do seu púbis
beber, o néctar que dele escorre:
as suas
propriedades são tantas ou tão poucas,
nomeadamente
a da juventude eterna,
que as
inscrições estão esgotadas para os próximos cinco anos.
Jorge C. Chora
22/10/2023
Há olhares
que nos paralisam,
nos fazem entrar em frenesim:
quem resiste
a estes olhares,
às promessas
neles contidos?
Olhares hipnóticos,
sedução
para os
quais não há solução,
senão a
entrega e rendição!
Há quase
sempre um contra,
nestes
profissionais da conquista:
impedem-nos
de ter reação,
de pensar,
até quando a ação
se assemelha
à do louva-a-deus,
que após a
cópula devora o macho!
e este se
entrega à voragem,
quiçá, com o
maior dos prazeres.
Jorge C. Chora
17/10/2023
murcham as
flores
pisam-se as
vontades
vive-se de
terrores.
Esquecem-se
direitos,
esmagam-se
liberdades,
exceto o de
matar e morrer,
negando-se às
crianças
o direito à
vida e o de brincar,
impondo-lhes
a morte sem terem vivido!
Jorge C. Chora
15/10/2023
Desesperar é
esperar
pela
proibição de matar,
pela
possibilidade de julgar
quem as
guerras iniciar,
ver os
países não ajudar
os povos que
estão a definhar.
Desesperar é
esperar
pela demora
em criminalizar,
quem civis
está a massacrar,
hospitais a
bombardear,
crianças a
desmembrar,
mulheres a
violar,
prisioneiros
a fuzilar,
populações a
torturar,
famílias
inteiras a torpedear
quando em
casa estão a descansar.
Desesperar é
esperar,
julgamentos,
para ver condenar
todos os criminosos
de guerra,
e continuar
a vê-los a dizimar
impunemente
as populações.
O que
esperam cristãos, muçulmanos,
judeus,
budistas, ateus, agnósticos, animistas,
espiritistas
e todos aqueles que sabem que são
humanos,
para dizer NÃO A ESTA SITUAÇÃO?
JORGE C. CHORA
13/10/2023
Sussurrou-me o vento
um recado da
minha amada:
queria
ver-me, mas nada
disse sobre
o local onde ela estava,
pois em
viagem andava.
A saudade
apertava, mas onde
procurar a
minha amada?
De nada me
serviu pedir ajuda ao vento.
- Sou um
cabeça de vento, adorava ajudar-te,
mas
esqueci-me …
E foi quando
em desespero, abri as narinas,
tentando
adivinhar se seguiria para Norte ou para Sul
ou antes
para Este ou Oeste, que senti a doçura
do seu
cheiro, mesmo ali à minha porta,
pronta a
acolher-me entre os seus seios
a
acomodar-se ao meu colo e a sucumbir
aos nossos
mútuos e ansiados desejos,
refrescados
pelo amigo vento,
que sabia
bem onde ela estava e ali permanecia sorridente.
Jorge C. Chora
11/10/2023
Vinha na sua
direção,
e fora uma
desilusão:
já dela
ouvira três nãos,
ao seu pedido de namoro.
Recusava
ouvir um quarto.
Afinal não
ia ter consigo,
mas com um
conhecido
conquistador
local,
que lhe
disse, bem alto:
-Não, não e
não!
Ela deu
meia-volta e viu
o pató a
quem recusara
o reiterado
pedido de namoro.
Fez o seu
melhor sorriso,
aproximou-se
e disse-lhe:
- Afinal
pensei melhor e vou
dizer-te
sim…
-Também eu
pensei melhor e também
te digo não,
não, não… - respondeu-lhe,
com o seu
melhor sorriso.
Jorge C. Chora
9/10/2023
Em cada canto ou cruzamento
se vê ou
pode encontrar o “Alomba”
na sua
carrinha transportando gás,
subindo
escadas, alombando botijas,
cheias às
idas, vazias às vindas
quase ao
ritmo do Boogie-woogie.
Está sempre
bem acompanhado
“ com elas,
as botijas, como diz”.
À beira dos
setenta, tem a vitalidade
dos trinta e
a disposição dos vinte.
Sempre
pronto a cumprimentar,
qualquer dia
tem de comprar,
os bonecos
chineses sempre a saudar,
tantos são
os acenos que diariamente faz.
É uma figura
querida pelos populares da Amadora,
e
ansiosamente aguardada, por quem precisa de gás.
Saúde
Francisco e continuação de bom trabalho e boa disposição,
Jorge C. Chora
7/10/2023