Andava de canadiana fosse para onde fosse. Esquecia-se no
entanto dela, com alguma frequência, tendo de regressar aos locais onde
estivera para a ir buscar.
Um dia perguntaram-lhe porque a carregava se não precisava
dela. Olhou a interlocutora com um ar de profunda estranheza e respondeu-lhe:
-Quem lhe disse, minha cara senhora, que eu não preciso
dela? Não só preciso, como ela me é indispensável para o dia-a-dia. Sem ela não
faria sequer um terço do que me proponho fazer!
-Mas…
-Ora acompanhe o meu raciocínio… -cortou a dona da bengala –
Quem me daria lugar nos transportes públicos? E nas filas do supermercado?
- Desse ponto de vista , a senhora tem toda a razão! – concordou
– E nos bancos?
- Também aí tenho vantagens… e há mais – e chegou-se ao
ouvido da interessada e murmurou: Já reparou que se por acaso vir alguém que
lhe interessa, pode desequilibrar-se quando lhe convier, e aterrar no seu colo?
Ruborizou-se ao ouvir semelhante estratégia. Ao despedir-se,
agradeceu a sinceridade nas explicações, mas não deixou de lhe dizer:
-A boa fé dos outros é comovente…
No dia seguinte, encontraram-se, ambas com canadianas, na paragem
do autocarro.
Jorge C. Chora