Marilu Ronca
tem vida de princesa. É mimada, come, dorme e não trabalha, porque não precisa.
Tem quem cuide dela todos os dias, a afague e lhe fale com toda a doçura. Faz
parte do seu crescimento harmonioso.
É avaliada
todos os dias, sem falta, não vá adoecer e ninguém dar por isso. É guardada por
dois enormes defensores caninos, que ao menor perigo desencadeiam violentos
alarmes sonoros. Não há quem se atreva sequer em pensar causar-lhe danos de
qualquer espécie.
A sua
habitação é varrida, escovada e lavada amiúde. Na parede existe ou vai existir,
uma marcação rigorosa em metros e centímetros, que possibilitam a identificação
da sua altura ao longo das semanas e dos meses.
De facto,
Marilu Ronca é uma princesa, criada por dois amigos nossos, meus e da minha
mulher, que lhe prodigalizam os cuidados que tenho vindo a mencionar.
O que ainda
não disse é que Marilu é uma porca numa casa em que os seus proprietários não
são nem têm nada de vegetarianos. Não sabe e duvido que Marilu queira saber que
os cuidados que recebe, não são desinteressados e que as festas fazem parte de
um processo de avaliação das suas carnes.
Até ao dia
fatal, Marilu Ronca faz jus ao seu apelido e vai roncando de manhã à noite, na
sua prepotência de princesa, usufruindo do seu estatuto real.
Jorge C.
Chora
28/11/2021