Desesperava
a taberneira Antónia ao ver a sua casa deserta semanas a fio. Faltavam-lhe os
clientes e o que mais gostava de ouvir: o tilintar das moedas a caírem na sua
caixa registadora.
À porta viu
o primeiro cliente e já passava do meio dia.
-O que é tu
queres ó Cuca? -perguntou de modo desabrido.
-Bons modos
e alguma simpatia…
Antónia
arregalou os olhos e franziu na testa. Até o raio da Cuca se atrevia a
falar-lhe assim, pensou.
-Como hei-de
estar se o negócio está deste modo… -E apontava o espaço sem vivalma.
-Vou
ajudar-te… - prometeu a Cuca.
Antónia
arrepiou-se. A Cuca-Bruxa ia ajudá-la? Onde é que a coisa já ia, pensou.
E a Cuca
falou assim:
-Basta que
subas à pipa atrás do balcão e o primeiro homem que aqui entrar, vai salvar-te
a ti ou ao teu negócio… - e dito isto, saiu.
Mal a Cuca
acabara de sair, quando a maçã camoesa que Antónia tinha no cimo do pipo a
aromatizar o vinho, lhe rolou aos pés. Subiu a um banco, e quando já nele estava
empoleirada, o banco caiu.
Agora é que
são elas…o raio da Cuca e das profecias…! -exclamou.
E quando
estava a resvalar, sentiu-se levantada ao ar e aninhada ao colo de um
verdadeiro urso, tão grande e peludo era o homem que a segurava.
-Mas o que
está a fazer! - repreendeu Antónia, com a acrimónia habitual.
-A salvá-la
minha senhora! Caso queira regressar ao pipo… -E fez menção de a recolocar no
mesmo sítio.
Um súbito
bem-estar apoderou-se de Antónia. Pôs-lhe a mão no peito e pediu-lhe desculpa,
enquanto ele a colocava no chão, de modo suave.
-O que quer
beber? - ofereceu Antónia à laia de agradecimento.
-Uma taça de
vinho d’amor, do seu amor ao pipo que estava a abraçar…- brincou o senhor.
E quando ela
se voltou, já o seu salvador desaparecera e à porta estava a Cuca que lhe
perguntou:
-Agora que
tens o vinho d´amor, tens de decidir se queres o tilintar das moedas na tua
caixa ou o amor do teu salvador.
E a Antónia,
com um ar emproado, sem sequer lhe dar troco, dirigiu-se ao exterior da taberna
e escreveu no quadro negro:
TAÇA DE VINHO
D’AMOR EM PROMOÇÃO – O,40
E Cuca
sorriu e disse-lhe:
-Quem saúde
tem e amor não quer, despreza o que mais lhe convém…
E na casa de
Antónia, envolta em solidão, mau humor e ingratidão, nem a Cuca conseguiu que o
dinheiro tornasse a tilintar.
Jorge C. Chora
6/4/2020