José teve seis filhos e qual deles o pior. As pessoas mais
crédulas acreditavam que algo de bom deveriam ter, mas acabaram por desistir de
tal crença, por acharem a tarefa demasiado hercúlea e infrutífera.
Unia-os uma cobiça avassaladora, o fingirem-se humildes com
os fortes, serem velhacos com os fracos e dotados de uma inveja sem tamanho,
para além de desprezarem o pai por ser pobre. Alvo de vilanias, calava as
infâmias e só pedia uma graça a Deus: que lhe saísse a sorte grande. Caso ela lhe
coubesse na sorte, tinha a certeza que eles o tratariam de outro modo e talvez
se dessem bem entre eles.
O tempo foi passando e a sorte nunca lhe bateu à porta. Um
dia José morreu. Vasculharam-lhe os míseros aposentos e nada acharam. Na ânsia
de herdarem qualquer coisa, inquiriram os seus companheiros de infortúnio, que
lhe indicaram um amigo que recebera um documento com instruções, acaso ele
morresse antes.
Depressa chegaram ao depositário do documento. Este
informou-os de que só poderia dar-lhes conhecimento do “testamento” quando
estivessem todos presentes, no quarto onde o pai falecera.
No dia aprazado, o amigo do José, abriu a porta do quarto,
na presença de todos os filhos. No chão uma grande campânula em prata, tapava
um prato também em prata.
O fiel depositário da carta do José, abriu-a e iniciou a sua
leitura:
Caras(os) Filhas(os)
Tudo o que tenho e vos deixo, está à vista. Estes objectos
em prata maciça, devem ser partilhados por vós e tal tarefa incumbe…
E a leitura foi interrompida, porque os seis filhos
iniciaram uma luta pela posse dos objectos.
Quando se acalmaram, a leitura foi retomada: …e tal tarefa
incumbe ao filho mais sensato, àquele que não lutou por eles. Caso todos tenham
participado, aos meus filhos destino o conteúdo oculto pela tampa e ao meu
amigo os objectos em si.
Acorreram os filhos a levantarem a tampa e depararam com um
horroroso achado: um enorme cócó do José.
Jorge C. Chora