segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

BEIJAR NA AMADORA



Há quem diga
que aqui os beijos
sabem a framboesa,
outros a menta
e a chocolate.
Certo é,
saibam eles
a menta, framboesa
ou chocolate,
são dados em
ambiente aromatizado,
de erva-doce
e café torrado,
conforme o sítio
da cidade onde
se dão e repetem.

Jorge C. Chora
   28/01/19

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A EXPULSÃO DA BALANÇA BIPOLAR




Contei-vos há tempos uma história sobre a minha balança bipolar. Pela sua estética, brilho e apresentação, fui-lhe tolerando o intolerável: enganava-me a torto e a direito, esfregava-me o ego porque me ia apresentando o peso ideal, logo de seguida desmentido… O que a manteve ao serviço foi a sua deslealdade sabida e lambe-botas, trambiqueira e volúvel.

Fartei-me e deixei-a no lixo, na parte exterior do contentor. Linda, nova e brilhante, vinte minutos após a expulsão, já lá não se encontrava.

Imagino o contentamento, as considerações feitas a propósito do abandono de algo tão perfeito, moderno e útil, feitas por quem a salvou do abandono despropositado de um novo-rico destrambelhado.

Quase me arrependo de a ter deixado no seu estado virginal, pronta a enganar papalvos desejosos de ser enganados. Só consigo redimir-me de semelhante estocada, com o pensamento-desejo de que alguém, tal como eu, deseja(va) ainda ser enganado, ao ver marcado um peso pluma em vez de um, correspondente a um hipopótamo guloso.

Chego à conclusão, que fiz uma maldade, embora sem ser essa a minha intenção, pois só desejava, no íntimo, afagar o ego aos bem-nutridos.

Puxar o lustro ao ego de alguém que não quer enfrentar a verdade, é pecado? Sei a resposta, mas não quero ouvi-la. Passem bem.

Jorge C. Chora
23/01/19

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A MUDANÇA



Passaram jovens,
menos jovens e idosos,
gente perfumada
de nariz empinado,
emproados d’outras
proveniências,
e nem um tostão furado
lhe colocaram no chapéu.
Em contrapartida,
choveram sentenças:
-Vai trabalhar malandro…
-Seu manhoso…
-Se guardasses o que te dão…
E vinda de algures,
surgiu uma menina
que lhe sorriu e depositou,
ao lado do violão,
um beijo e um monte
de senhas de refeição.
E o violão passou a soar,
 a partir daí,
de tal modo,
que em seu redor
se juntaram bandos
de pombos e gaivotas
bailando de asas entrelaçadas,
como nunca até então se vira.

Jorge C. Chora
22/01/19

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

LEMBRA-TE QUE MORRERÁS



 Traz ao peito
o orgulho de ser
simples,
de gostar de quem
te dá na gana,
sem obscuros interesses.
Retribui o amor
 aos que de ti gostam
e aprende:
-Nunca é tarde,
 para dizer não
 a quem não te quer bem.
 Manda à fava
todos aqueles que só exigiram,
 o que nunca te deram
nem estiveram dispostos a dar,
assim como aos falsos
humildes,
sacripantas lambe-botas,
sequiosos de vénias
 e ouro a forrarem-lhe os bolsos,
quiçá também as botas.
Traz ao peito
o orgulho de ser simples,
Memento mori.

Jorge C. Chora
16/01/19


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

SINÓNIMOS ACTUAIS DE MORRER OU PRÓXIMOS DISSO


                                

São inúmeros os sinónimos de morrer, populares ou não, que podem se elencados, mesmo excluindo muitos de origem brasileira ou africana.

Uma pesquisa breve na internet, dá-nos bastos exemplos:

- Bater as botas; expirar; entregar a alma ao Criador ou a Deus; esticar o pernil; dormir o sono dos justos; dormir o sono eterno; falecer; finar-se; último suspiro; ir para o jardim das tabuletas; ir desta para melhor; ir-se; perecer; ir ter com o Padre Eterno; partir; passar…

Nos dias que correm, a lista de sinónimos dos que deixam de constar do rol dos vivos
pode ser acrescentada:

-Deixar de constar na lista de espera do centro de saúde (ou para fazer cirurgia),
-Dispensado de pagar impostos;
-Sem hipóteses de abraçar o sr. Presidente da República;
-Ficar na fila de compra de casa a preço justo;
-Desejar viver condignamente com um salário mínimo legal;
-Julgar ter hipóteses de viver bem por ter emprego;
-Pensar que descontar mais para a  A.D. S. E. protege mais a saúde.

Modernices…

Jorge C. Chora
14/01/19


domingo, 13 de janeiro de 2019

CABELOS AO VENTO




Ondula a cabeleira
feita seara
oferecida ao vento,
e a sua dona murmura:
- Muito obrigado meu amigo
por me acariciares com tanta ternura,
refrescares as minhas ideias,
perceberes as minhas opções
e consolidares as minhas decisões.
E o vento
enche-se de brios,
redobra as carícias,
propicia afagos,
 e diz:
-Para si minha linda
mulher-menina,
ofereço-lhe esta borboleta
azul e amarela,
e colocou-a na
cabeleira sedosa e bela
da sua linda mulher-menina.

Jorge C. Chora
13/01/2019

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

MEDALHAS DE CHOCOLATE




A minha neta Caetana, não dá ponto sem nó. Embora tenha feito três anos no dia 6 de janeiro de 2019, este episódio que vou  contar  é muito anterior a esta data.
Farta de observar as medalhas do Francisco, irmão mais velho de oito anos, feitos na altura para aí há uns quatro meses, olhou-o bem nos olhos e disse:
-Quando for mais velha, também vou ganhar medalhas, mas têm de ser de chocolate para eu as comer!
Ora tomem!

Jorge C. Chora
8/01/19

O REALEJO



Encravou-se a manivela,
parou a música
e por mais que se
tente,
o realejo deixou de soar:
calaram-no à cacetada
e ninguém o consertou.

Querem os que o avariaram,
reprogramar o realejo,
arranjar a manivela
e pô-lo a tocar marchas,
acompanhadas pelo rufar de tambores
e do ressoar de passos,
 ao ritmo do “em frente marche!”

E quem gosta do simples
fogo de assar castanhas,
do cheiro a fumo e dos pregões,
treme de horror,
só de pensar em escutar,
em vez do realejo,
o rufar dos tambores
e o ressoar dos passos
ao ritmo do “em frente marche”.

Jorge C. Chora

8/01/19




terça-feira, 1 de janeiro de 2019

SOMOS AGRIDOCES




Somos todos agridoces,
às vezes mais acres
 do que doces,
 outras menos acres
e mais doces,
daí o sermos agridoces.

Ai de quem a tempo inteiro
queira ser só acre ou o seu oposto:
finge e finge mal,
é um meia- leca,
uma imitação de gente,
porque gente não é,
nem se comporta assim.

Às vezes somos mais acres,
outras menos acres e mais doces,
daí o sermos todos agridoces.

Jorge C. Chora 

      1/1/2019