Contei-vos há tempos uma história sobre a minha balança
bipolar. Pela sua estética, brilho e apresentação, fui-lhe tolerando o
intolerável: enganava-me a torto e a direito, esfregava-me o ego porque me ia apresentando
o peso ideal, logo de seguida desmentido… O que a manteve ao serviço foi a sua
deslealdade sabida e lambe-botas, trambiqueira e volúvel.
Fartei-me e deixei-a no lixo, na parte exterior do
contentor. Linda, nova e brilhante, vinte minutos após a expulsão, já lá não se
encontrava.
Imagino o contentamento, as considerações feitas a propósito
do abandono de algo tão perfeito, moderno e útil, feitas por quem a salvou do
abandono despropositado de um novo-rico destrambelhado.
Quase me arrependo de a ter deixado no seu estado virginal,
pronta a enganar papalvos desejosos de ser enganados. Só consigo redimir-me de
semelhante estocada, com o pensamento-desejo de que alguém, tal como eu,
deseja(va) ainda ser enganado, ao ver marcado um peso pluma em vez de um,
correspondente a um hipopótamo guloso.
Chego à conclusão, que fiz uma maldade, embora sem ser essa
a minha intenção, pois só desejava, no íntimo, afagar o ego aos bem-nutridos.
Puxar o lustro ao ego de alguém que não quer enfrentar a
verdade, é pecado? Sei a resposta, mas não quero ouvi-la. Passem bem.
Jorge C. Chora
23/01/19