Nina e Bernardo eram irmãos,
sendo ele mais velho do que ela. Quando eram ainda meninos,
tratavam-se por manos. À medida que foram crescendo, embora ele
tivesse só três anos a mais, ela habituou-se a tratá-lo por Mano
Velho.
Nina era extrovertida e vivia
rodeada de amigas. Bernardo não lhes achava graça, não conseguia
simpatizar por aí além com nenhuma em particular. Era delicado com
todas e nunca deixou transparecer nenhuma animosidade, fosse com quem
fosse, até ao dia em que conheceu Luísa e ficou encantado. Ela
tinha menos um ano do que ele e mais dois em relação à sua irmã.
A sua simpatia, a delicadeza e
os seus interesses diversificados atraíram-no.
Quando Luísa se tornou a
melhor amiga de Nina, Bernardo respirou fundo e agradeceu a Deus a
oportunidade de a ver amiúde.
Numas férias de verão, Nina
convidou Luísa a passá-las no velho casarão, na quinta da família.
Bernardo deu, interiormente,
pulos de contentamento.
Há muito que Nina percebera o
amor que o irmão nutria pela sua amiga. Achava estranho que o Mano
Velho nada dissesse à Luísa. Podia ser que agora Bernardo se
declarasse finalmente, até porque sabia o que ela sentia pelo irmão:
por mero acaso lera um poema que ela lhe escrevera para um dia lhe
dar e Luísa se esquecera de esconder.
Resolveu apressar o encontro
pois sabia que o Mano Velho, devido à sua timidez, nunca conseguiria
tomar a iniciativa. Falou à Luísa, que se mostrou muito colaborante
e lhe confessou, claramente, o que sentia pelo Bernardo.
Na manhã seguinte, à hora do
banho, comunicou ao irmão que ia à vila comprar pão. Antes de
sair, fechou a água e passado um bocado, Luísa gritava:
- Não há água… não vejo
nada e estou toda ensaboada… Luísa traz-me água do poço…
E Bernardo, atrapalhado
respondia:
- A Luísa não está…
- Então vai tu Bernardo...por
favor…
E passado um
bocado, atrapalhado, batia à porta e ouvia :
- Entra Bernardo, não consigo
ver nada…
E o mano velho entrou. O que
viu, nunca mais esqueceu: a mulher mais bela do mundo.
Ao regressar da vila, Nina viu
o que estava à espera: sentados lado a lado, de mão dada, estavam a
Luísa e o irmão.
- Afinal, decidiram namorar?
- Pedi o teu irmão em namoro
e ele aceitou.
-É verdade… - disse todo
ruborizado o Mano Velho.
Passados trinta anos, quando
algum deles amua, Nina ordena:
- Vai desligar a água e
aproveitar para lhe tirar o sabão…
E tem resultado.
Jorge C. Chora
5/09/2021