terça-feira, 28 de setembro de 2021

A MULHER É UM POEMA

A mulher é um poema,

tem forma e conteúdo pensante,

falante e por vezes exuberante.

Tem sabor doce ou agridoce

de maçã, pêra ou limão,

dependendo da ocasião.

Tem o poder da sedução,

domina-te quando lhe apetece

põe-te de joelhos e acontece,

teres prazer em dar-lhe a lua

o sol e tudo o que merece.

     

       Jorge C. Chora

          28/09/2021

sábado, 25 de setembro de 2021

CUIDADO

Se a inteligência é diminuta

não finja ter muita,

corre o risco de mostrar

o que quer ocultar.


Jorge C. Chora

25/09/2021

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A CHAVE

 Dois são os pedidos

de quem dinheiro não tem

e na vida quer singrar e ser alguém:

a lábia do poeta e o vigor do camponês!


Jorge C. Chora


22/09/2021


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

O FIM DA MÁSCARA


Desejar ver

e não poder,

estar perto

e não tocar,

falar sem destapar

a boca e os lábios mostrar,

almejar beijar

e ser beijado,

estar perto e não poder tocar,

ó Senhor, foi castigar

a carne, o espírito, a vontade,

roubar o doce à criança,

tê-lo perto sem o mostrar,

sabendo-o à mão sem os poder provar.

Que tormento Senhor!

Agora, destapados os lábios,

é tempo de os apreciarmos,

com conta, peso e medida,

se pudermos, claro está!

E caso não possamos,

não percamos tempo a falar,

isso fica para depois…


JORGE C. CHORA

17/09/2021




segunda-feira, 13 de setembro de 2021

CONSULTA PÚBLICA

 


Há dias uma amiga contou-me uma ida sua a uma ervanária, em tempos que já lá vão.

Ao entrar no espaço, este encontrava-se repleto de clientes. No balcão estavam duas mui veneráveis senhoras que bichanavam as suas queixas em busca dos chás adequados. Não conseguindo perceber a natureza das maleitas das clientes, o empregado esforçou-se para que as senhoras explicitassem de um modo mais claro, de que tipo eram as dores de que procuravam alívio. Não conseguindo ajudá-las de modo adequado, consultou em voz alta o seu chefe. Este, empoleirado num escadote para ter acesso a uma prateleira no fundo da loja, quis certificar-se das maleitas das idosas e berrou lá do alto:

-Afinal de que males da barriga se queixam ao certo? Comem e não cagam?


Jorge C. Chora


13/09/2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

O SEGREDO DA ROSEIRA

Ao chegar ao seu apartamento, no 4º andar sem elevador, Isaura ia estafada. Mesmo à sua frente,

aos pulinhos, encontrava-se Helena, a sua recente e jovem vizinha.

-Ai..ai… que vou fazer... ai...ai… - e Helena não conseguia abrir a porta – até que parou com os saltos – e já fiz!

E o xixi corria-lhe pelas pernas a abaixo. Olhou envergonhada para a sua idosa vizinha.

-Ai que vergonha…

Isaura não lhe deu tempo para dizer mais nada. Beijou-lhe a testa enquanto lhe fazia uma festa no braço e lhe dizia:

- Acontece minha pequena. Tens de ter atenção, não fiques muito tempo sem ir à casa de banho até porque isso não te faz bem…

- Estou todo o dia a atender os clientes e mal tenho tempo para ir… À saída, quero é chegar a casa o mais depressa e depois…

-Não te preocupes. Vamos combinar uma coisa. Na entrada do prédio, no jardim, há um balde que fica do lado direito, atrás do arbusto. A esta hora não entra ninguém. Se te vires aflita, já sabes… Ah! só te peço o favor, de lhe acrescentares um pouco de água da torneira que lá está ao lado e despejares na roseira.

- Helena agradeceu e Isaura deu-lhe um abraço apertado.

A partir desse dia, Helena nunca mais teve necessidade de saltar. Quem passa na rua, admira-se ao ver uma imponente e bela roseira:

-Quem será o jardineiro que a trata? Que adubo usará? Qual será o segredo?

Jorge C. Chora

9/09/2021

domingo, 5 de setembro de 2021

MANO VELHO



Nina e Bernardo eram irmãos, sendo ele mais velho do que ela. Quando eram ainda meninos, tratavam-se por manos. À medida que foram crescendo, embora ele tivesse só três anos a mais, ela habituou-se a tratá-lo por Mano Velho.

Nina era extrovertida e vivia rodeada de amigas. Bernardo não lhes achava graça, não conseguia simpatizar por aí além com nenhuma em particular. Era delicado com todas e nunca deixou transparecer nenhuma animosidade, fosse com quem fosse, até ao dia em que conheceu Luísa e ficou encantado. Ela tinha menos um ano do que ele e mais dois em relação à sua irmã.

A sua simpatia, a delicadeza e os seus interesses diversificados atraíram-no.

Quando Luísa se tornou a melhor amiga de Nina, Bernardo respirou fundo e agradeceu a Deus a oportunidade de a ver amiúde.

Numas férias de verão, Nina convidou Luísa a passá-las no velho casarão, na quinta da família.

Bernardo deu, interiormente, pulos de contentamento.

Há muito que Nina percebera o amor que o irmão nutria pela sua amiga. Achava estranho que o Mano Velho nada dissesse à Luísa. Podia ser que agora Bernardo se declarasse finalmente, até porque sabia o que ela sentia pelo irmão: por mero acaso lera um poema que ela lhe escrevera para um dia lhe dar e Luísa se esquecera de esconder.

Resolveu apressar o encontro pois sabia que o Mano Velho, devido à sua timidez, nunca conseguiria tomar a iniciativa. Falou à Luísa, que se mostrou muito colaborante e lhe confessou, claramente, o que sentia pelo Bernardo.

Na manhã seguinte, à hora do banho, comunicou ao irmão que ia à vila comprar pão. Antes de sair, fechou a água e passado um bocado, Luísa gritava:



- Não há água… não vejo nada e estou toda ensaboada… Luísa traz-me água do poço…

E Bernardo, atrapalhado respondia:

- A Luísa não está…

- Então vai tu Bernardo...por favor…

E passado um bocado, atrapalhado, batia à porta e ouvia :

- Entra Bernardo, não consigo ver nada…

E o mano velho entrou. O que viu, nunca mais esqueceu: a mulher mais bela do mundo.

Ao regressar da vila, Nina viu o que estava à espera: sentados lado a lado, de mão dada, estavam a Luísa e o irmão.

- Afinal, decidiram namorar?

- Pedi o teu irmão em namoro e ele aceitou.

-É verdade… - disse todo ruborizado o Mano Velho.

Passados trinta anos, quando algum deles amua, Nina ordena:

- Vai desligar a água e aproveitar para lhe tirar o sabão…

E tem resultado.

Jorge C. Chora

5/09/2021











sábado, 4 de setembro de 2021

AMADORA

 Outrora repleta de barracas

e bairros clandestinos,

hoje salpicada de verde e jardins,

habitada por gentes de paz

e múltiplas raízes,

é por muitos denegrida,

a maioria por desconhecimento,

outros por nítida má vontade.

Honrar quem a fez crescer

e deu o seu melhor

quando ela se transformou

numa das maiores do país

e trabalhou para solucionar

as muitas dores de crescimento,

é algo merecido,

embora muito ainda deva ser feito,

porque ela não vai parar de crescer.

Viva a Amadora e as suas gentes!


Jorge C Chora

4/09/2021

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

VIVER NA LUA

Dançar na rua,

ouvir a tua voz,

pensar em nós,

ir na tua,

sentir-te minha

por vontade tua,

sentir-me teu

por vontade minha,

é viver na lua.


Jorge C. Chora

1/9/2021