Há quem negue,
morrer-se de saudades,
mas delas morreu
quem de saudades
não queria morrer
Mas quem verdadeiras
saudades tem,
recusa-se a morrer,
sem primeiro matar
as saudades que tem.
Jorge C. Chora
27/9/2020
Há quem negue,
morrer-se de saudades,
mas delas morreu
quem de saudades
não queria morrer
Mas quem verdadeiras
saudades tem,
recusa-se a morrer,
sem primeiro matar
as saudades que tem.
Jorge C. Chora
27/9/2020
Tem-se medo,
de um abraço apertado,
de beijar o ser amado,
de lhe agarrar a mão,
de lhe tocar,
com medo de se ficar contaminado.
As encomendas às cegonhas
voltam a estar na moda
e o trânsito Paris-Lisboa,
completamente saturado!
Estamos covidados!
Jorge C. Chora
22/9/2020
Povoaste-me de ternura,
habitaste-me de doçura
com os teus encantos
e modo de ser.
Fizeste crescer
em mim,
o desejo de ti,
dos teus sussurros,
e transformaste-me
num dependente sôfrego,
do teu segredar de puro moscatel.
Jorge C. Chora
17/9/2020
O ENCONTRO
Entrou afogueada e com cara de poucos amigos. Sentou-se e
pediu:
-Uma imperial por favor.
Ainda o empregado não tomara nota do pedido quando ela o
alterou:
-Desculpe-me…. imperial pediria a Elisa. Se não se importa,
traga-me um Martini.
Após ter dado dois passos para atender o pedido, a senhora
chamou-o de novo:
-Perdão, a Elisa também pediria um Martini…traga-me antes um
chá gelado…
Filipe olhou-a com mais atenção. A freguesa, embora não
fizesse recordar nenhuma artista ou modelo conhecido, era bonita. Rondaria,
pelos seus cálculos, os quarenta anos. Uma coisa sabia: ela detestava a dita
Elisa.
Filipe achou-lhe
graça, sorriu-lhe e comentou:
-Um dia daqueles…
Dignou-se a freguesa olhá-lo e, num instante, a tirar-lhe um
raio X. Filipe sentiu que ela simpatizava consigo.
Nesse momento entrou um motorista fardado que se lhe
dirigiu:
- Doutora Elisa, a reunião é daqui a pouco…
A senhora levantou-se, passou pelo Filipe e perguntou-lhe,
se daí a duas horas ainda estava no estabelecimento.
Filipe sorriu de modo afável e perguntou:
-E quem quer saber? A senhora doutora Elisa ou a inimiga da
doutora?
-Ambas, meu amigo…e a propósito, o que faz aqui a servir às
mesas?
A radiografia tinha sido completa. Filipe não era, nem nuca
fora empregado de mesa…
Jorge C. Chora
9/8/2020
O ARTILHEIRO
O Caramba, o Touro, o Vinhaças, o Trombudo,
o Dá Cá Isso, e outros nomes como estes, eram alcunhas ostentadas pela
rapaziada da localidade.
Um dos jovens vivia apavorado por ainda não
ter uma. Leve como uma pena, de figura insignificante, temia ficar alcunhado
como “Enfezado” ou “Raquítico”. Pedia a Deus, embora temesse que mais dia menos
dia fosse o que lhe estava destinado, que nenhum dos rapazes tivesse semelhante
ideia.
A única coisa que o distinguia dos outros
jovens, era o facto de acumular uma grande quantidade de gases, porque comia,
quase todos os dias, feijão com um pequeno naco de toucinho.
Um dia descuidou-se, forte e feio, junto
aos colegas.
-O que é isso… meu Deus…
-Isso o quê…
-Não te faças de parvo… -reclamaram os
outros.
-Então dou-vos a oportunidade de o pintarem
de amarelo e ainda reclamam?
-Mau…
E o tiroteio continuou e a cada tiro
propunha o atirador:
-Agora pintem-no de azul… - e acabou, tão intenso foi o tiroteio, por
esgotar as cores do arco-íris.
E foi assim que conquistou a alcunha de
“Artilheiro” junto à comunidade masculina e ficou conhecido, na feminina, como o “Fedorento”.
Jorge C. Chora
6/9/2020
PARA LEREM AOS NETOS OU AOS FILHOS MAIS PEQUENOS
À sombra sentada,
uma bela moça
na flauta tocava,
uma linda melodia.
As aves escutavam-na,
e nem piavam, encantadas.
Atraído pelos sons,
um grande falcão,
a música adorou
e uma enorme paixão
nele despertou e logo ordenou:
- Ponham-na numa gaiola
e levem-na para a minha
caverna, no alto da montanha.
Quero ouvi-la sempre que quiser!
Engaiolada no alto da montanha,
as melodias tornaram-se tristes,
cada vez mais tristes,
até que deixaram de se ouvir.
O grande falcão mandou
devolvê-la ao local donde
a tinha capturado
e logo a linda moça tornou
a encantar todos os que ali se encontravam.
Agora podemos encontrar, todos os dias,
o sábio falcão, refastelado
no topo da frondosa árvore
a adorar a linda moça e as suas melodias.
Jorge C.
Chora
3/9/2020