domingo, 27 de setembro de 2020

SAUDADES

 

Há quem negue,

morrer-se de saudades,

mas delas morreu

quem de saudades

não queria morrer

 

Mas quem verdadeiras

saudades tem,

recusa-se a morrer,

sem primeiro matar

as saudades que tem.

 

Jorge C. Chora

27/9/2020

terça-feira, 22 de setembro de 2020

ESTAMOS COVIDADOS

 

Tem-se medo,

de um abraço apertado,

de beijar o ser amado,

de lhe agarrar a mão,

de lhe tocar,

com medo de se ficar contaminado.

As encomendas às cegonhas

voltam a estar na moda

e o trânsito Paris-Lisboa,

completamente saturado!

Estamos covidados!

 

      Jorge C. Chora

      22/9/2020

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

PURO MOSCATEL


Povoaste-me de ternura,

habitaste-me de doçura

com os teus encantos

e modo de ser.

Fizeste crescer

em mim,

o desejo de ti,

dos teus sussurros,

e transformaste-me

num dependente sôfrego,

do teu segredar de puro moscatel.

 

Jorge C. Chora

17/9/2020

 

domingo, 13 de setembro de 2020

 

O ENCONTRO

Entrou afogueada e com cara de poucos amigos. Sentou-se e pediu:

-Uma imperial por favor.

Ainda o empregado não tomara nota do pedido quando ela o alterou:

-Desculpe-me…. imperial pediria a Elisa. Se não se importa, traga-me um Martini.

Após ter dado dois passos para atender o pedido, a senhora chamou-o de novo:

-Perdão, a Elisa também pediria um Martini…traga-me antes um chá gelado…

Filipe olhou-a com mais atenção. A freguesa, embora não fizesse recordar nenhuma artista ou modelo conhecido, era bonita. Rondaria, pelos seus cálculos, os quarenta anos. Uma coisa sabia: ela detestava a dita Elisa.

 Filipe achou-lhe graça, sorriu-lhe e comentou:

-Um dia daqueles…

Dignou-se a freguesa olhá-lo e, num instante, a tirar-lhe um raio X. Filipe sentiu que ela simpatizava consigo.

Nesse momento entrou um motorista fardado que se lhe dirigiu:

- Doutora Elisa, a reunião é daqui a pouco…

A senhora levantou-se, passou pelo Filipe e perguntou-lhe, se daí a duas horas ainda estava no estabelecimento.

Filipe sorriu de modo afável e perguntou:

-E quem quer saber? A senhora doutora Elisa ou a inimiga da doutora?

-Ambas, meu amigo…e a propósito, o que faz aqui a servir às mesas?

A radiografia tinha sido completa. Filipe não era, nem nuca fora empregado de mesa…

 

  Jorge C. Chora

    9/8/2020

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

 

SORRIA

Sorria meu Bem,

far-lhe-á bem,

de bem consigo ficar,

ao conceder o bem

a quem bem a quer.

Bem agradado lhe ficarei

vê-la fazer-me bem,

pelo bem que lhe quero

ao saber que tão bem me quer.

 

Jorge C. Chora

9/8/2020

domingo, 6 de setembro de 2020

 

 O ARTILHEIRO

O Caramba, o Touro, o Vinhaças, o Trombudo, o Dá Cá Isso, e outros nomes como estes, eram alcunhas ostentadas pela rapaziada da localidade.

Um dos jovens vivia apavorado por ainda não ter uma. Leve como uma pena, de figura insignificante, temia ficar alcunhado como “Enfezado” ou “Raquítico”. Pedia a Deus, embora temesse que mais dia menos dia fosse o que lhe estava destinado, que nenhum dos rapazes tivesse semelhante ideia.

A única coisa que o distinguia dos outros jovens, era o facto de acumular uma grande quantidade de gases, porque comia, quase todos os dias, feijão com um pequeno naco de toucinho.

Um dia descuidou-se, forte e feio, junto aos colegas.

-O que é isso… meu Deus…

-Isso o quê…

-Não te faças de parvo… -reclamaram os outros.

-Então dou-vos a oportunidade de o pintarem de amarelo e ainda reclamam?

-Mau…

E o tiroteio continuou e a cada tiro propunha o atirador:

-Agora pintem-no de azul…  - e acabou, tão intenso foi o tiroteio, por esgotar as cores do arco-íris.

E foi assim que conquistou a alcunha de “Artilheiro” junto à comunidade masculina e ficou conhecido, na feminina, como  o “Fedorento”.

Jorge C. Chora

6/9/2020

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A GAIOLA DOURADA

 PARA LEREM AOS NETOS OU AOS FILHOS MAIS PEQUENOS


 À sombra sentada,

uma bela moça

na flauta tocava,

uma linda melodia.

As aves escutavam-na,

e nem piavam, encantadas.

Atraído pelos sons,

um grande falcão,

a música adorou

e uma enorme paixão

nele despertou e logo ordenou:

- Ponham-na numa gaiola

e levem-na para a minha

caverna, no alto da montanha.

Quero ouvi-la sempre que quiser!

Engaiolada no alto da montanha,

as melodias tornaram-se tristes,

cada vez mais tristes,

até que deixaram de se ouvir.

O grande falcão mandou

devolvê-la ao local donde

a tinha capturado

e logo a linda moça tornou

a encantar todos os que ali se encontravam.

Agora podemos encontrar, todos os dias,

o sábio falcão, refastelado

no topo da frondosa árvore

a adorar a linda moça e as suas melodias.

           Jorge C. Chora

             3/9/2020