segunda-feira, 29 de abril de 2024

É SINA?

 


Destes cravos,

espalhaste sorrisos.

Mal sabias tu,

tanto tempo passado,

que muitos preferem espinhos,

e cravos fora do cano das espingardas!

Não te cuides, amigo não

e em breve terás,

saudações de braço estendido,

gritos de volver à direita,

cabeças ocas a mandar no país

e a ralé a ordenar:

- Ordinário, marche!

 Durmam democratas

e um dia amanhecem,

nas masmorras da iniquidade!

    Jorge C. Chora

     29/4/2024

domingo, 28 de abril de 2024

I LOVE YOU OU AMO-TE

 

Com uma garrafa numa mão

e um cigarro na outra,

tresandando a cerveja e uísque,

alguém te abraça e declara,

enquanto te beija:

-  “I love  You”

e lhe respondes, equilibrando-te a custo

e com a vista toldada, sem saber se é o João

ou o Frederico a Ana ou a Teresa.

-“Me too”

I love you é a declaração das borgas, dita e redita

cada vez que te beijam ou tu os(as) beijas e os(as) levas

ou te levam, para detrás das moitas.

Mais séria é a declaração amorosa “amo-te”,

seguida de um beijo, sabendo a morango, pêssego

ou amora, isenta de álcool de má qualidade,

em que se doam mutuamente, de livre vontade,

exprimindo um verdadeiro desejo,

 sem confundir o João com o Frederico, a Ana com a Teresa

e ambos(as) se lembram no dia seguinte do prazer que tiveram,

e das juras que fizeram!

                           Jorge C. Chora

                             28/4/2024

 

quarta-feira, 24 de abril de 2024

A LIBERDADE

 

 

A liberdade é

 um chapéu

de três bicos.

Tanto cobre

quem a ama,

como quem a detesta

e ainda de quem

acha que tanto fez

como tanto faz.

Esqueceram-se

de que é ela que

garante esta posição

de se ser contra, a favor,

ou dizer que tanto faz

 como tanto fez.

Esqueceram-se

dos tempos sem pio,

do falar em surdina,

do calar as injustiças

ou de ir parar à António Maria Cardoso,

onde mesmo à revelia,

sob tortura, se dizia aos berros,

aos amantes da falta de liberdade,

o que eles queriam e defendiam.

A liberdade é demasiado preciosa,

para acobertar vilanias,

venham elas de onde vierem.

         Jorge C. Chora

             24/4/2024

AMAR É

 

 AMAR

Amar é:

Julgar vê-la em todo o lado;

estranhar cada minuto da sua ausência;

pegar-lhe na mão como no jardim-escola;

querer levá-la ao colo, mesmo sem poder;

querer beijá-la a toda a hora e sentir o seu calor;

achar estarem invisíveis no meio de uma multidão;

apertá-la e fundirem-se numa só pessoa;

ficar sem palavras na sua presença;

concordar com tudo o que diz, sem nada ter ouvido;

ficar hipnotizado com o mexer dos seus lábios;

cheirá-la e sentir o aroma de Chanel;

ficar mais burro do que na realidade é.                                                     

Um estado d’alma divino, uma embriaguez,

um Bolero de Ravel.

 

                 Jorge C. Chora

                   24/4/2024

 

domingo, 21 de abril de 2024

A ÁRVORE DAS PATACAS

 Num país onde escasseiam

poetas, artistas e professores,

murcham as flores,

mas florescem pançudos,

colhendo patacas

nos seus quintais.

Elas são adubadas pelas dores

de muitos servidores,

tão mais intensas

quantas mais patacas

exigem os senhores,

à revelia da decência e das leis.

     Jorge C. Chora

       21/4/2023

terça-feira, 16 de abril de 2024

SOB O SIGNO DA MAÇÃ CAMOESA

 

Acordei com o aroma

e o sabor da maçã camoesa

a pairar no ar e na minha cabeça.

Era na tua adega, com o perfume a camoesa,

que te pegava ao colo,

te beijava dos pés à cabeça,

e aos teus ouvidos murmurava:

-Adoro provar-te com este tempero a maçã.

Deitada que hoje estás a meu lado,

sei que hoje será dia sim,

pois já vens dotada do sabor a maçã camoesa.

Jorge C. Chora

16/4/2024

domingo, 14 de abril de 2024

NO METRO

 

Na hora de ponta,

entre os passageiros

ensanduichados,

há uma alegre cara

de lua cheia,

de olhos vivos

e de lábios sorridentes,

a desejar-nos bom dia.

Está rodeada de gente cansada,

de caras fechadas,

já esquecidos dos sonhos de abril

e de outrora terem sido jovens.

Oxalá o futuro desta mulher-menina,

com cara de lua cheia,

tenha motivos para que

os seus olhos possam continuar a sorrir,

e a desejar-nos bom dia, com renovada alegria.

 

Jorge C. Chora

14/4/2024

sexta-feira, 12 de abril de 2024

MARIE E AS AMIGAS


 

Marie era filha de uma senhora belga e de um rico comerciante português. Rondava os 19 anos e era a perdição dos moços da Vila de Finca Pé.

Quando as férias se aproximavam, ela e as amigas vinham de férias para o casarão dos seus pais na dita vila.

Elas passavam os dias na piscina, petiscando, bebendo, mergulhando e secando-se ao sol, tal como tinham vindo ao mundo.

A rapaziada entrava em polvorosa. A casa localizava-se numa colina e a encosta, permitia uma visão daquele espaço, a partir de um pequeno alto, sem que elas suspeitassem.

O alto era disputado a murro e a pontapé, mas ninguém abria o bico

para não denunciarem a sua presença.

Uma empregada da casa conhecia-os bem. Sabia o nome de todos e do Arnaldo, o mais velho, que ela cobiçava, mas sem sucesso.

Marie um belo dia topou-os. Pediu à Emília que os chamasse, um por um, pelos seus nomes, incluindo aquele de que ela gostava.

Encavacados, apresentaram-se à porta. Marie recebeu-os e disse-lhes:

-  Convido-os a entrarem e a estarem connosco, mas despidos, tal como nós estamos e vocês sabem. Podem mudar-se no anexo e deixarem lá a roupa.

Dito e feito. Saíram todos nus e ouviram a porta do anexo a fechar-se.

Procuraram o acesso à piscina, mas não o encontraram. A única porta aberta dava para a rua.

Emília, à socapa puxou pelo braço de Arnaldo e introduziu-o em casa.

Os restantes, ao darem pela sua falta, apavorados, fugiram tal como estavam.

 

Marie pediu à Emília que lhes dissesse que tinham de ir para o alto onde estavam e ela levar-lhes-ia a roupa. Quando ela se preparava para executar o pedido, Marie disse-lhe que se conseguisse escolher quatro entre eles, seriam bem-vindos…

Aflitos, logo que ela lhes trouxe o vestuário, perguntaram-lhe pelo Arnaldo e a resposta de Emília foi rápida e incisiva:

- Arnaldo está muito bem onde está!

Após uma observação cuidada de todos, não conseguiu inclinar-se para nenhum e resolveu dizer-lhes:

- Só os que vão à missa podem entrar, mas como nenhum vai, nada feito.

O padre ainda hoje não consegue explicar o súbito interesse da rapaziada, nas missas dominicais.

 

          Jorge C. Chora

           12/4/2024

domingo, 7 de abril de 2024

DEUS AMA AS MULHERES

 

Se Deus ama as mulheres, os homens também as amam. Mais, são as prediletas do Senhor e dos homens também.

A única diferença é que o Senhor as entende e os homens amam-nas, sem geralmente as entenderem.

Alguns querem assemelhar-se ao Divino, mas Ele na sua infinita sabedoria, falou e disse:

- É melhor assim, pois é uma garantia de que continuam a adorá-las.

E por uma questão de amor e de fé, continuamos a amá-las sem as decifrarmos, embora finjamos consegui-lo!

Ps. Se disserem que eu disse isto, nego terminantemente alguma vez tê-lo dito.

Jorge C. Chora

 7/4/2024

sábado, 6 de abril de 2024

ROSA SEM ESPINHOS

 

Não é invulgar, ao passares,

ver pessoas boquiabertas,

e de olhos alertas,

não vá o vento levar-te,

a ti e ao teu sorriso

e ser preciso segurar-te.

És a flor desejada,

para quem tem ou não jardim,

tal a delicadeza de uma rosa sem espinhos,

poiso de besouros e de abelhas benfazejas,

por puro amor à beleza,

receosos de que o vento te leve,

e os prives do teu amado sorriso.

 

           Jorge C. Chora

                6/4/2024

quarta-feira, 3 de abril de 2024

A UMA DEUSA DOURADA

 


Ó deusa dourada,

de rabo e seios

de um branco imaculado,

de alourados pelos do púbis,

adornando as asas

da tua libelinha intocada,

só levemente acariciada

pelos teus dedos sedosos,

e teus murmúrios prazerosos,

desejo-te os bons dias e uma longa vida.

Uma vida tão longa,

quanto a que para mim desejo,

enquanto tiveres o rabo e os seios,

de uma brancura imaculadas,

uma libelinha intocada

e fores uma deusa dourada!

       Jorge C. Chora

         3/4/2024

segunda-feira, 1 de abril de 2024

ENGANO


Tenho saudades do tempo,

em que mal me vias,

com o teu olhar me despias,

e ambos tremíamos, à espera

do entrelaçar dos nossos corpos.

Recentemente, olhaste-me

e enchi-me de esperança,

até perceber, atrás de mim,

a presença de alguém,

mais importantes do que nós:

os netos.

Ai as saudades daquele tempo,

quando o teu olhar me despia,

e eu o teu desejo sentia,

e nem enganos havia!

   Jorge C. Chora

      1/4/2024