terça-feira, 31 de janeiro de 2023

UMA CORRIDA INESQUECÍVEL

Um destes dias ouvi um cliente de um café, a rir-se de uma cena protagonizada por duas idosas.

Ambas tinham chegado de carro para irem à fisioterapia. Saíram com dificuldade das viaturas, manuseando atabalhoadamente as canadianas em que se apoiavam, sem darem uma pela outra.

Subiram o passeio e iniciaram a penosa caminhada em direção à porta da fisioterapia. Eis senão quando deram uma pela outra. Foi um ver- se- te -avias: pareciam ter recuperado a mobilidade, tal a velocidade que conseguiram adquirir, a ver quem chegava primeiro.

Então não é que a última a entrar, foi a primeira a ser atendida pois, os tratamentos não são por ordem de chegada, mas de marcação.

Isto fez-me recordar as eleições americanas e brasileiras: quem perdeu pretende, à fina força, ter ganhado, contra todas as regras, como se os lugares presidências já tivessem sido antecipadamente marcados! Americanices.

 

Jorge C. Chora

31/1/2023

sábado, 28 de janeiro de 2023

AMAR É UM LUAR D'AGOSTO


Amar é um luar d’agosto,

é poder ver o ser amado,

de manhã, à tarde e à noite,

quer vestido ou despido,

em todo o seu esplendor,

e poder contar-lhe os poros,

sem saltar um único que seja.

 

        Jorge C. Chora

           28/1/2023

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

AS MULHERES SÃO FLORES

 

As mulheres são flores:

as louras são girassol,

açafrão, searas ao sol,

enquanto as morenas

são tulipas e dálias;

as ruivas são estrelícias

as roxas hortências,

e as com cãs, petúnias.

Juntas formam um jardim

de amores-perfeitos,

aliança entre o encanto,

a doçura e o bem-estar,

que no mundo devia reinar,

e a brutalidade afastar.

 

      Jorge C. Chora

       26/1/2023

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A SAIA DO MOÇO


Há dias, ao atravessar a estação subterrânea da C.P. na Amadora, vi um jovem adulto a atravessá-la, trajando uma saia.

A saia era de um tom de camurça e não era minissaia: ia até aos joelhos.

Ninguém disse um ai. Todos viram e ninguém comentou absolutamente nada. Reparei, no entanto, numa jovem que vinha em sentido contrário.

Arregalou os olhos, que já de si eram grandes, ao vê-lo cruzar-se com ela de modo desembaraçado. Voltou ligeiramente a cabeça, seguindo-o mais uns segundos. Quase se podia ler o pensamento e julgo tê-lo conseguido fazer.

“Eu de calças e ele de saias. Em casa já nem saias tenho! Será que por baixo usa alguma coisa? Talvez umas de fio dental, como eu e as minhas amigas!

E se não usa nada? Não seria má ideia segui-lo, vê-lo sentado, de perna cruzada nalguma esplanada e confirmar se sim se não! Mas, se ele é peludo, mesmo que nada use, só conseguirei observar os seus pelos púbicos e julgarei tratar-se de umas trousses pretas…”

  Após um minuto de indecisão, em que esteve parada, mas, sem se voltar para trás, acabou por seguir o seu caminho, embora não serena, com a oportunidade perdida de poder ganhar o dia.

 

Jorge C. Chora

24/1/2023

domingo, 22 de janeiro de 2023

O MUNDO

 

Se não ver é triste,

 muito mais triste,

é tudo conseguir ver,

e não querer saber,

ou fingir algo fazer

e deixar acontecer!

Falar sem ajudar,

pouco ou nada dar,

 tudo conseguir ver,

 só fingir algo fazer,

para a fotografia tirar,

é coisa de espantar!

 

   Jorge C. Chora

      22/1/2023

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

UM LIVRO ESPECIAL


Em cima da mesa estava um livro de apreciável espessura, forrado a carneira.

Um casal puxava o livro para perto de si, ora agora um, ora de seguida o outro.

Estiveram naquele jogo do puxa-puxa, quase meia hora, no meio de sorrisos e algumas carícias nas mãos dela, feitas de modo meloso.

João ficou curioso em relação ao livro. Sendo um amante de livros, aquele só podia ser uma raridade.

Quando passou pela mesa dos senhores, não se conteve e disse:

- Desculpem-me, o livro deve ser uma raridade! Qual é o autor e o título da obra, se não se importam de revelar… Sou um apaixonado por obras raras…

A senhora, sorrindo, respondeu-lhe:

-É o livro de calotes, deste importante senhor, à minha empresa!

 

Jorge C. Chora

20/1/2023

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

INFERNO E INFERNINHO


O inferno para os malvados,

o inferninho para os abençoados,

ambos são falados e quentinhos,

um é castigo, o outro é recompensa.

Para os que amam, o inferninho

é eterna saudade, quando deixam,

de poder as suas benesses usufruir,

ficando sempre na memória o quão

bom e feliz foi o tempo dessa fruição!

Aos velhacos, o diabo e a punição,

tantas as canalhices sem remissão.

 

          Jorge C. Chora

             18/1/2023

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A CASMURRICE DO TEMPO


Quando tenho pressa

e o quero a andar depressa,

faz gala em ser lento,

caminhar passo a passo,

devagar, e até me passo:

Tic… tac…tic… tac…

E disto não sai, um desespero!

Quando pressa não tenho,

ele a toda à pressa caminha:

tic… tac… tic…tac

É um estupor, tanto desdenha

quem tem pressa,

como quem a não tem:

o minuto tem sessenta segundos,

nem mais, nem menos um,

e recusa-se a alterar,

 seja por que motivo for!

 

      Jorge C. Chora

        11/1/ 2023

sábado, 14 de janeiro de 2023

AS ORELHAS

 

Orelhas feitas,    

querem-se perfeitas,

não só para elogiar,

mas para os amantes

o amor poderem declarar

e um arrepio de prazer,

ambos conseguirem ter,

no momento do sussurrar.

   Jorge C. Chora

    14/1/2023

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

OS AZARES DE JOÃO BRÁS

 

Elevou as mãos ao céu quando conseguiu, nos princípios da década de setenta, mais propriamente em 73, um biscate a entregar cartas e telegramas, nos Correios, na Ericeira.

Para um jovem, era ouro sobre azul, um biscate em agosto e a perspetiva de uns cobres no bolso.

Na época, as entregas dos telegramas urgentes davam mais dinheiro do que os normais: uns fabulosos e cobiçados vinte e cinco tostões!

Após ter dado graças a Deus por ter conseguido que lhe dessem um telegrama urgente para entregar, criou asas e num ápice estava na morada indicada.

Entregou o telegrama na casa de uma viúva, que lhe pediu o favor de o ler, em virtude de não saber e querer inteirar-se do conteúdo do mesmo.

Mal João Brás o leu, a viúva caiu para o lado, após dar um grito de dor e desespero: o telegrama anunciava-lhe a morte do filho.

Aflito teve de socorrer-se do apoio da vizinhança que o ajudou a auxiliar a senhora. Tinha recebido um presente envenenado ou melhor, envenenadíssimo!

Noutra ocasião, teve de entregar uma carta na zona de campismo selvagem, existente na altura, na Foz do Lizandro. As instruções para a entrega eram para a carta ser entregue numa barraca amarela. Lá do alto, depararam-se-lhe inúmeras barracas amarelas. Decidiu entregar a carta na mercearia após confirmar que a senhora conhecia a destinatária.

Ao retornar ao acampamento para entregar outras cartas para lá remetidas, foi abordado de modo agreste pela destinatária da carta que ele tinha entregado na mercearia, porque ela estava de relações cortadas com a merceeira que, ainda por cima era sua cunhada!

Farto da peixeirada, deixou um aviso alto e em bom som: a partir desse dia, as cartas seriam entregues, às 11horas da manhã, só a quem estivesse presente. Quanto às outras, seriam devolvidas e teriam de ir buscá-las ao Correio.

João Brás, hoje ,mas só hoje, consegue achar graça aos momentos que passou a lutar por vinte e cinco tostões, quando era jovem.

Jorge C. Chora

13/1/2023

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

AMAR É COISA SÉRIA

 


Já os antigos sabiam, que apressar o prazer quando se ama, Ovídio por exemplo, era desnecessário. Estou de acordo, as pressas no amor não servem quem ama nem quem é amado. Se assim é, a solução é amar, amar sempre, sem pressas e com prazer, usufruir o amor, beneficiar quem se ama e nunca deixar de amar, porque é ter prazer eterno.

 

JORGE C. CHORA

       12/1/2023

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

OS LÁBIOS

Os lábios são favos de mel,

devorados em lua de mel,

doces como água-mel,

bebedeira de hidromel,

casa de desejos sem quartel,

sonho memorável e inesquecível,

experiência diariamente repetível!

 

JORGE C. CHORA

11/1/2023

 

 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

OS SEGREDOS

Se segredos tens

e os queres manter,

evita contá-los a alguém,

porque o pedido de “não contes

a ninguém”, mil vezes será repetido,

sempre que a alguém o segredo

aos amigos e amigos dos amigos será solicitado.

 

       JORGE C. CHORA

          9/1/2023


domingo, 8 de janeiro de 2023

O VELHO PESCADOR

 

Perguntaram a um velho pescador,

por acaso, também um velho professor:

-Ó tu que tanto sabes, quantos peixes

há no mar?

- Sinceramente não sei, talvez haja

 quem saiba calcular, mas eu só sei

quantas sereias havia…

-Como assim?

- A última sereia pesquei-a eu e tenho-a

em casa. É a mãe dos meus filhos e nunca

mais quis voltar ao mar, embora saiba nadar!

 

            JORGE C. CHORA

                 8/1/2023

sábado, 7 de janeiro de 2023

A ROSA

 

Quando em botão, a rosa é misteriosa.

Se amarela, lembrará a primavera?

Se vermelha, despertará a paixão?

Ou branca como o luar de agosto?

E um dia abre-se, e o mistério

desparece, mas fica o encanto,

o usufruto do aroma e da plena cor,

de apreciarmos e colhermos a sua maciez,

com delicadeza e reverência,

porque de contrário, os espinhos,

defendem-na e mostram-nos que a rosa,

em botão ou aberta,

é e será sempre uma rosa.

        Jorge C. Chora

           7/1/2023

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

O DORMINHOCO


Adoro beijar-te,

mas fico a pensar

não teres prazer

em os receber,

tão raros são

os que me dás.

Dizes gostar

de mos dar

enquanto durmo

e agora queixas-te

que passo o tempo

a fingir estar a dormir!

 

    Jorge C. Chora

        5/1/2023

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

TRUQUES

 

Quando dizes não me amar,

sinto estares só a provocar.

Se acaso fosse verdade

esse desamor confessado,

ao meu ouvido sussurrado,

não me sentiria tão espicaçado

em fazer-me por ti desejado,

quanto te sinto por mim atraída

e me mentes para ser compensada!

 

          Jorge C. Chora

               3/1/2023

domingo, 1 de janeiro de 2023

O SACO


Poupou dinheiro durante meses e quando viu o blusão que queria, apressou-se a comprá-lo. Como era cedo para regressar a casa, deu uma volta pelo centro e sentou-se num banco corrido, ao lado doutros clientes. Pousou o saco com a compra ao seu lado e ficou a contemplar o movimento.

Na hora de se ir embora pegou na sua compra, mas achou a embalagem mais leve. O saco era igual. Abriu-o e qual não foi a sua surpresa ao verificar que em vez do blusão, havia panos de cozinha velhos e rotos.

Tinham-lhe trocado o saco por outro o igual, mas com conteúdo diferente.

 Percorreu o centro comercial de lés a lés para ver se encontrava quem levasse um saco idêntico. Nada. A tremoia tinha sido bem feita.

Furioso decidiu replicar o golpe. Trouxe de casa outro saco, repleto de cuecas velhas e meias rotas e pousou-o a seu lado.

Não demorou muito até que uma bela senhora, bem vestida e melhor perfumada, se sentasse a seu lado e colocasse ao lado o saco com as compras que fizera.

Levantou-se e de modo calmo levou-lhe o saco, deixando o seu. Na primeira oportunidade espreitou o conteúdo: eram objetos de natureza muito íntima!

Desiludido resolveu devolver o saco à senhora, pedindo desculpa pela troca. Ela continuava no mesmo sítio e nem dera pelo desaparecimento das suas compras.

- A senhora desculpe-me, mas levei-lhe as suas compras em vez das minhas…

A senhora olhou-o com atenção e um pouco corada disse-lhe:

-Não são minhas…

- Olhe que são… - e ato contínuo, abriu o saco e retirou um dos objetos…

Ao lado, uma jovem na casa dos vinte, que presenciara a cena, apressou-se a intervir:

- Muito obrigado, o saco é meu…

E mal o jovem virou as costas, a rapariga deu a mão à senhora, pousou-lhe o saco no colo, deu-lhe dois beijos e disse-lhe:

- Ele já se foi embora…

Jorge C. Chora

1/1/2023