O Zé desceu as escadas com esforço notório. Colocava os pés,
degrau após degrau, sem falhar nenhum. Percebia-se que se encontrava com dores.
Outro qualquer ver-se-ia em palpos de aranha se lhe perguntassem a que se
deviam as dores. Ele não tinha desses problemas. Inventaria uma patranha, a
primeira de que se lembrasse. Com ou sem invenção, o certo é que o rabo lhe
doía a bom doer.
Acabara de arrancar dois pêlos do sim-senhor e ia impingi-los
como se fossem da púbis da Dádá.
Há quatro meses que engendrara o namoro secreto entre ele e
a recém-chegada. Para o provar exibia aos amigos os pêlos atribuindo-os à colega.
Ela era jovem, loura e bem-parecida. Sendo os cabelos anais do Zé mais pretos
do que um tição, tinha tido alguma dificuldade em explicar como é que a loura
os tinha daquela cor.
- Sabem…eles inicialmente eram louros mas com a acção foram
escurecendo… - confidenciava, com a mão em concha, voz sumida e um ar de
conquistador irresistível.
Claro que Dádá nem sonhava o que dela se dizia na pequena vila.
O pior para as partes sensíveis do Zé, foi quando os amigos enfiaram na cabeça
que os cabelinhos da Dádá eram essenciais para que eles tivessem sorte com as
raparigas da terra. Começaram a pedir-lhe e depois a exigirem-lhe cada vez mais
as amostras milagrosas. No início não se fez rogado e a ganância cimentou o
negócio. Agora não podia negar-se. O resultado era evidente: por aquele andar
em breve deixaria de poder caminhar.
Quando teve, de uma só vez, uma encomenda de dez, fez as
contas e achou por bem não perder a fortuna envolvida. Foi-se à mula da casa e
cortou-lhe, da cauda, os pêlos encomendados.
Os compradores acharam estranho o produto comprado.
Reclamaram da dureza dos ditos, ao que o vendedor, pacientemente, explicou:
-Quanto mais lhos arranco mais endurecem…
Inquirido sobre o facto de lhes parecer que os primeiros
tinham um certo cheiro e estes outros, encheu-se, de novo, de uma paciência a
toda a prova:
-Ela mudou de perfume… tem medo de que eu me sature…
Um belo dia Dádá veio a saber das histórias do “menino” e
deu-lhe tantas, mas tantas bofetadas que ele durante duas semanas ficou de cara
inchada e vermelha ganhando, no aspecto, ao mais bêbado da localidade. Por
cumplicidade e por terem acreditado no Zé, todos os companheiros apanharam.
Perante a sociedade local o grupo ficou a ser chamado ” bolachas da Dádá.”
O Zé, a partir daí, ficou conhecido como o “Rabo Pelado” e
ainda hoje ninguém se lembra de ter tido outro nome. Uma vantagem tirou do
arranque dos pêlos anais: sempre que o tempo ameaçava chuva, ele sabia,
antecipadamente, se ela cairia ou não: se lhe doesse muito, chovia.
Devido a essa característica, acabou por arranjar um emprego
de porteiro num estabelecimento de diversão nocturna. Mal chovia ele tinha
sempre à mão um enorme guarda-chuva, para acompanhar a clientela às respectivas
viaturas. Até à data nenhum cliente se molhou.
Quantos Zés de rabos pelados conhecem V.Exas ?
Jorge C. Chora