sábado, 28 de agosto de 2021

SE EU FOSSE PESCADOR

Se eu fosse pescador

e tu na Ericeira morasses,

ó meu amor,

estarias sempre comigo

quando fosse pescar,

sem nunca precisares de ir ao mar,


Ó meu amor,

se eu fosse pescador,

comigo estarias sempre,

sem precisares de ir pescar,

nem de ir ao mar,

ver-te-ia em carne e osso

quando à Ericeira regressasse.


Jorge C. Chora

28/8/2021

domingo, 22 de agosto de 2021

PRAIA DOS COXOS

Despem-se as deusas,

oferecendo os glúteos

às carícias solares

e aos olhos gulosos,

de damas e cavalheiros

apreciadores de divinas belezas.


Fantasiam-se apertos

às deusas desnudas,

de seios transbordantes,

tão dourados quanto divinos,

do areal da pequena baía



Jorge C. Chora


22/8/2021


 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

O CONFORMISTA

 Sonhava ser magro e alto, muito alto, altíssimo. A meio do sonho, lá das alturas, olhou para baixo, teve uma vertigem e caiu.

Meio a dormir, palpou-se, respirou fundo e suspirou: estava na mesma, continuava baixo, gordo, e a separá-lo do chão, não havia senão a pequena distância que ia da sua cabeça aos pés.

- Ainda bem que não sou alto! -disse para si próprio, em voz alta.

O despertar súbito causou-lhe fome. Em cima da mesa estava uma banana. Dividiu-a em três partes, rigorosamente iguais, separou uma para si e as outras duas para a sua amada. Ela merecia muito mais do que ele, pelo menos o dobro de si e a exatidão era consigo: duas para ela, uma para si. Ela, a amada, era mais inteligente, mais trabalhadora, mais meiga, tudo mais do que ele, com exceção do amor que lhe dedicava, que a bem da verdade, não podia ser maior do que o seu por ela.

E quando ao entrar em casa, viu a sua mais-que-tudo, nua e dourada, com os braços abertos e o vizinho a correr para os seus braços, deu-lhe uma vertigem e caiu redondo ao chão.

Ao acordar, pediu desculpa à sua adorada, por tê-la imaginado toda nua a entregar-se ao vizinho.

- Ó querido essas tuas vertigens dão cabo de ti!- e abraçou-o, aconchegando-o aos seus seios nus, enquanto o vizinho escapulia casa e jardim fora.


Jorge C. Chora

17/8/2021

SOOKIE E OS JORNAIS



Sookie é uma cadela que não lê nem soletra, mas não passa sem jornais. Prefere o “Expresso”, embora não se faça rogada se for outro.

É uma bichon maltês, altamente sociável, como convêm a uma cachorra de linhagem. Não regateia beijos nem lambidelas a quem quer que seja, conhecido ou desconhecido. Guardar o lar? Outra que se canse a ladrar.

Luísa Machado, uma sobreirense de gema, é a principal beneficiária das meiguices da Sookie, pois é a sua dona.

No verão, ambas adoram residir na Ericeira.Ver o mar, à varanda, ao colo da sua dona, é algo de que Sookie não prescinde, para mal dos pecados da Luísa.

Quanto aos jornais, já se percebeu que Sookie os utiliza para as suas necessidades e, como tal, é natural que a sua preferência recaia no Expresso, o maior deles todos.

Hoje, Sookie ficou sozinha em casa durante algumas horas. Quando Luísa chegar a casa, vai deparar-se com uma manifestação de profundo desagrado por ela se ter sentido abandonada: toalhas espalhadas pelo chão, assim como a roupa da dona colocada nos cantos do quarto.

Sookie vai querer ser acalmada, na varanda, ao colo, a ver o mar e a receber miminhos.

Nem todos podemos ter a sorte da Sookie! Que Inveja!


Jorge C. Chora

19/8/2021

terça-feira, 10 de agosto de 2021

A VIDRAÇA

Se algo se podia dizer sobre o modo como o lavador de janelas e vidraças trabalhava, era que ele tinha brio no que fazia.

Contratado para lavar a frente de um edifício em vidro, executou a tarefa de forma primorosa. Ninguém, de boa mente, podia colocar qualquer defeito. Quem encomendou o serviço, decidido a obter uma redução do preço previamente combinado pelo trabalho, resolveu denegri-lo:

- Este trabalho, da forma que está feito, só vale metade do preço combinado!

Ainda mal acabara de falar, quando um bando de pássaros, em pleno voo, embateu violentamente contra a fachada envidraçada, tão limpa ela estava que até parecia não existir vidro nenhum.

O trabalhador abriu os braços, sorriu e nada disse. O contratador, por sua vez, imitou-lhe o gesto e exclamou:

- Vá lá perceber-se porque se suicidam os pássaros!- voltou-se e entrou no edifício, mas embateu, de modo também violento, no vidro da porta que parecia lá não estar.

E o trabalhador, fingindo-se intrigado, perguntou:

-O suicídio está na moda?


Jorge C. Chora



quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A AMIGA DA ONÇA

Está morto e enterrado

quem recusava

a máscara e a vacina.

A sua viúva,

insistia e apoiava

o “fora a máscara”

e o “não à vacina”,

porque à espera,

outro tinha,

adepto da mesma

e da dupla vacina.


Jorge C. Chora

    5/8/2021