Uma hiena viu um leão no meio do mato. Temerosa, ficou
quieta e em silêncio absoluto. Observou-o. Estranhou a sua quase imobilidade e
o facto de estar a gemer. Pareceu-lhe que ele estava doente. Resolveu
investigar melhor o que se passava.
Aproximou-se, passo a passo, e verificou que a fera rugia e
se contraía com dores. Concluiu que estava em sofrimento. A hiena, perante a
debilidade do leão, começou a pensar no modo de tirar vantagem da
situação. Humilhar o rei seria óptimo.
Causar-lhe um dano de que pudesse vangloriar-se junto aos seus, de ter feito
gato sapato do feroz animal, era ouro sobre azul.
Surgiu-lhe a ideia de abocanhar-lhe o traseiro, arrancar-lhe
um pedaço de carne, exibi-lo na alcateia e dizer-lhes:
- Vejam o que tirei ao leão, enquanto ele fugia de mim!
Logo veria como poderia trabalhar melhor a sua história e
vangloriar-se da sua grande valentia.
Arquitectada a tramóia, era preciso executá-la. Muito
devagar, já de boca aberta, foi-se chegando à traseira do leão. Um urro
atemorizante paralisou- a. No ar pairou um cheiro nauseabundo.
Os olhos da hiena giraram no globo ocular, tal o terror que
de si se apoderou. Recusou-se a acreditar no que viu: o leão acabara de fazer
um ciclópico monte de cócó. Tremendo de
medo, a hiena borrou-se toda.
O leão estava só com dores de barriga. Levantou-se a fera
sem se dignar olhar a insignificante hiena e lançou-lhe ao focinho o resto dos
gases que tinham permanecido nos seus intestinos.
Uma bruxa que morava num embondeiro, perto do local,
assistiu à cena e achou que a fanfarrona da hiena merecia uma boa bruxaria.
Dito e feito: atribuiu à hiena um cheiro característico, bem fedorento, um
apetite voraz por carne putrefacta e um riso estranho e apatetado que ajudava a
denunciá-la na selva.
Neste momento a bruxa agarrou na sua vassoura e prepara-se
para vir passar o dia 31 de Outubro a Portugal, com a intenção de atribuir às
hienas citadinas, as mesmas características que acabou de conceder, lá na selva,
às suas irmãs.
Quantas hienas conhece? Muitas? Talvez ainda haja tempo de
fazê-las sair da toca…
No creo en brujas, pero…
Jorge C. Chora