terça-feira, 28 de novembro de 2023

O FADO É POESIA MUSICADA


O fado é poesia musicada

percorrendo becos, vielas

e ruas de Lisboa e deste país.

Corre nas veias, desde os pés

 descalços, até às dos doutores.

Compostos por poetas

e músicos, abraçados às violas

e às guitarras, alegres ou gemebundas,

cantando alegrias ou desgraças,

por fadistas do Minho ao Algarve.

           Jorge C. Chora

             28/11/2023

 

sábado, 25 de novembro de 2023

JÚLIA


À porta de casa, após ter perdido a mãe há um mês, Júlia recebeu duas cartas carimbadas e registadas: uma, a anunciar-lhe ter sido despedida e a outra a dar-lhe um pequeno prazo para abandonar a casa onde tinha nascido, em virtude de o contrato estar em nome da sua mãe, que falecera, ou caso contrário, a pagar o quadruplo da renda.

Saiu desvairada de casa, cirandou sem rumo por essa Lisboa, sem conseguir pensar em nada ou em qualquer solução.

À medida que se cruzava com pessoas ia dando os bons dias, ainda que por puro hábito. Ninguém lhe respondeu.

Num jardim povoado de gente, achou uma corda no chão, fez um laço corrediço, lançou-o a um tronco forte e à vista de todos enforcou-se.

Ninguém a demoveu ou sequer se moveu. Levantaram-se e foram-se embora, exceto uma velha peixeira que por ali passava. Correu a agarrá-la pela cintura, tentando suportar o seu peso para evitar que se enforcasse.

Gritou por ajuda pois, sozinha, não tinha forças para sustentar a jovem, mas sem auxílio não conseguiu aguentá-la por muito tempo e o enforcamento deu-se.

Rezou-lhe uma Avé Maria, ainda agarrada à cintura da jovem.

Uma lágrima de desespero e raiva escorreu-lhe pela cara, por não ter conseguido evitar aquele desfecho.

Pagou o funeral da jovem e na lápide mandou inscrever o seguinte dizer:

AQUI JAZ UMA JOVEM, QUE NINGUÉM QUIS AJUDAR.

OXALÁ NÃO VOS ACONTEÇA O QUE A ELA ACONTECEU.

Jorge C. Chora

25/11/2023

terça-feira, 21 de novembro de 2023

FIM DE VERÃO E INÍCIO DE OUTONO

 

 

Manuela desnuda,

aquecida pelo sol,

 e massajada pelo vento,

estende-se no terraço,

relaxando- se deliciada.

O vento sopra devagar,

retesando-lhe os seios

e alcançando o umbigo,

caminhando na direção

mais desejada e sentida.

Manuela ronrona, agradecida,

aos preciosos amigos,

que tão prazerosos momentos

lhe proporcionam, nos divinos,

fim de verão e início de outono.

 

         Jorge C. Chora

         21/11/2023

sábado, 18 de novembro de 2023

A ZANGA DO PESCADOR - DEDICADO À MINHA NETA CAETANA

 


 

Encapelou-se o mar,

enfureceu-se o vento

e da popa do bote,

rugiu o velho pescador:

- O que se passa meus amigos?

Hoje não me apetece nadar,

 o meu barco vão afundar

e assim não posso pescar!

Ou se calam ou ponho-me a cantar!

-Isso não meu amigo-disseram o mar,

e o vento, arrepiados até à medula,

ao vê-lo preparar-se para desafinar.

Deu o vento a mão ao mar

e foram assustar para outro lugar.

E o velho pescador, pôde lançar,

finalmente, a rede ao mar e pescar,

poupando o vento e o mar de o ouvir cantar!

         Jorge C. Chora

        18/11/2023

 

 

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

como é?

 


O que não sentes por mim,

sinto eu por ti,

mas não quero que sintas,

o que eu não sinto,

porque eu por ti,

sinto e só sinto,

 o que tu não sentes

 e podias sentir por mim!

     Jorge C. Chora

      16/11/2023

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

OS CIÚMES DO MAR

 


Com a pena de uma gaivota,

escrevi na areia de praia,

o que por aquela mulher sentia.

Nunca a vira e não mentia:

movia-se como uma enguia,

mais bela do que uma sereia,

diferente das que conhecia.

Acabara de sair da água,

trazia vestida uma saia,

formada pela espuma do mar!

Só então percebi,

ser a noiva das ondas do mar,

que foram apagar,

o que eu tinha escrito na areia,

com a pena de uma gaivota,

sem respeito por aquilo que sentia!

 

        Jorge C. Chora

         13/11/2023

sábado, 11 de novembro de 2023

SEGREDOS REVELADOS

 

Quando os segredos se revelam,

há uns que nos encantam,

e outros que nos magoam.

A descoberta de seres

perversos e assassinos,

fazedores de anjos precoces,

à bomba e à metralha,

amortalhando crianças

a quem nem as asas cresceram,

povoando os céus cedo demais,

é algo que nos horroriza.

A chuva sanguinolenta,

deixa o mundo sem luz

e a bondade encarcerada,

numa caixa escura como o breu.

Esquecem os assassinos,

que só se vive uma vez

e ninguém ressuscita para viver de novo:

quem morre, morre de vez!

 

           Jorge C. Chora

             11/11/2023

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

O SABER

 O saber é um ter,

um bem a querer,

quanto mais se tem,

mais se quer ter,

nada há a perder,

mas tudo a ganhar.

 

 Jorge C. Chora

  10/11/2023

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

O FADO DA JÔ

 


Jô, era moça bonita,

 um tanto gaiteira,

a quem nada faltava.

Hoje é moça desgraçada,

à bebida devotada:

perdeu o marido,

depois os filhos

e ficou sem nada.

Tornou-se num saco de pancada,

vive marcada, agredida e socada,

sempre sovada e nunca amada,

por bêbados de ocasião aproveitada.

A vida tornou-se num fado,

dos mais tristes narrado,

sobre uma moça outrora bonita

e hoje uma desgraçada,

só por copos acompanhada,

em saco de pancada transformada!

         Jorge C. Chora

          9/11/2023

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O AMOR À TERRA

 


Tenho uma terra

pobre e pequena,

pouco ou nada dá,

exceto o prazer

de a continuar a ter.

Herdei-a da minha avó

que a herdou da sua trisavó,

tendo-a herdado, sei lá de que avó.

Dizem agora que era deserto

e nada lá se dava ou tirava!

Mentira deslavada:

Tirava-se o prazer de a ter

e dava-se-lhe o amor merecido,

por várias gerações devotado.

    Jorge C. Chora

    6/11/2023

sábado, 4 de novembro de 2023

SAUDAÇÃO AO SOL

 

Quando o sol ao fim do dia,

boceja e quer descansar,

assiste-se a um belo deitar,

a que chamamos pôr -do - sol.

Despeça-se dele, saudando-o,

desejando-lhe uma boa noite

e bons sonhos, acompanhado

de um grande obrigado,

por se levantar todos os dias bem cedo,

continuar a dar-nos a vida que temos

e a abraçar-nos sem regatear a sua presença,

embora, por vezes, as nuvens o queiram esconder!

                Jorge C. Chora

                4/11/2023

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

MADALENA

 

Nem sempre é fácil,

mostrar que se ama,

diz-nos Madalena a tremer,

quando sente os seios a enrijecer

e certa parte do amado a crescer,

quando ao pé dele acontece estar.

O impasse só se desfez,

quando o que se previa aconteceu:

atraídos um pelo outro,

as línguas enroscaram-se

e se amaram sem nunca anunciarem,

terem declarado um ao outro,

amarem-se como se amavam.

          Jorge C. Chora

           2/11/2023