.A casa era pobre, térrea e pequena. Em frente existia um
pequeno quintal, cheio de ervas, sem qualquer muro ou vedação a separá-lo da
rua. Lá morava um homem, cuja idade ninguém conhecia. Andava sempre de camisola
interior e só era visto de dois em dois dias. Era conhecido como Porco Sujo
devido ao seu aspecto andrajoso e pouco limpo.
Pese embora o seu aspecto e a pobreza da habitação, tinha
fama de ser rico ou melhor, riquíssimo. À noite, espreitavam-no e viam-no a
escavar um buraco, às escuras, de modo silencioso. Adivinhavam-lhe os gestos,
os ritmos da escavação e o arfar de cansaço.
-É ali que ele enterra o dinheiro! Ou o ouro e as jóias… -
comentavam os vizinhos.
O tempo foi passando e, pela noitinha, a vizinhança, de
atalaia, via-o repetir, sem qualquer falta, a mesma tarefa. Mortos de
curiosidade e ganância, resolveram investigar.
Numa das suas ausências, foram observar se a terra naquele
local, que tão mal se via ao luar, estava ou não remexida. Mal a pisaram ela
cedeu um bocado. Confirmadas as suspeitas, retiraram-se e combinaram, daí a
dois dias, a altas horas da noite, quando o homem estivesse a dormir, irem
escavar o buraco e apropriarem-se do tesouro do” Porco Sujo”.
Nomeados três homens para executarem a tarefa e combinada a
hora da incursão, três da manhã, retiraram-se todos para as suas respectivas
casas.
No dia aprazado, munidos de pás,
iniciaram os trabalhos de escavação. O terreno estava mole e, de repente, cedeu
e abriu-se um buraco enorme no qual caíram os três. Ficaram atolados numa papa
mole e fedorenta, sem se conseguirem mexer.
Com o passar das horas, os que os
esperavam concluíram: fugiram com o tesouro! Resolveram ir todos, pé ante pé, em
fila indiana, saber o que se passava. Um após o outro caíram no buraco, sem um
grito para não alertarem o proprietário do tesouro.
Até de manhã, debateram-se, sem
sucesso, para conseguirem sair do local malcheiroso, onde o”Porco Sujo”
despejava os seus dejectos.
Quando o proprietário se levantou
e se deparou com o espectáculo da vizinhança atolada nas suas fezes exclamou:
-Oh meu Deus! Querem ver que a
vizinhança veio ajudar-me a limpar o meu terreno e logo por azar caiu na minha
fossa? Peço mil perdões.
E passou o resto do dia a
tirá-los, com a ajuda de uma corda, e a repetir por cada um que saía:
-Os senhores perdoem-me, mas
parecem uns autênticos “Porcos Sujos”…