Em tempo de pandemia, o meu exercício matinal é assaz
limitado. Arrasto-me pelo parque, rebocado pela minha mulher, que não desiste
de caminhar uns minutos diários para não enferrujar. Em tempo normal, andamos
cerca de 6Kms por dia, logo pela manhã, até às Portas de Benfica.
Estou a habituar-me ao mini -circuito e se isto continuar,
não sei se terei vontade de retornar aos estirões pré-pandemia.
Nas manhãs atuais, enquanto a minha mulher me puxa parque
acima, cruzo-me com gente interessante, nomeadamente com a Pisa-Ovos. Ela corre
estando quase parada, com passinhos tão, mas tão lentos e cuidadosos que mais
parece estar preocupada em não fazer nenhuma gemada. Para se certificar se
algum ovo ficou estragado, observa uma maquineta que provavelmente identifica o
que pode ter sido estragado.
Mais adiante, vejo um cão, em corridas para cima e para
baixo nas margens da ribeira, onde abocanha uma pedra em substituição de uma
bola. Transporta-a para o topo de uma elevação, larga-a e acompanha-a na
descida ladrando e abanando o rabo. Não tem com quem brincar, brinca sozinho.
Todos os dias o vejo e já quase nos cumprimentamos.
Hoje vi uma senhora a descer em direcção à ribeira, toda
ligeira, e pensei que ela ia recolher alguma garrafa ou plástico que lançam à ribeira.
Qual não foi o meu espanto, ao vê-la colher as flores que alindavam aquele
canto, subir a margem e desaparecer, pensando certamente em decorar a jarra lá
de casa.
E enquanto faço esta caminhada, cumprimento, isso sim, gente
como eu, da brigada do reumático, que se vai arrastando e se força a sair uns
minutos de casa!
Jorge C. Chora
17/03/2021