Pelo menos na Beira e em LM, quando era jovem, o programa dominical era idêntico em muitos lares.
Logo pela manhã, toque de alvorada, que o meu pai queria caminhar
ao longo da praia. Só parávamos para mergulharmos e restabelecermos a
temperatura corporal. Dispensava perfeitamente o frete (a caminhada, não a
praia) mas os pais, só com ordem de soltura ao fim de semana, reputavam este
exercício como essencial.
Após a estafa, até porque o meu pai era dotado de umas
grandes gâmbias, regressávamos a casa, tomávamos um duche retemperador e
aguardávamos com ansiedade a refeição: caril de caranguejo ou de camarão. Às
vezes era de peixe e quanto maiores eram as postas, maior a desilusão. Adiante.
O caril era acompanhado de coca-cola, à temperatura polar, ou por cerveja,
muito gelada, para os adultos.
Seguia-se-lhe uma breve sesta e uma ida à matiné, em salas
frescas e confortáveis, com o pessoal de banho tomado e ninguém a cheirar a
chulé. Quando no filme as cenas eram cortadas, acontecia a tradicional pateada,
por parte da juventude e não só, aos míopes e castrantes censores, para quem um
beijo equivalia a um crime de lesa-majestade.
Acabado o filme, se havia festas, muito bem, se não havia,
conversava-se com os amigos, já com a cabeça posta no malfadado dia seguinte e
no regresso às tarefas escolares. Evaporava- se a boa disposição e se algum
ânimo ainda subsistia, era à custa de ir rever alguns simpáticos colegas.
Em férias, a música era outra, rumo à praia, mas sem a
companhia paterna, pois essa estava reservado para os domingos, associada às
penosas caminhadas e só era compensada pela carilada.
Jorge C. Chora
30/04/2021