Chegaram ambos ao mesmo tempo ao balcão da pastelaria. Um
cheiro intenso e nauseabundo a cebola de má qualidade, mesclado de outros
odores difíceis de identificar, atingiu-os em cheio.
Entreolharam-se de cenho franzido. Numa fracção de segundos
analisaram-se mutuamente.
“ Como é possível, que uma mulher com este aspecto cuidado,
descure a sua higiene deste modo? Ela não parece nada ser do género
porcalhona…” -pensou ele.
Olhando-o de soslaio, ela deplorou o desconhecido: ”Um homem
de quem não se esperaria semelhante descaso…”
E ambos
abandonaram, o mais depressa que lhes foi possível, sem se tornarem a olhar, o
café
dos
encontros malcheirosos.
Já à saída, pararam no primeiro degrau, respiraram fundo e
nenhum deles, mesmo tendo os narizes em cima um do outro, se lembraram, de
forma subtil, de se cheirarem: definitivamente cheiravam mal, muito mal.
Jorge C. Chora
14/5/19