terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O SEGREDO DAS ESTRELAS DO CÉU

As estrelas do céu
são tantas que não se deixam
nem podem contar.
Cada uma corresponde
a uma promessa de amor,
que se mantem a cintilar
e a um segredo que está na posse
dos que estão enamorados.

Jorge C. Chora
30/1/2018

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

DESTINO

Apoucados durante a vida,
endeusados após a morte,
foi e ainda é,
destino aziago de inúmeros poetas e cantadeiras,
vilipendiados e mal-amados enquanto respiram,
adorados quando já não sentem, nem precisam.

Jorge C. Chora

24/1/2018

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O PERFUME DA ROSA



A vida tal
como a rosa,
é perfumada,
bela e cor-de-rosa.



Tal como à rosa,
caem-lhe as pétalas,
esmorece o perfume,
salientam-se os espinhos,
torna-se incolor,
mas não deixa de ser
aquilo que é: uma rosa.

Jorge C. Chora


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

UM ANTEPASSADO REMOTO DO AVÔ?




Levámos o nosso neto Francisco, em Dezembro passado, à exposição sobre os dinossáurios, na Cordoaria Nacional.

Percorreu os espaços com as réplicas dos mesmos, com toda a atenção. Parou numa imagem representando um dinossáurio do cretáceo. Mirou e remirou o bicho e à medida que lia a informação afixada sobre aquele exemplar, ia-me olhando de relance.

Aproximei - me para averiguar o motivo daquelas inspecções e descobri o que as motivava: aquele exemplar chamava-se, nem mais nem menos do que Alberto. Era um Albertossauro!

Afinal qual é o espanto? É que o avô do gaiato, neste caso eu, também me chamo Alberto!

O Francisco tentava identificar se havia alguma reminiscência detectável entre mim e o bicho? talvez, mas não confessou a hipótese. Se achou, não disse qual: talvez no peso e no facto de ser carnívoro e comilão.

Este lagarto com quem partilho o nome, foi descoberto na região de Alberta, no Canadá.



Jorge C. Chora


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A FEIRA DAS PÉROLAS CHOCAS



Com tantas feiras que há por esse país fora, surpreende-me que não haja uma dedicada às calinadas.


Os que proferem calinadas a um ritmo superior ao da degola dos perus em véspera de Natal, receberiam isenção do pagamento da licença de feira e um bónus: a autorização de utilização do selo da infalibilidade que Sua Santidade deixou de usar, que lhes seria facultada em exclusivo.

Os amantes das asneiradas poderiam debitar todas as atordoadas que quisessem, sem que ninguém lhes assacasse responsabilidade alguma por aquilo que dizem. O direito a franzir o nariz perante as enormidades proferidas, seria revogado, sendo os oradores livres de dizerem as baboseiras que quisessem.

Reforçar a resiliência dos ouvintes e treiná-los para que em vez de se aborrecerem se divertissem com os dislates, seriam objectivos mais do que válidos para a realização dessas feiras/festivais, desde que as palermices fossem só ditas e despejadas nesses dias e nesse espaço, reservado às pérolas chochas.

Como não se espera para breve a realização de um acontecimento deste cariz, pede-se aos que militam nestas hostes, que tenham dó dos ouvintes e não os condenem a penar na terra, o que um dia terão eventualmente de sofrer no inferno.



 Jorge C. Chora

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

AMUO


Estou amuado
com a minha amada,
pedi-lhe três beijos
e só me deu dois.
Disse-lhe que faltava um,
aborreceu-se
e respondeu-me,
que só faria as pazes
quando me desse
os quatro que faltavam.

Fiz figas e pedi
juros de mora,
e em boa hora o fiz,
em vez de quatro,
ganhei seis.



Jorge C. Chora

sábado, 13 de janeiro de 2018

À ESQUERDA OU À CANHOTA?


A liberdade de expressão não tem preço. Longe vão os tempos em que o medo e a censura política, calavam este direito.

Vem isto a propósito de um dito de um elvense chamado João, conhecido como “Veneno”, que se referiu àqueles tempos, na sua terra natal, como sendo uma época em que até era perigoso mencionar a palavra ”esquerda”.

Captada a atenção do ouvinte, João contou que se alguém perguntasse por um sítio localizado à esquerda do sítio onde se encontravam, o informante dizia que virassem à canhota, seguissem até ao cruzamento e, de novo à canhota, encontrariam o local pretendido.

O hirsuto bigode de João tremeu quando ele deu uma gargalhada e concluiu:

-Naquele tempo, virar era só à canhota…

-É verdade, ai de quem virasse à esquerda! Só à canhota! -concordou “Valetas”, outro elvense, irmão do primeiro.



Jorge C. Chora








quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

AMOR E IMAGINAÇÃO



Amor e imaginação,
ligá-los um ao outro,
uni-los em benefício
de quem se gosta,
que mais se pode desejar,
do que amar e ser amado
por outro alguém
que também une o amor à imaginação.

Jorge C. Chora


3/01/2018

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A LISBOA DOS TUC-TUCS



Ei-los que trepam, envoltos em fumo e ruído, as ruas e vielas dessa Lisboa, conduzindo os seus triciclos motorizados, semelhantes a besouros zumbindo em colmeias povoadas.

Abrem caminho apitando aqui e acolá, tentando afastar das estreitas vias, os pedestres que circulam em magotes descontraídos.

Jovens arquitectas(os), historiadores(as), engenheiras(os) ou filósofas conduzem os tuc-tucs em marchas rápidas, para gáudio dos estrangeiros, também jovens geralmente, por essa velha Lisboa dos bairros típicos.

Abrandam, explicam e encantam com detalhes de Alfama, Martim Moniz ou Mouraria. Deliciam os turistas com o que mostram e possibilitam-lhes vivenciar, em segurança, cheiros exóticos que lhes avivam memórias de outras paragens, com a enorme vantagem destes só se misturarem com o cheiro a bafio dos velhos bairros, em vez do fedor a urina de muitos mercados orientais e da insegurança de inúmeros souks por esse mundo fora.

Em relação aos tuc-tucs orientais, os de Lisboa são infinitamente mais seguros, limpos e dispensam os passageiros de trazerem uma muda de roupa interior, como precaução, em relação às correrias loucas dos seus congéneres tailandeses.

Jorge C. Chora

1/01/2018