Há um ditado africano que diz mais ou menos isto:” Se vires
um cágado em cima de uma árvore, não penses que foi ele que subiu: alguém o pôs
lá.”
O que o ditado não diz nem explica, é que essa realidade
teve um princípio. Um princípio?
Sim, claro! Tudo tem um início e, como tal, tem de ter um
fim, embora, neste caso específico, não se vislumbre ou anteveja, o fim dos
cágados nas árvores.
Então qual foi o princípio? Vou já contar, não se apressem.
Um belo dia, um macaco com um currículo de patifarias que
faria corar de inveja o mais empedernido dos sabujos, resolveu dar um passeio
na selva. Olhando para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo, não
lhe sobrou tempo para olhar em frente.
Num piscar de olhos foi vítima de uma cilada. Apanhou tantas
ou tão poucas, que jurou a si próprio e aos do seu grupo, nunca mais correr
sequer o risco de cair noutra.
Juntou os seus
apoiantes e explicou-lhes que era necessário colocar observadores no maior
número de árvores possível. Eles seriam os seus olhos e deviam depender, na
totalidade, de si e dos seus.
O conselheiro-mor, um
macaco sabido e de longa barbicha branca, disse:
-Os melhores para essas funções são os cágados.
-Os cágados? Mas esses, coitados, nem às árvores conseguem
subir…
-Por isso mesmo!-
gargalhou o conselheiro - Eles sabem que quem lá os pôs os pode tirar a
qualquer momento, sem ter de dar qualquer justificação. Dependem de nós para
tudo. Podemos atirá-los contra os que se nos opõem, fazê-los cair em cima
deles. Matamos dois coelhos de uma só cajadada: esmagamos os que reclamam e
criamos um lugar novo para substituirmos os cágados que morrem.
-Ó conselheiro, assim, com o decorrer do tempo, corremos o risco das árvores não suportarem o
peso dos cágados que lá colocamos! –
observou um jovem pertencendo ao grupo.
-Não te preocupes meu amigo… o teu lugar está assegurado… -
É só obrigar todos aqueles que não pertencem ao nosso lado a plantarem mais
árvores e promover, alguns deles, a cágados, para dar alguma esperança a quem
não a tem.
E o conselheiro-mor voltou à sua tarefa, a de consultar e
seleccionar, entre a longa lista de
candidatos a cágados, os que ia nomear…
Jorge C. Chora