domingo, 30 de janeiro de 2022

OS SABORES DA VIDA

A vida é feita de sabores,

amargos, doces e agridoces,

variáveis com a idade

contexto e intensidade.

Quando se chega à terceira

e última fase da vida,

mais implacável se torna:

-Já contaste essa história,

não a contes de novo!

-Outra vez o mesmo assunto?

-Fala daqui a um bocado,

agora não há tempo!

E põem- se em bicos dos pés

os Zés-Ninguéns e os fregueses

do beija-mão d’outrora.

Vingam as doenças,

vão-se as poupanças,

encolhem-se as reformas,

partem os amigos e conhecidos

e até os inimigos e os invejosos,

vão-se todos, não fica nenhum,

ou só fica um, para lhe atenazar o juízo!

Mas tudo se suporta, com alguma alegria,

até ao dia em que morre o(a) consorte.

A vida pára e o cônjuge sobrevivo

só deseja a morte, para continuar

a ter a companhia da consorte.

      Jorge C. Chora

       30/01/2022

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

TER TUDO...

Não ter nada ou quase nada,

acontece a quem não ama

nem é amado por ninguém:

está só ou mal-acompanhado,

por todos abandonado.

Só compra sorrisos a alguém,

como quem adquire mercadorias

nos supermercados ou nas peixarias.

Quem não ama, pouco ou nada tem,

embora possa ter um vintém

não passa de um Zé Ninguém!

       

            Jorge C. Chora

            28/01/ 2022

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

AS MENINAS-BEM

Adoro as meninas-bem,

chamam-me meu querido

e meu bem também,

e não fico ofendido

por na boca de alguém,

ser bem e querido,

não o sendo quase por ninguém

exceto pelas meninas -bem.

 

       JORGE C. CHORA

       24/01/2022

sábado, 22 de janeiro de 2022

O MISTÉRIO DA JOVEM DAS SOBRANCELHAS NEGRAS

Margarida despertava a atenção por onde passava. Tinha uma linda cabeleira loura, era elegante, muito sorridente e ostentava umas espessas sobrancelhas negras. O contraste capilar era de tal ordem que surpreendia quem por ela passava.

Na esplanada mais frequentada do local, mal Margarida acabara de passar

a atenção dos jovens frequentadores foi por ela mobilizada:

-Como se chamará e que idade terá?

Uns deram-lhe entre 20 e 25…

-Onde é que trabalhará?

Modelo sem dúvida, concordaram.

E as perguntas eram em catadupa e ficavam sem resposta. Ninguém a conhecia.

 Enquanto se entretinham nos jogos de adivinhação, surgiu Afonso, que namorara um tempo com a simpática Jovem.

Ao aperceber-se de quem falavam, calou-se bem calado, até que António, um dos que estava no grupo, a reconheceu como uma antiga namorada do amigo recém-chegado e o olhou de soslaio.

Aperceberam-se logo que havia uma ligação qualquer entre Afonso e a jovem senhora.

- Afinal descose-te lá…

 E agora não só queriam saber as banalidades da idade… como também qual a cor dos pelos da púbis da beldade: se era idêntica à do cabelo ou das sobrancelhas…

Afonso estremeceu só de pensar nisso. Disfarçou o melhor que pode a súbita ereção, sentou-se e disse:

-Meus amigos, mesmo que quisesse. nunca conseguiria dar essa informação, pois nunca a vi despida!

- Como assim?

Nunca chegámos a esse ponto, uma vez que concluímos que éramos muito mais amigos do que namorados!

E à medida que falava, ocultava o melhor que podia a excitação que dele se apoderara ao lembrar-se dela despida.

E António, que estivera com eles no nudismo, no tempo em que eles namoravam, calou-se bem caladinho embora soubesse bem o que coscuvilheiros queriam saber.

Tenha o leitor(a) paciência por não desvendar o segredo de Margarida, pois nem o Afonso nem o António me revelaram os íntimos segredos da amiga e mesmo se o tivessem feito, guardaria, tal como eles, o segredo da bela Jovem loira das sobrancelhas negras.

 

Jorge C. Chora

22/01/2022

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

FOI-SE O TEMPO...

Foi-se o tempo das pressas,

do agora devagar e depois depressa,

dos ais sentidos e repetidos,

dos amores incontidos,

das explosões gritadas

e das prazerosas sensações

da doce morte.

Foi-se o tempo das pressas,

tudo passou, exceto as saudades

do tempo dos ais sentidos e repetidos.

Jorge C. Chora

20/01/2022

domingo, 16 de janeiro de 2022

CHUCHA

 

 A Chucha já foi jovem

e por sinal bem bonita,

hoje não tem dentes

e brincam com ela:

Chucha Cachucha

Cachucha chucha.

Ela não leva a mal

e diz a quem a manda chuchar:

Agora chucho eu

logo chucharão vocês,

esperem pela vossa vez!

se conseguirem a velhos chegar,

sem dentes se calhar,

verão quão bom é poder chuchar!

 

       Jorge C. Chora

       16/01/2022

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A CASA ALENTEJANA NA AMADORA

 

Quem da casa alentejana sai,

a ermida da Falagueira, em frente,

parece-lhe uma autêntica catedral:

o padre. um cardeal,

as aberturas, janelas papais,

onde o Papa dá as bênçãos 

aos fiéis e às multidões,

na praça de S, Pedro reunidas.

Quem da Casa Alentejana sai,

 tem garantida, uma viagem a Roma,

sem os incómodos dos aeroportos,

nem o dispêndio monetário

de uma viagem ao Vaticano

e com a garantia de ver o Papa!

E ao mesmo tempo, ter provado

 os melhores torresmos,

 acompanhados por uns vinhos à maneira.

 

Jorge C. Chora

13/01/2022

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A AMADORA DE AGORA E A LISBOA D'OUTRORA

 

Tenho saudades de ir a Lisboa,

andar a pé, parar aqui e acolá,

beber um branco ou um tinto,

umas iscas no pão ou uma bifana;

passear à beira-rio, ver quem passa

e falar, com quem se desconhece

e se fica a conhecer ou nunca mais se vê,

bastando para isso, ser simpático e falador.

Pena é ser difícil realizar este desejo,

tão simples nos dias de ontem e tão

difícil nos de hoje, onde quase se evaporaram

as tascas, os alfarrabistas, a vontade de falar,

os espetáculos de rua, os pregões d’outrora,

a alegria e a bazófia comunicativa dos lisboetas!

Fico-me pela Amadora, onde ainda é possível

falar com quem passa, beber um copo e petiscar

em dezenas de casas abertas, num clima de liberdade,

com conhecidos e desconhecidos e ainda se podem fazer amigos.

Na Amadora, não passa o Tejo, o que faz toda a diferença,

mas há a Ribeira da Falagueira, onde nos podemos deliciar

com o verde das margens e a flora dos parques e em cada canto

da cidade, há artistas que nela habitam, mas que poucos os conhecem!

Ah! Quando na Amadora houver, galerias, alfarrabistas,

música a rodos, publicações e editoras locais, festivais de gastronomia, o que será de Lisboa? Por agora só há muita gente boa na nossa Amadora!

Jorge C. Chora

12/01/2022

domingo, 9 de janeiro de 2022

LUA-SOL

 Não sou

nem sol nem lua,

ao contrário de ti,

meu amor,

à noite lua

e sol de dia,

uma Lua-Sol

no dia a dia.

Em certas ocasiões

invertes a situação,

brilhas à noite como o sol

e seduzes de dia como a lua.

 

     Jorge C. Chora

       9/01/2022

 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A CANETA AMUADA


A minha caneta anda tão amuada que há muito se escondeu. Não sei bem o que se passou, mas acho que tenho uma ideia.

Foi uma trabalhadora incansável: trabalhava de manhã, à tarde e à noite.

Escrevia a preto, pois recusava a tinta vermelha por achá-la penalizante. Já bastava assinalar os erros, ter de colocar os dedos na ferida para depois serem trabalhados e superados, sendo desnecessário agigantá-los a tinta vermelha. Escrevia também relatórios, avaliações, mensagens, recados e histórias.

E de repente, com a minha aposentadoria, passou unicamente a escrever crónicas, pequenas histórias e poesia. A intensidade de trabalho diminuiu, mas não desapareceu, embora a caneta se tivesse ressentido com a redução das tarefas. Com o tempo viu-se um tanto ou quanto marginalizada pelo computador. O inimigo foi ficando cada vez mais forte e ela, coitada, a ruborizar-se, a enfurecer-se, a pensar escapulir. Aguentou as ofensas até onde pode, exatamente até à maldita pandemia. Era usada fora de casa, nomeadamente nos cafés e com a epidemia, as idas a esses espaços reduziram-se ao mínimo. Sentiu-se mal, bastante mal, por deixar quase de ser utilizada. Um dia, sem eu perceber, resolveu alforriar-se sem que eu lhe tivesse passado a respetiva carta.

São muitos os dias em que me lembro dela, embora o computador, que a despreza, me segrede amiúde:

- Deixa-a em paz! Ela tem direito à reforma!

Estou em crer que ela se tenha cansado de semelhante protagonismo e irreverência, e se tenha escondido. Já me fartei de chamá-la, mas até hoje, ainda não se dignou a responder-me. Sinto de novo a sua falta, pois com abertura dos cafés, necessito dela para escrever nos guardanapos e tenho de o fazer com uma companheira sua, mas não é a mesma coisa.

Resta-me a saudade de uma velha companheira que acabou por me ser infiel!

Jorge C. Chora

5/o1/2022

sábado, 1 de janeiro de 2022

A MEIA SOLTEIRA


Ia lavar as meias,

o vento soprou,

uma meia suja voou,

a outra, sem par, ficou solteira,

só, sem eira nem beira.

Quem a achou,

se a não lavou,

e nunca a cheirou,

quando o fizer,

ou gosta de chulé

ou dá-lhe um pontapé,

e ela deixa de ser solteira,

volta a ter par, é lavada

e torna a ser calçada.

 

Jorge C. Chora

1/1/2022