sábado, 25 de abril de 2015

25 DE ABRIL


Numa primavera
já longínqua,
escutou-se um grito
que rompeu o medo,
rasgou horizontes
e criou a esperança:
Viva a liberdade!
Tudo isso floresceu,
adubado pela alegria de um povo,
que fez do cravo o símbolo
dos seus anseios,
e que hoje, depois de tantas desilusões,
ainda quer acreditar, que em democracia,
é sempre possível defender
e viver em liberdade!


Jorge C. Chora

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A DANÇA DO APERTA-APERTA


O meu cinto já teve três furos,
e passou a  ter cinco,
dois atrás e  três à frente.
Com o tempo fizeram-lhe
mais três e deixaram os outros cinco,
que ficaram de novo à frente,
e no total somaram oito!
Mal vai esta dança do aperta -aperta,
oxalá não sejam precisos mais,
porque quando as promessas
do alarga -alarga se concretizarem,
oito furos avançar, dará direito
a morrer de uma barrigada!
Enquanto isto não acontece,
cantemos, mão na mão, esta canção:
Ora aperta ora alarga,
é uma canção engraçada,
da quql só conhecemos o sentido
do aperta-aperta, dois passos para trás,
mais outro e ainda outro,
e quando dermos por nós,
no palco só estarão os que sempre dançaram
o alarga-alarga,  todos os anos,
no princípio, no meio ou no fim,
com prémios mensais, quinzenais,
semanais e, quiçá, também diários,
pelo q’outros fizeram e eles aproveitaram.


Jorge C. Chora.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

EM TODA A PARTE TE VEJO!



Vejo-te em todos
os lados:
não há canto,recanto,
cidade ou local
onde te não veja,
pois,  em todos os lados  sinto
a tua presença, meu amor.
Nenhum lugar me é estranho, pois,
em todos te vejo,
mesmo  que  nunca lá tenhas estado,
ou venhas a estar.
Por isso, meu amor,
nenhuma  terra me estranha,
porque todas têm um pouco de ti.


Jorge C. Chora

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A CAIXA DE CHOCOLATES

                                                                                                             
Nunca recebera nada de ninguém, excepto da sua própria família. Surpreendeu-se quando o vizinho lhe trouxe uma grande caixa de chocolates. Primeiro recusou. Perante a insistência, não teve outro remédio senão aceitar, mas quis saber o motivo da oferta:

-A que se deve o presente?

-Olhe…eu não gosto de chocolate…preciso de saber se ele é bom ou não, para aproveitar uma promoção para os meus filhos. É uma surpresa…

Agradeceu a oferta e comprometeu-se a dar-lhe, no dia seguinte, o seu parecer. Só estranhou o facto do outro não ter filhos e ter falado neles.

Na manhã seguinte, ainda não eram 9h, quando lhe bateram à porta. Era o vizinho que lhe ofertara os chocolates.

-Então os chocolates estavam bons? Desculpe…queria perguntar se eram bons!

O homem que os tinha provado e passara a noite com dores de barriga e na casa de banho, percebeu que tinha servido de cobaia. Julgara que a indisposição se devera ao marisco que comera. Agora tinha a certeza de que o marisco não tivera culpa nenhuma. Sorriu ao vizinho e disse-lhe:

-Pode comê-los à vontade. Estão óptimos e são muito saborosos.

Um dia depois, no café, contou a dois moradores o que se passara com os chocolates que o vizinho lhe dera .Os moradores riram-se e contaram-lhe que ele tinha por hábito fazer isso quando não sabia se os produtos estavam bons. Dava-os a provar a alguém e só depois de se certificar que ninguém morrera e estava tudo bem, é que os consumia.

Uma hora depois da conversa, entrou o senhor das ofertas. Vinha esbranquiçado, enfraquecido, mal podendo andar.

-O que se passa consigo? - perguntaram-lhe os presentes.

Virou-se para a cobaia, muitíssimo aborrecido, e murmurou:

-O senhor tem intestinos de aço! Comi as outras caixas que tinha em casa e só não morri por acaso! Nunca mais lhe dou a provar seja o que for!

-Tem graça, não senti nada… mas mesmo nada! - respondeu-lhe - contendo o riso e as dores de barriga que o piolhoso lhe pregara.

 Jorge C. Chora




terça-feira, 14 de abril de 2015

OS SEGREDOS INCONFESSÁVEIS DE "SUA ALTEZA"

                                                                                       

Felisbelo, conhecido como”Sua Alteza” tinha segredos inconfessáveis. Havia quem garantisse que eram idênticos aos de Berto, “Sua Majestade”, como era chamado seu pai. Que fique desde já esclarecido que os títulos nobiliárquicos não se referem a reis e príncipes de casas reais, mas tão só a alcunhas dadas a ricos com tiques que o imaginário colectivo atribui comummente às ditas casas: vícios caros e falta de vergonha hereditária.

“Sua Alteza”, era apaixonado por jogos aromáticos e gastronomia.” Brincadeiras aromatizadas” era como “Sua Alteza” designava os seus jogos preferidos. Em que consistiam os referidos jogos? Depois de muito coscuvilhar, descobriram os amigos, através de conhecidas, que tinham sido convidadas a participar nesses jogos, de que se tratavam de brincadeiras eróticas.

Com a curiosidade aguçada, bem se esforçaram por esmiuçar em que consistiam, de facto, semelhantes jogos. Assaz surpresos ficaram, quando todas elas disseram que tinham assinado termos de confidencialidade que as impediam de revelar o que se passara na mansão.

Um belo dia, alguém que se dava muito bem com uma das convidadas, conseguiu apurar que ela fora chamada por um amigo de Felisbelo para uma lauta refeição, antes do encontro com o dito. O único pedido que lhe tinha sido feito era que memorizasse, de modo cuidado, tudo aquilo que fosse comendo. O seu anfitrião teria ocasião de adivinhar, tintim por tintim, o que comera.

Adquirida esta informação, nada mais transpirou. Os jogos continuaram no mais profundo segredo.
Marinela, a da boa-vai-ela, alérgica ao bom comportamento e amante de festas, chamou a atenção ao folgazão, que logo encarregou o usual intermediário de a convidar. Aceitou o dinheiro da refeição mas comeu o que era usual, guardando a grossa maquia que recebera.

Quando o anfitrião a despiu, anunciou-lhe que iria descobrir, sem ela lhe dizer, tudo o que ela comera ao jantar. Colocou o seu nariz empinado entre as suas nádegas e apertou-lhe o ventre. Marinela fez o que todas as outras costumavam fazer: descuidou-se.
 Alteza deu um grito pavoroso:

-Coitado de mim que me matam! O que comeste sereia ?

E Marinela, assustada, confessou:

-O que o povo come! Couves e peixe ressequido!

Conta-se que a “Alteza” ficou com o olfacto de tal maneira ofendido que nunca mais ninguém ouviu falar nos seus jogos aromatizados.

Caros leitores, caso se cruzem com alguém, cuja cara e nariz empinado, revele que tudo lhe parece cheirar mal, coloque a hipótese de se poder tratar dum discípulo de “Sua Alteza” ou, quiçá, de” Sua Alteza” em pessoa.

Jorge C. Chora




sábado, 4 de abril de 2015

O ASSOBIO

Entrou na rua e ouviu um assobio de galanteio arrepiante: fiuuu….fiuuu. Pelo canto do olho procurou identificar o autor do assobio. Não o viu, mas achou estranho o facto.

Fadagosa, assim se chamava a moça, era dotada de uma inteligência viva e de uma bondade natural apreciada por todos os amigos. Em contrapartida, não devia nada à beleza e sabia-o bem.

O assobio repetiu-se bem claro e audível: fiuu…fiuu. De modo inconsciente, o seu andar tornou-se mais feminino . Quem lhe diria minutos antes, que acharia graça  àquela apreciação,  um tanto ou quanto fora de tempo.

Tornou a perscrutar em redor mas, sem sucesso. No dia seguinte, voltou ao local e tornou a ouvir o assobio de galanteio. Parou e olhou, determinada em descobrir quem lhe assobiava assim.

No 2º andar do prédio, mesmo à sua frente, viu um homem enorme, ainda jovem e iria jurar que era ele que assobiava. Esperou um bocado e desfez qualquer dúvida. O jovem tinha atrás de si um papagaio e era ele que produzia os assobios de galanteio.

Especada no meio do passeio, Fadagosa despertou-lhe a atenção. Da varanda, passado um bocado, o jovem chamou-a:

-Fadagosa? És tu Fadagosa? Espera que vou Já ter contigo!

Ela abriu os olhos, descrente no que via. Tinha à sua frente o Simão, a sua paixão de infância, de quem perdera o contacto quando ele emigrara com os seus pais.

Simão levantou a gigante Fadagosa ao colo e beijou-a apaixonadamente. Fadagosa apertou-o tanto, mas tanto, que o teria sufocado se ele não fosse, tal como ela, um gigante.

Subiram  apressados ao 2º andar e amaram-se de tal modo, que o papagaio incorporou na sua fala uma nova frase:

-Meu amor, nunca mais te deixo, nem que o mundo acabe!

E cada vez que o papagaio pronunciava esta frase mágica, Fadagosa beijava-o e ele fechava os olhos e imaginava que estava a ser apaparicado pela bela vizinha do 1º andar.

Jorge C. Chora