quarta-feira, 24 de abril de 2024

A LIBERDADE

 

 

A liberdade é

 um chapéu

de três bicos.

Tanto cobre

quem a ama,

como quem a detesta

e ainda de quem

acha que tanto fez

como tanto faz.

Esqueceram-se

de que é ela que

garante esta posição

de se ser contra, a favor,

ou dizer que tanto faz

 como tanto fez.

Esqueceram-se

dos tempos sem pio,

do falar em surdina,

do calar as injustiças

ou de ir parar à António Maria Cardoso,

onde mesmo à revelia,

sob tortura, se dizia aos berros,

aos amantes da falta de liberdade,

o que eles queriam e defendiam.

A liberdade é demasiado preciosa,

para acobertar vilanias,

venham elas de onde vierem.

         Jorge C. Chora

             24/4/2024

AMAR É

 

 AMAR

Amar é:

Julgar vê-la em todo o lado;

estranhar cada minuto da sua ausência;

pegar-lhe na mão como no jardim-escola;

querer levá-la ao colo, mesmo sem poder;

querer beijá-la a toda a hora e sentir o seu calor;

achar estarem invisíveis no meio de uma multidão;

apertá-la e fundirem-se numa só pessoa;

ficar sem palavras na sua presença;

concordar com tudo o que diz, sem nada ter ouvido;

ficar hipnotizado com o mexer dos seus lábios;

cheirá-la e sentir o aroma de Chanel;

ficar mais burro do que na realidade é.                                                     

Um estado d’alma divino, uma embriaguez,

um Bolero de Ravel.

 

                 Jorge C. Chora

                   24/4/2024

 

domingo, 21 de abril de 2024

A ÁRVORE DAS PATACAS

 Num país onde escasseiam

poetas, artistas e professores,

murcham as flores,

mas florescem pançudos,

colhendo patacas

nos seus quintais.

Elas são adubadas pelas dores

de muitos servidores,

tão mais intensas

quantas mais patacas

exigem os senhores,

à revelia da decência e das leis.

     Jorge C. Chora

       21/4/2023

terça-feira, 16 de abril de 2024

SOB O SIGNO DA MAÇÃ CAMOESA

 

Acordei com o aroma

e o sabor da maçã camoesa

a pairar no ar e na minha cabeça.

Era na tua adega, com o perfume a camoesa,

que te pegava ao colo,

te beijava dos pés à cabeça,

e aos teus ouvidos murmurava:

-Adoro provar-te com este tempero a maçã.

Deitada que hoje estás a meu lado,

sei que hoje será dia sim,

pois já vens dotada do sabor a maçã camoesa.

Jorge C. Chora

16/4/2024

domingo, 14 de abril de 2024

NO METRO

 

Na hora de ponta,

entre os passageiros

ensanduichados,

há uma alegre cara

de lua cheia,

de olhos vivos

e de lábios sorridentes,

a desejar-nos bom dia.

Está rodeada de gente cansada,

de caras fechadas,

já esquecidos dos sonhos de abril

e de outrora terem sido jovens.

Oxalá o futuro desta mulher-menina,

com cara de lua cheia,

tenha motivos para que

os seus olhos possam continuar a sorrir,

e a desejar-nos bom dia, com renovada alegria.

 

Jorge C. Chora

14/4/2024

sexta-feira, 12 de abril de 2024

MARIE E AS AMIGAS


 

Marie era filha de uma senhora belga e de um rico comerciante português. Rondava os 19 anos e era a perdição dos moços da Vila de Finca Pé.

Quando as férias se aproximavam, ela e as amigas vinham de férias para o casarão dos seus pais na dita vila.

Elas passavam os dias na piscina, petiscando, bebendo, mergulhando e secando-se ao sol, tal como tinham vindo ao mundo.

A rapaziada entrava em polvorosa. A casa localizava-se numa colina e a encosta, permitia uma visão daquele espaço, a partir de um pequeno alto, sem que elas suspeitassem.

O alto era disputado a murro e a pontapé, mas ninguém abria o bico

para não denunciarem a sua presença.

Uma empregada da casa conhecia-os bem. Sabia o nome de todos e do Arnaldo, o mais velho, que ela cobiçava, mas sem sucesso.

Marie um belo dia topou-os. Pediu à Emília que os chamasse, um por um, pelos seus nomes, incluindo aquele de que ela gostava.

Encavacados, apresentaram-se à porta. Marie recebeu-os e disse-lhes:

-  Convido-os a entrarem e a estarem connosco, mas despidos, tal como nós estamos e vocês sabem. Podem mudar-se no anexo e deixarem lá a roupa.

Dito e feito. Saíram todos nus e ouviram a porta do anexo a fechar-se.

Procuraram o acesso à piscina, mas não o encontraram. A única porta aberta dava para a rua.

Emília, à socapa puxou pelo braço de Arnaldo e introduziu-o em casa.

Os restantes, ao darem pela sua falta, apavorados, fugiram tal como estavam.

 

Marie pediu à Emília que lhes dissesse que tinham de ir para o alto onde estavam e ela levar-lhes-ia a roupa. Quando ela se preparava para executar o pedido, Marie disse-lhe que se conseguisse escolher quatro entre eles, seriam bem-vindos…

Aflitos, logo que ela lhes trouxe o vestuário, perguntaram-lhe pelo Arnaldo e a resposta de Emília foi rápida e incisiva:

- Arnaldo está muito bem onde está!

Após uma observação cuidada de todos, não conseguiu inclinar-se para nenhum e resolveu dizer-lhes:

- Só os que vão à missa podem entrar, mas como nenhum vai, nada feito.

O padre ainda hoje não consegue explicar o súbito interesse da rapaziada, nas missas dominicais.

 

          Jorge C. Chora

           12/4/2024

domingo, 7 de abril de 2024

DEUS AMA AS MULHERES

 

Se Deus ama as mulheres, os homens também as amam. Mais, são as prediletas do Senhor e dos homens também.

A única diferença é que o Senhor as entende e os homens amam-nas, sem geralmente as entenderem.

Alguns querem assemelhar-se ao Divino, mas Ele na sua infinita sabedoria, falou e disse:

- É melhor assim, pois é uma garantia de que continuam a adorá-las.

E por uma questão de amor e de fé, continuamos a amá-las sem as decifrarmos, embora finjamos consegui-lo!

Ps. Se disserem que eu disse isto, nego terminantemente alguma vez tê-lo dito.

Jorge C. Chora

 7/4/2024

sábado, 6 de abril de 2024

ROSA SEM ESPINHOS

 

Não é invulgar, ao passares,

ver pessoas boquiabertas,

e de olhos alertas,

não vá o vento levar-te,

a ti e ao teu sorriso

e ser preciso segurar-te.

És a flor desejada,

para quem tem ou não jardim,

tal a delicadeza de uma rosa sem espinhos,

poiso de besouros e de abelhas benfazejas,

por puro amor à beleza,

receosos de que o vento te leve,

e os prives do teu amado sorriso.

 

           Jorge C. Chora

                6/4/2024

quarta-feira, 3 de abril de 2024

A UMA DEUSA DOURADA

 


Ó deusa dourada,

de rabo e seios

de um branco imaculado,

de alourados pelos do púbis,

adornando as asas

da tua libelinha intocada,

só levemente acariciada

pelos teus dedos sedosos,

e teus murmúrios prazerosos,

desejo-te os bons dias e uma longa vida.

Uma vida tão longa,

quanto a que para mim desejo,

enquanto tiveres o rabo e os seios,

de uma brancura imaculadas,

uma libelinha intocada

e fores uma deusa dourada!

       Jorge C. Chora

         3/4/2024

segunda-feira, 1 de abril de 2024

ENGANO


Tenho saudades do tempo,

em que mal me vias,

com o teu olhar me despias,

e ambos tremíamos, à espera

do entrelaçar dos nossos corpos.

Recentemente, olhaste-me

e enchi-me de esperança,

até perceber, atrás de mim,

a presença de alguém,

mais importantes do que nós:

os netos.

Ai as saudades daquele tempo,

quando o teu olhar me despia,

e eu o teu desejo sentia,

e nem enganos havia!

   Jorge C. Chora

      1/4/2024

 

sexta-feira, 29 de março de 2024

NINGUÉM ACREDITA

 Quando do céu

em vez de beijos

e afagos,

caem sobre as

crianças, sentenças

de morte, embrulhadas

em balas e bombas.

Descrê a humanidade

da sanidade e da bondade

dessa gentalha, a quem é permitido

respirar o ar dos humanos,

tamanha é a maldade,

e a impunidade com que o fazem

e a crença de que não serão castigados!

     Jorge C. Chora

      29/3/2024

quinta-feira, 28 de março de 2024

A MULHER PIMENTA

 

 

Ela é como a pimenta,

pois não há quem de perto

a cheire e não espirre.

Sendo a pimenta,

um ingrediente importante,

temperando cada prato,

equilibrando o sabor,

mas quando se exagera,

 ou nos faz espirrar ou ficar a arder.

Quanto a mim, prefiro a hortelã-pimenta.

      Jorge C. Chora

           28/3/2024

terça-feira, 26 de março de 2024

A MENINA VOADORA

 

 Ouviu dizer,

a quem de outros,

também tinha ouvido

e por sua vez,

de um desconhecido,

tinha escutado,

aquilo que acabara de saber:

Uma menina voara numa rua da localidade!

Averiguado o caso,

concluíra-se da pouca veracidade do acontecido,

pois quem tinha voado fora uma galinha,

que fugira do colo de uma menina.

Em breve circulou uma nova versão,

e após ter sido contada e recontada,

assim foi fixada:

uma menina voara às costas de uma galinha!

            Jorge C. Chora

             26/3/2024

domingo, 24 de março de 2024

ADEUS, TRISTEZA

 

Sacode a tristeza

dos teus ombros,

dá-lhe um pontapé,

envia-a para longe.

Vai buscar o teu bombo,

harmónica ou o bandolim,

saia à rua e canta,

com convicção e alegria,

o belo samba, do velho Martinho:

“Canta, canta minha gente,

deixa a tristeza para lá…”

e dá um bom dia, com energia

e muita alegria, ao novo dia.

E não deixes que a tristeza

se aposse outra vez de ti!

       Jorge C. Chora

        24/3/ 22024


sexta-feira, 22 de março de 2024

OS PEDIDOS DA PRAXE

 

Três são os desejos

por todos ansiados,

mas raramente alcançados.

Dinheiro, saúde e amor,

por esta ordem anunciados,

preterindo o amor

em benefício do dinheiro e da saúde,

dá sempre para o azar.

Invertendo a ordem de prioridades,

querendo em primeiro o amor,

mesmo tendo pouco dinheiro

e só alguma saúde, garante

que ama e é amado, amparado

na saúde e sabe não ser por dinheiro.

           Jorge C. Chora

            22/3/2024

quarta-feira, 20 de março de 2024

O GRANDE CONSTRUTOR


 Faz e desfaz,

sem pensar no que faz,

pelo simples prazer em desfazer,

sem saber o que faz,

fingindo saber fazer,

sem nunca nada ter feito,

mas tudo ter desfeito.

Se desfazer fosse obra feita,

outra muralha da china teria sido feita,

ainda maior e mais perfeita.

 

Jorge C. Chora

2024

sábado, 16 de março de 2024

NOITES DE BREU

 


Quando o sol a custo se levanta

e a lua se esconde,

aos dias de chumbo sucedem-lhes

as noites de breu,

propícias aos tiranos e genocidas.

E por mais que se grite,

se batam os pés pela liberdade,

pouco ou nada se consegue,

porque meia dúzia de celerados,

em uníssono gritam:

-Vão morrer longe seus desgraçados.

Mas nem por isso os que gritam por liberdade,

aceitam morrer calados.

       Jorge C. Chora

        16/3/2024

 


sábado, 9 de março de 2024

SE O VENTO PENSASSE


 

Ó vento que tudo levas

e tudo trazes,

sem esperar por ninguém,

mesmo sendo alguém.

Se pudesses pensar,

como seria bom,

ver-te evitar trazer a desgraça,

destruir casas e povoados,

espevitar labaredas e agravar incêndios.

Serias a brisa amena dos verões escaldantes,

o levanta saias das mulheres belas e não só,

o move pás das torres eólicas,

o semeador de sementes e auxiliar da polinização,

o leve empurrão juntando namorados,

o vento de feição para a navegação,

o traz aromas dos sítios perfumados!

Infelizmente, és só o ar em movimento,

um despreocupado, uma vez louvado

e outras, muitas outras, amaldiçoado,

sem qualquer culpa de ser malquisto ou abençoado.

           Jorge C. Chora

           9/3/ 2024

 

quarta-feira, 6 de março de 2024

CANTADA GORADA

 

Se alguém se abeira de ti

e diz ter saudades tuas,

quer conversa fiada,

dar-te uma cantada,

pregar-te uma partida.

-Se eu não o conheço,

como pode ter saudades?

- Antecipo as saudades

que terei quando te conhecer!

- Então poupá-lo-ei, pois não

desejo que sofra por antecipação!

        Jorge C. Chora

          6/3/2024

domingo, 3 de março de 2024

AMOR E PAIXÃO

 

O amor e a paixão,

casaram-se ao luar.

Uma chuva de ais,

abençoou esta união,

de longa duração,

de dia ou de noite,

de inverno ou de verão,

sem hora nem saturação.

Em dias de lua cheia,

são noites e madrugadas,

entrelaçados até mais não,

amando-se até caírem de exaustão!

        Jorge C. Chora

            3/2/2024


quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

QUEIXUMES

 

      

No antigo reino das tascas,

das petingas, do tinto e das pataniscas,

todos as podiam frequentar.

Hoje, só os cortesãos, com as bolsas

de euros forradas, lá podem petiscar.

O tinto só não é servido em dedais,

porque não calha:

as petingas são grandes carapaus

ao preço da lagosta;

as pataniscas, coitadas, competem,

em tamanho, com o dedo mindinho,

mas ao preço do leitão real e do bacalhau.

Assim sendo, é melhor não os cheirar,

quanto mais comê-los!

 

         Jorge C. Chora

            29/2/ 2024

sábado, 24 de fevereiro de 2024

OLHARES

 


Trocaram olhares

de modo furtivo,

fingindo ser por acaso,

mas a eles ficaram presos,

ainda que se tivessem esforçado,

para deles se libertarem.

Sem chaves nem gazuas,

passaram a ser um do outro

e não há quem possa desfazer o nó,

ao laço dado por um simples olhar.

            Jorge C. Chora

               24/2/2024

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

A BELA SOFIA

 


É vaidosa e exuberante,

pavoneia-a entre as outras,

exibindo o belo peito,

e de vez em quando saltita.

Delicadamente debica,

os manjares que aprecia.

As longas e firmes pernas,

permitem-lhe firmar-se

numa só, deixando-se

observar, provocando a inveja

das suas iguais, mas menos afortunadas,

no que diz respeito às pernas nuas,

despidas de artifícios e meias de nylon.

Detesta as refeições, a que não faltam colegas suas,

sejam elas grandes ou pequenas,

por isso lhe chamam a sortuda Sofia

que todos os dias cacareja,

agradecendo à sua boa estrela,

o facto de ainda não ter acabado na panela.

              Jorge C. Chora

                  20/02/024

domingo, 18 de fevereiro de 2024

À TOA NA AVENIDA

 

 

Nunca se sabe se vai ou se vem,

para onde foi ou d’onde veio,

quando anda à toa na avenida,

procurando alguém em seu redor,

 com quem conversar,

seja homem ou mulher, novo ou velho,

sábio ou menos sabedor.

E eis que vislumbra um jovem casal,

despertando-lhe a esperança de uma boa conversa.

Sorri-lhes, num agradecimento antecipado,

pelos momentos ansiosamente esperados.

O seu intento depressa vê gorado,

quando ela lhe comunica quanto cobra

 pelos seus serviços, enumerando-os de rajada.

Boquiaberto ouve o homem dizer à mulher,

que ele está mais interessado nele do que nela,

anunciando quanto leva pelos seus préstimos.

Já não se pode andar à toa na avenida,

para se estar só sentado e desejar falar!

                Jorge C. Chora

                   18/2/ 2018

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

DORMIR SÓ

 

Não gostava de dormir só

e à medida que a noite passava,

ainda mais lhe doía a solidão.

Sonhou com um tapete voador,

para mais depressa conseguir

chegar à sua amada e adormecer

nos seus braços, aconchegado

nos seus seios, com ela sussurrando

nos seus ouvidos, o amor por ele sentido.

Hoje, ao acordar, achou ter recebido

o sonhado tapete voador e iria nessa noite,

acabar de vez com o tormento de dormir só.

           Jorge C. Chora

            16/02/2024

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

NO TEMPO DAS MÃOS DADAS


 

NO TEMPO DAS MÃOS DADAS

No tempo das mãos dadas,

sorria para a minha namorada,

com a sua cara para mim virada,

descansando na praia estendida,

espreitando, sempre que podia,

os seus belos e brancos seios,

até ela os esconder como podia,

sempre que disso se apercebia.

Deixava que a sua mão lhe beijasse

e os seus lábios ao de leve lhos tocasse

e tudo o resto, só de pensar, era demais.

Aí o tempo das mãos dadas,

e os beijos na mão ainda não passaram,

embora hoje, passadas tantas décadas,

ainda lhe espreite os seios e os possa beijar,

tudo com conta, peso e medida para não perder o desejo.

Sabida a minha eterna namorada,

ainda do tempo das mãos dadas.

          Jorge C. Chora

             14/02/2024

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

OS SABORES DOS BEIJOS DA MINHA AMADA

 

De todos os sabores,

por mim conhecidos,

desconheço sequer um,

com o sabor dos beijos,

da minha namorada.

Um dia sabem a morangos,

no outro, a amoras silvestres,

a seguir a maçã camoesa,

e no seguinte a romã,

e naqueles dias especiais,

em vez de azedos, a doce lima,

e agora passado esse período,

sabem a mel de rosmaninho.

       Jorge C. Chora

        13/o2/2o24

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

O MEU DESPERTAR

 

Sonhei e acordei a pensar em ti.

Colhi   uma rosa no meu jardim,

e um beijo recebi, mal t’a ofereci.

Beijaste-a e ofereceste-a a mim,

convidando-me a deitar ao pé de ti.

Agora sempre que sonho contigo,

corro ao meu jardim, colho uma flor

e espero pelo teu convite para comigo

te deitares, ao veres as flores que te ofereci.

Como sonho e acordo sempre a pensar em ti,

corro o risco de acabar com as flores do meu jardim,

mas já vi que elas abundam no jardim do meu vizinho,

e quando ele por der por isso, já terei de novo as mais

belas e aromáticas flores que me asseguram o paraíso.

                     Jorge C. Chora

                    12/02/2024

 

sábado, 10 de fevereiro de 2024

SENHORA DO DESEJO

 

Ó senhora do desejo,

quantos dos teus,

 também são meus,

junta os teus aos meus

e passarão a ser nossos,

quando sonhas:

amar e ser amada;

cuidar e ser cuidada;

possuir e ser possuída;

dar e receber na proporção devida.

Faz de mim o teu colchão,

Ó senhora do meu desejo!

   Jorge C. Chora

     19/2/2024

O NAMORO

 

O namoro não tem data, nem prazo de validade: é um nunca acabar de gostar e pode durar a vida inteira ou começar e acabar, quando se deixa de gostar.

Jorge C. Chora

10/2/2024

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

BILLIE

 

Após ter ficado paraplégico, Richard, um americano de origem palestiniana, resolveu retornar à terra de origem dos antepassados.

Acolheu-se em casa de uns primos ricos, única família que lhe restava, depois de ter perdido os seus familiares num acidente automóvel. Passava o dia numa minúscula varanda, que dava para uma pequena praça.

Entretinha-se vendo a miudagem local a jogar futebol e a comemorar, efusivamente, as fintas e os golos que iam marcando.

Diariamente por lá passava uma jovem, professora de inglês numa escola próxima, que por acaso era amiga da sua família, por ter tido um aluno que era neto dos seus primos.

Com ela partilhava o interesse por alguns escritores e pela música e por se entenderem em inglês.

Billie, assim se chamava a jovem, passava todos os dias pela praça a caminho da escola, exibindo um sorriso e não se coibia de dar uns chutos e fazer umas fintas. Alguns dos miúdos eram seus alunos.

Richard, na sua cadeira de rodas, instalado na varanda, acenava-lhe todos os dias, sempre que a via e ela retribuía-lhe os acenos.

Bom observador, Richard, reparou no sorriso cada dia mais feliz de Billie e nos seus passos, cada vez mais cautelosos. Ela casara-se com um colega, no ano anterior.

À medida que o tempo ia passando e a barriga lhe crescia, Richard, por sinais, apontando a sua barriga e mostrando-lhe os dedos, ficou a saber que ela ia ter nem mais nem menos do que trigémeos.

Bom, pensou Richard, segundo ficara a saber, o marido de Billie era filho de um financeiro e o futuro dos filhos estava assegurado.

Já quase no final do tempo, ela caminhava com dificuldade, tão grande era a sua barriga, em relação ao seu pequeno tamanho.

Naquele dia o sol brilhava e Richard, na sua varanda, esperava que Billie passasse, para lhe acenar e perguntar por gestos, levantando o polegar, como estava naquele dia. Escutava nos seus auscultadores o Hallelujah de Leonard Coehn, quando a terra tremeu e viu Billie desfeita e também os gaiatos que jogavam à bola, em pedaços.

Segundos depois, quando na música se repetia duas vezes o Halleluja, outra bomba caída do céu, matou -o  a si e à sua restante família.

Estava-se ainda no início da guerra.

Jorge C. Chora

   7/1/2024

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

MARÉ CHEIA


A maré está cheia,

não há areal onde

te possas secar

e dourar ao sol.

Mas não faz mal,

o calor que emanas,

chega para te secar,

e dourar o mundo.

Jorge C. Chora

   5/1/2024

domingo, 4 de fevereiro de 2024

NOITE E DIA


Já cansada de dormir,

abre a noite os olhos

e nasce o dia, dando-se

reciprocamente um bom dia.

Alumia-se o mundo,

acordam as famílias, os amantes

e os namorados.

Inicia-se a longa jornada,

de trabalho e de estudo,

até as pestanas se fecharem,

de cansaço, ao fim do dia,

e a noite surgir de novo,

a dar início ao descanso

e ao começo da vida noturna.

Abrem-se os teatros, os concertos

e as diversas artes, porque a vida

não pára por ser noite ou de dia.

Se não houvesse vidas infames,

a chacinar crianças, mulheres e velhos,

à bomba, à fome e à sede,

à noite, suceder-lhe-ia o dia,

de um modo natural e humano.

        Jorge C. Chora

           4/1/2024

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

O VINHO II

 

Se tu és bom cristão,

dentro e fora da refeição,

ao vinho não se diz não,

os padres dão-lhe a bênção

e não lhe acham senão!

      Jorge C. Chora

      31/1/ 2024

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

QUEM ESPERA DESESPERA

 

Conheces o meu sentir,

mas finges não perceber.

Do alto da tua torre,

não dás sinal de descer

ou de me deixares subir.

Se persistires em ignorar-me,

não te pedirei que desças,

nem te implorarei para

lançares as tuas tranças,

tal como Rapunzel,

até porque, não estás prisioneira,

e nada te impede de me deixares subir.

Simplesmente darei o meu amor,

quiçá, a uma menos bela, mas mais

sensível e menos fingida do que tu.

 

         Jorge C. Chora

           30/1/2024

domingo, 28 de janeiro de 2024

O VINHO

 

Triste é o vinho

que não alegra

quem o bebe:

é um impostor,

com mau cheiro

e péssimo sabor,

quiçá,

um imposto sem retorno,

uma serenata sem música

e sem cantor.

 

Jorge C. Chora

sábado, 27 de janeiro de 2024

ESTRANHAS SAUDADES

 

ESTRANHAS SAUDADES

Nunca tive saudades assim,

por não saber se ficas, se partes.

Ainda não chegaste e já as tenho,

mesmo ao acabar de te ver,

sem saber se ficas, se partes.

Bailam em mim estranhas saudades,

e só agora percebi, ser o medo

que partas e deixe de te ver,

deixando-me a saúde a bailar,

por nunca saber se ficas, se partes.

        Jorge C. Chora

          27/1/2024

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

É OU NÃO É

 

É OU NÃO É?

 

Quem vê e não crê,

ou é cego,

ou não quer ver!

 

Jorge C. Chora

25/1/2024

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

OS COMBOIOS DA LINHA DE SINTRA E A ESTAÇÃO DA AMADORA

 

Já lhe chamaram o dr. Sintra, tantos foram aqueles que morreram na linha, quando as passadeiras dos peões cruzavam os carris.

Uns por mera distração, outros por suicídio, mas houve também quem ficasse sem braços e sem pernas, enquanto trepavam para cima dos comboios e caíam.

Na Amadora, às horas de ponta, os passageiros que apanhavam o comboio para Lisboa e vice-versa, iam pendurados em cachos, no exterior do comboio, agarrados aos apoios das entradas, segurando malas, sacos e saquinhos, rezando a todos os santinhos para chegarem sãos e salvos ao seu destino.

As dores de barriga eram muitas e em caso de aflição, ao chegarem à estação, podiam socorrer-se das casas de banho existentes à superfície, quando a estação ainda não era subterrânea ou mesmo depois, quando deixou de ser, pois também havia casas de banho a funcionar.

Atualmente, quando há greves e poucos comboios, repetem-se os cachos de passageiros pendurados às entradas e as dores de barriga, mas só há duas soluções ao chegarem à Amadora: ou fazem nas calças ou as arreiam e fazem no chão, porque as casas de banho estão fechadas!

O mais certo é saírem borrados!

Jorge C. Chora

24/1/2024

 

 

domingo, 21 de janeiro de 2024

LEONOR

 


Os vestidos de ar e vento,

são os únicos que lhe assentam,

se moldam ao corpo a contento,

todos os outros nada acrescentam.

Transportada numa carruagem real,

embora vestida de ar e vento,

ninguém dirá que a rainha vai nua

e todos aplaudem o vestido que ela traz

e tão bem realça a sua beleza.

 

      Jorge C. Chora

         21/172024

sábado, 20 de janeiro de 2024

AEROPORTO

 

 

Está de partida a bela Belinda,

já de saudades perdida,

ainda sem estar embarcada,

e sem sinal próximo da partida.

Beija-a a mamã, o papá e a titi,

lambuzam-na os amigos e a Mimi,

e, entretanto, ouve-se um aviso:

-O voo para Nova Iorque foi cancelado.

Repetem-se os beijos, adiam-se as saudades,

guardam-se as lágrimas para o dia da nova partida.

Regressam a casa, a Belinda, a mamã., o papá e a titi,

até que a companhia se digne avisar da nova partida.

Jorge C. Chora

20/1/2024

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

CERTOS EMIGRANTES,

 

Quando o viam,

nunca sabiam,

se estava de chegada

 ou de partida.

Trabalhava onde

mais trabalho existia,

fosse em que país fosse,

comendo o que havia,

das batatas às lentilhas.

Com a idade estabilizou,

ganhou dinheiro e cidadania

no país onde se fixou,

e até votou.

Um dia regressou a Portugal,

rico e tratado como doutor,

sem nunca o ter sido,

pois nem sequer o rabo,

em nenhuma universidade sentou.

A primeira coisa que disse,

esquecido de ter sido emigrante,

e ter comido o pão que

o diabo amassou, foi:

- Fora com os imigrantes!

      Jorge C. Chora

       16/1/2024

domingo, 14 de janeiro de 2024

QUERER E DESEJAR

Nem sempre se obtém

o que se quer ou se deseja.

Embora eu te queira e deseje,

não sei se me desejas,

ou não queres desejar-me

e desejas que eu te queira.

Seja como for, quero-te

 e desejo-te!

      Jorge C. Chora 

        14/1/2024

sábado, 13 de janeiro de 2024

OS TEUS SEIOS

 


São teus seios,

criação divina,

dignos de louvor.

Semelhantes às delicadas,

aromáticas e belas laranjas

dos pomares algarvios,

douradas e não crestadas,

sabendo a laranja-mel,

em tudo são dignas

de louvores diários e dominicais.

Tal como São Francisco,

num hino à criação

“Irmão Sol Irmã Lua”

louvou o Senhor,

eu três vezes repito:

Louvado sejas Senhor;

Louvado sejas Senhor;

Louvado sejas Senhor.

Jorge C. Chora

  !3/1/ 2023

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

SÃO SEMPRE ASSIM?

 

SÃO SEMPRE ASSIM?

 

Não reclamam,

enquanto aproveitam,

quando lhes tocam,

ui, o que se queixam!

 

Mais não queremos,

senão o que é nosso,

o vosso só queremos.

se for maior do que o nosso!

 

É mau cobiçar,

quando o vício é vosso,

se ele é nosso,

passa a ser desejar.

 

Mexericos, são os dos vizinhos,

os nossos são verdadeiros,

embora iguaizinhos:

o mesmo querem ambos,

parecerem melhores

do que na realidade eles são.

 

Quem tudo crítica,

mas nada faz,

tudo destrói,

nada constrói.

 

 

 

Jorge C. Chora

   9/1/2024