.Sentado à beira Tejo
uma gaivota via e
seguia,
sempre que podia,
quando do emprego saía.
Amiga de longa data,
com ela conversava,
a desabafar chegava,
e sabia que ela o ouvia.
Como ninguém o escutava,
falava alto, pois de nada servia,
falar e não ser escutado,
murmurar e não ser entendido.
Uma exceção abria,
quando ela se encostava
e a seu lado se ajeitava,
e aí, só murmurava.
Uma jovem marinheira
ao ver o que se passava,
pela curiosidade movida
às vezes, parava e escutava.
de seguida sentou-se,
ninguém a afastou
e por lá, quieta se deixou.
Quando o homem se levantou,
a marinheira a mão lhe deu,
ele não se importou e com ela ficou,
e a gaivota para o seu ombro saltou.
Todos os dias, à mesma hora,
o homem, a marinheira e a gaivota,
atravessam o Terreiro do Paço
e sentam à beira-rio a conversar.
JORGE C. CHORA
29/8/2022